O líder do Chega, André Ventura, considerou hoje que Portugal não pode receber mais imigrantes porque "está cheio" e pediu apoio à sua plateia, que gritou "nem mais um, nem mais um".
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"Nós estamos cheios de imigrantes e não podemos receber mais imigrantes neste país", afirmou André Ventura num jantar/comício em Torres Novas (distrito de Santarém), inserido na campanha para as eleições europeias de 9 de junho.
No seu discurso perante cerca de 400 pessoas, o presidente do Chega defendeu que Portugal só deve acolher imigrantes quando tiver "condições de poder receber e não para os enviar para tendas à volta de igrejas ou a viver no metro ou nos comboios".
"Precisamos de ter regras para entrar neste país", defendeu, destacando os exemplos de países como Bélgica, França ou Inglaterra nos quais "em algumas zonas a imigração islâmica tornou-se maioritária".
O presidente do Chega disse também que os portugueses não têm de ser tolerantes e que são os imigrantes que têm de respeitar enquanto estiverem a viver em Portugal.
"Por isso, nós pedimos nestas eleições europeias a suspensão da entrada de novos imigrantes em Portugal até estar regularizada esta situação" de quem já está no país, voltou a defender, dando o mote: "nem mais um até termos isto regularizado e a casa em ordem".
Quem o ouvia repetiu a ideia, gritando por duas vezes: "nem mais um, nem mais um".
Sobre as eleições europeias, André Ventura disse que os adversários "estão com medo" porque o resultado do Chega "vai ser forte".
"Nós vamos subir o resultado das legislativas, nós vamos lutar para vencer, nós vamos ter o mesmo número de eurodeputados, se não tivermos mais, que PS e PSD nestas eleições e acabar de vez com o bipartidarismo nem Portugal", antecipou, considerando que o seu partido está a "ombrear taco a taco com os maiores".
"Eu acredito que vamos vencer estas eleições europeias", insistiu, voltando a rejeitar que o resultado do Chega nas legislativas de março tenha sido "um epifenómeno".
O presidente do Chega sustentou o resultado do partido afirmando que "foi a expressão de anos e anos de descontentamento, de anos e anos de alheamento dos políticos face às pessoas reais, foram anos e anos de afastamento", e indicou que o Chega representa aqueles "esquecidos e abandonados pelo poder político nas últimas décadas".
Aproveitando a presença no distrito de Santarém, Ventura falou também sobre agricultura, e afirmou que o ataque maior a este setor, bem como às pescas e ao mundo rural "vem de Bruxelas e do centrismo de Bruxelas".
"Quem matou as nossas pescas, quem matou a nossa agricultura, quem está a destruir os nossos agricultores, é Bruxelas e os seus estados aliados, particularmente socialistas por toda a Europa. São esses que temos de combater nestas eleições", salientou.
O presidente do Chega disse também que os "acordos que a Europa fez com os países onde não pagam pelos salários e onde os salários são baixíssimos estão a destruir a agricultura europeia" e que os portugueses não conseguem competir "com países onde quase não se paga pela mão-de-obra, onde não se paga por fertilizantes, onde não se paga por produtos".
"Connosco, será sempre os portugueses primeiro e a Europa acima de tudo em relação ao outros continentes do mundo. Não devemos ter medo de o dizer porque não se trata de xenofobia nem racismo, trata-se de dizer o óbvio, que quem cultiva estas terras tem de ter prioridade a cultivá-las, a trabalhá-las e a vender para o seu próprio país. Não podemos estar a ser invadidos por produtos de fora", sustentou.
"Finalmente vamos ver-nos livres de Marcelo Rebelo de Sousa"
O presidente do Chega, André Ventura, manifestou satisfação por se estar a aproximar o final do mandato do presidente da República, o qual desafiou para responder no inquérito ao caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria. "Finalmente vamos ver-nos livres de Marcelo Rebelo de Sousa daqui a um ano e meio", salientou.
André Ventura acusou o chefe de Estado de trair "o seu povo, a sua história, os seus trabalhadores". "Felizmente está a um ano de acabar a sua função verdadeiramente", afirmou.
O mandato do presidente da República termina em março de 2026, mas nos seis meses anteriores não pode dissolver a Assembleia da República.
André Ventura voltou também a desafiar Marcelo Rebelo de Sousa para responder à comissão de inquérito ao caso das gémeas, forçada pelo seu partido.
"Espero que ainda vá responder porque está aí a correr que o presidente não vai. Não quero acreditar que o presidente que pediu transparência a todos sempre, inclusive ao Chega, agora que se vê ele envolvido num caso que é grave [...] se exima ou fuja à responsabilidade e à justiça", defendeu.
E deixou um apelo direto: "Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, há momentos na vida em que nos definimos como políticos. Responder a esta comissão de inquérito, responder para ter justiça e transparência não é só uma questão de ser político ou não ser, é de exercer um cargo público com decência e com dignidade". "Se acredita na verdade, se acredita na transparência, responda a esta comissão de inquérito, responda aos portugueses sobre este caso", acrescentou.
Ouviram-se apupos e assobios na sala quando o líder do Chega considerou ser "chocante" que o presidente da República defenda reparações às antigas colónias.
André Ventura considerou que "este país que deu mundos ao mundo nunca se envergonhará da sua história e não pagará um cêntimo a ninguém no que depender do Chega", porque deixou lá "muito mais" do que recebeu.
"E se nunca pagámos um cêntimo a quem teve de fugir de lá sem nada, a quem o Portugal de 1975 abandonou à sua sorte, se não demos a esses um cêntimo, se não demos à família dos retornados de África um cêntimo, se deixámos os antigos combatentes na miséria mais abjeta, o que é que temos de pagar as nossas antigas colónias? Zero, não pagaremos nada às antigas províncias ultramarinas", afirmou.
Tânger diz ter plano com "amigos americanos" para sustentabilidade económica
O cabeça de lista do Chega às eleições europeias, António Tânger Corrêa, afirmou que tem um plano "com amigos americanos" para garantir a "sustentabilidade económica de Portugal através do Atlântico".
"No dia em que André Ventura for primeiro-ministro de Portugal, eu tenho um plano gizado há anos com amigos americanos para que Portugal possa, de uma forma sustentada, de uma forma soberana, garantir um plano de sustentabilidade económica para Portugal através do Atlântico", afirmou, sem detalhar os contornos esse acordo.
O candidato e vice-presidente do Chega discursava naquele que foi o primeiro comício da campanha em que participou, e que decorreu em Torres Novas, distrito de Santarém.
"O nosso maior vizinho não é Espanha, o nosso maior vizinho são os Estados Unidos da América [...]. Não é preciso que haja uma linha de fronteira terrestre, pode ser uma linha de fronteira marítima, e nós temos que ir buscar essa fronteira", defendeu.
António Tânger Corrêa afirmou que Portugal é central no Atlântico mas periférico na Europa.
"Temos de saber conjugar estas duas valências. Isto é o Portugal que nós queremos, não é o Portugal de mão estendida, dos pedintes, dos subsidiodependentes, é um Portugal por si próprio", indicou.
No seu discurso perante cerca de 400 pessoas, o cabeça de lista do Chega deixou igualmente críticas aos seus adversários.
"Não vou dizer que eles estão impreparados, porque estão, toda a gente vê. Não vou dizer que não percebem nada de relações internacionais, que toda a gente vê. Eu nunca os vi, ao longo de 40 e muitos anos de carreira, qualquer dessas pessoas das outras lista negociar um tratado internacional, representar Portugal, representar os portugueses, fazer alguma coisa por Portugal e os portugueses. Nunca os vi e eu passei a minha vida a fazê-lo", salientou.
E sugeriu que "houvesse um debate a oito [com os candidatos dos partidos com representação parlamentar] em inglês ou em francês".
"Vamos fazer um debate nas línguas de trabalho da União Europeia. Vamos lá ver quem é que se aguenta à bronca", afirmou.