No ano passado, quase 10% dos bebés nasceram antes do tempo. Risco de morte por nascer às 25 semanas é alto.
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No ano passado nasceram em Portugal 7050 bebés prematuros. Mais de 200 vieram cá para fora antes das 28 semanas e 310 saíram da barriga da mãe com menos de um quilo. É nestes casos que a probabilidade de não resistirem é maior. Quatro em cada 10 bebés que nasceram antes das 28 semanas morreram. As mães com mais de 40 anos são as que mais têm bebés antes do tempo.
Nascem antes das 37 semanas de gestação e com menos de 2500 gramas. Os bebés prematuros representam quase 10% do total de nascimentos, mas nem todos se tornam casos de sucesso. "Se olharmos para a mortalidade no primeiro ano de vida, mais de 50% acontece no primeiro mês", explica Joana Saldanha, presidente da Sociedade Portuguesa de Neonatologia, que diz que a maioria não resiste por ser prematuro. "Há bebés que nascem com 400 gramas. E por mais tecnologia que haja, têm complicações que não lhes permitem sobreviver", justifica.
Em 2017, o número de prematuros no país aumentou: mais 200 do que no ano anterior. Os bebés com menos de 28 semanas e menos de um quilo são os que menos resistem. "Se um bebé nascer abaixo dos 1000 gramas, tem 29% de probabilidade de morrer. Se nascer acima disso, já só tem 12%. É muito importante que consigamos evitar que nasçam abaixo do peso", diz. Uma das formas de o fazer é dar corticosteroides quando ainda estão no ventre da mãe.
Depois de nascerem, os riscos são mais que muitos. Infeções, baixa imunidade, hemorragias cerebrais ou problemas pulmonares graças à ventilação invasiva para os ajudar a respirar. Ainda assim, a tecnologia tem vindo a salvar muitos prematuros fora do útero.
"Hoje já nem ventilamos invasivamente bebés com 600 gramas, o que permite reduzir sequelas pulmonares. Os ventiladores são francamente melhores, os cuidados de nutrição, o tratamento de infeções também. Agora, conseguimos fazer sobreviver crianças com 25 semanas, quando há 20 anos não era possível", afirma a médica.
Apesar disso, metade dos bebés que nascem com 25 semanas não resistem. "A outra metade sobrevive mas pode ficar com sequelas significativas. E há outros que crescem perfeitamente funcionais".
Os fatores de risco
O maior número de nascimentos prematuros acontece em mães com mais de 40 anos. "Gravidezes em raparigas muito novas, de gémeos, mulheres fumadoras, hipertensas aumentam a hipótese de prematuridade", explica Joana Saldanha, que alerta para o adiamento da maternidade.
Nos últimos anos, o número de bebés prematuros em mães a partir dos 35 disparou, consequência disso mesmo. Só entre 2015 e 2016, registaram-se mais 200 prematuros em mães mais velhas e o número tem vindo a aumentar. "Está provado que se, em vez de ter o primeiro filho aos 28 anos, uma mulher o tiver aos 40, corre mais riscos. É uma condição que pode ser mudada", sublinha a presidente da Sociedade Portuguesa de Neonatologia.
"O ideal seria baixar as taxas de prematuridade, o que ao longo dos anos ainda não se conseguiu. Tentamos por todos os caminhos, mas vamos investindo cada vez mais nesta área", conclui Joana Saldanha.
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Falta pessoal e espaço
Em Portugal, há unidades neonatais suficientes para as necessidades, mas são muito pequenas. Falta espaço entre incubadoras para os pais poderem estar; faltam condições de luminosidade e sonoras. Também há falta de pessoal, nomeadamente enfermeiros. Só há cerca de 400 neonatologistas no país.
Promover vínculo
As unidades neonatais em Portugal não estão equipadas com material de promoção do vínculo afetivo entre os bebés prematuros e os pais. A associação XXS lançou uma campanha para equipar hospitais com ninhos, almofadas de gel, chupetas, cadeirões de canguru, para que os pais não sejam visitantes dos seus filhos e possam cuidar, tocar, dar colo.
17.º lugar no ranking
Segundo um índice da Unicef, Portugal ocupa a 17.ª melhor posição na mortalidade neonatal, entre 186 países: uma morte em cada 476 nascimentos. O Japão é o país com a taxa mais baixa, os países africanos têm os números mais altos. Todos os anos, 2,6 milhões de crianças morrem antes de fazer um mês.
500 a 700 gramas é o limite de viabilidade em termos de peso dos bebés prematuros em Portugal. Significa que têm mais de 50% de hipóteses de sobreviver. No tempo de gestação são 25 semanas.