Estabelecimentos comerciais vizinhos das unidades escolares esperam reanimar a atividade com o regresso em força do ensino presencial.
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Para muitos comerciantes, as moratórias estão a chegar ao fim e o regresso à escola, a partir desta semana, de mais de um milhão de estudantes é uma lufada de esperança para um dos setores mais penalizados pela pandemia. No Porto renovam-se stocks em papelarias e nas confeitarias localizadas junto aos estabelecimentos escolares preparam-se menus especiais. Muitos dos lojistas não conseguem explicar como sobreviveram a uma quebra nas receitas de mais de 80%.
Na Cafetaria Rainha Dona Amélia, Tânia Castro volta a colocar na montra a placa com o menu especial para os estudantes que a partir da próxima segunda-feira regressam à vizinha Escola Secundária Aurélia de Sousa. "Foram meses muito complicados, nem sei como consegui manter a porta aberta, pois vivemos muito dos alunos, auxiliares e professores. E depois são as saudades porque acabamos por criar relações de amizade com eles", diz Tânia, a tentar disfarçar o olhar turbado pela emoção.
Sandes, baguetes e hambúrgueres são os bens mais consumidos. Com uma bebida, estes menus têm um custo a partir dos 2,5 euros.
Também Marcelo Vilela sente a falta dos grupos que nas pausas das aulas, pelas 10.30 horas, entravam na sua confeitaria. As quebras na Estrela Branca rondam os 40%. "Temos clientes que vivem nesta zona, mas é com os alunos da escola que fazemos a grande parte do negócio. No ano passado houve aulas presenciais, mas muitos ficaram em teleaula", diz o comerciante.
Mais de um ano sem faturar, muitos estabelecimentos não resistiram e fecharam, como a casa de gomas que funcionava em frente ao Aurélia. O mesmo aconteceu com uma papelaria junto à Escola Secundária Filipa de Vilhena. "Quando 50% dos nossos clientes são alunos percebe-se a nossa situação. Quase crítica!", diz Artur Correia, proprietário da Confeitaria Vilhena, que vê neste regresso às aulas "a tábua de salvação de muitos estabelecimentos".
Pesadelo da pandemia
Joel Azevedo, presidente da Associação dos Comerciantes do Porto, tem a mesma opinião embora esteja pessimista quanto ao futuro próximo (ler caixa). "O importante é a população voltar à normalidade o mais rapidamente possível. Ou seja, as empresas acabarem com o teletrabalho e as escolas voltarem a funcionar", explica.
A maioria dos empresários do setor "são resilientes" e o importante, acrescenta Joel, é que "sejam levantados todos os entraves à mobilidade das pessoas".
Delorinda Ferreira está à frente da Tabacaria Camponesa há 37 anos, bem perto da Escola Secundária António Nobre, em Paranhos. Conta que o negócio "já teve melhores dias", que as grandes superfícies fazem forte concorrência e que "a pandemia é um pesadelo".
Apoios
Problema do fim das moratórias
As moratórias foram durante meses um balão de oxigénio para as empresas que, em resultado dos prejuízos causados pela pandemia, deixaram de cumprir com as suas obrigações, nomeadamente as prestações dos empréstimos contraídos. Contudo, o presidente da Associação dos Comerciantes do Porto alerta para o facto de o fim deste apoio poder vir a ser um problema nos próximos meses "levando ao encerramento de um maior número de estabelecimentos do que o verificado até agora".
Número
30%
Empresas ainda em teletrabalho
A Associação dos Comerciantes do Porto chama a atenção para o facto das empresas poderem ajudar à recuperação do tecido comercial da cidade pondo fim ao teletrabalho, atraindo mais gente à cidade.