Em marcha desde a Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, até ao Ministério da Saúde, a CGTP celebrou o 43.º aniversário do SNS juntando as vozes de centenas de profissionais de saúde a favor de um SNS mais universal, com mais direitos e uma menor participação do setor privado. Bloco de Esquerda e PCP marcaram presença na manifestação.
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Os 43 anos da criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) foram celebrados esta quinta-feira à tarde, em Lisboa, com centenas de pessoas a participarem na marcha convocada pela CGTP para apelar a um SNS mais universal, com mais direitos para os seus profissionais e pacientes e a repudiar as parcerias público-privadas na saúde. Para a CGTP, a foco da questão da saúde não reside no ministro que detém a pasta ou no CEO do SNS, mas na política que é adotada para o SNS, explicou Isabel Camarinha, líder da central sindical.
Isabel Camarinha denunciou ainda o "desinvestimento contínuo de vários governos, a redução de profissionais de saúde, o encerramento de valências e equipamentos e o subfinanciamento de vários anos, que leva a que os grupos privados respondam em alternativa ao serviço público de saúde".
A líder sindical salienta também os lucros que as grandes empresas, "nomeadamente no setor de saúde", apresentam e entende que, com a devida taxação, poderiam existir "todas as condições para que de facto haja condições de vida digna".
"Há falta de vontade política e não podemos continuar a permitir que os grandes 'lobbies' dos grupos privados continuem a impor a sua vontade de serem eles a garantir os cuidados de saúde, os quais tem de ser o SNS a garantir", explica.
Acabar com saúde refém das Finanças
Questionada sobre a gestão do SNS, Isabel Camarinha aceita e concorda que pode realmente haver uma melhor gestão dos recursos disponíveis no setor, mas acredita que o principal problema da saúde em Portugal é "a falta de recursos humanos e que há um conjunto de áreas que precisam urgentemente de reforço".
Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, marcou presença na marcha da CGTP e, na mesma linha, afirmou ser necessário uma política que invista na saúde. Alertou que "falta capacidade para os serviços fundamentais da democracia funcionarem", também em menção à situação de falta de professores vivida no arranque do ano letivo.
Catarina Martins falou também do convite feito a Fernando Araújo, diretor do Hospital de São João do Porto, para CEO do SNS mas defende que a questão "não é a simpatia que o Bloco de Esquerda tem ou não por alguém que vai para um cargo" mas sim a mudança de política de base do SNS.
A bloquista salientou ainda que "a execução quotidiana do SNS tem sido do Ministério das Finanças" e que, por isso, apesar da criação de cargos novos, a falta de investimento na melhoria das condições da saúde em Portugal vai impedir o trabalho do próximo CEO do SNS.
"Advogado da Galp ou da EDP"
Descreveu também o período que o Governo está a levar a taxar os lucros excessivos de grandes empresas como "uma escolha" e sublinha: " o mesmo Governo que diz que é preciso ajudar as empresas com custos excessivos, é o mesmo Governo que se recusa a taxar as empresas que apresentam lucros excessivos". "O governo comporta-se como se fosse advogado da Galp ou da EDP", afirma.
Catarina Martins urge também a que esta taxação dos lucros apresentados pelas grandes empresas em Portugal seja feita com celeridade. "Cada dia que o Governo diz que vai estudar em vez de taxar estes lucros excessivos, o que está a dizer à Galp, à REN, à EDP, à Jerónimo Martins, à SONAE e à banca é que podem estar seguro que não lhes irá acontecer nada", entende. E acrescenta que o Governo se recusa a dar o passo de "justiça económica" em defesa das pequenas empresas e recorda os apelos recentes de Ursula Von der Leyen para taxar esses lucros.
Fraca execução orçamental
O PCP esteve também presente e fez-se representar por Bernardino Soares. O dirigente comunista acredita, igualmente, que o problema não se relaciona com o novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, mas sim com a política estipulada pelo Executivo para o setor público da saúde. "Neste dia em celebramos a criação do SNS, é também um dia para lutar para que o serviço público de saúde não só se mantenha, mas também recupere aquilo que tem perdido nos últimos anos", avança.
O membro do Comité Central do partido comunista entende ainda que o SNS tem "muitos problemas que resultam de muitos anos de desinvestimento nos seus profissionais e das suas instalações".
"Não podemos continuar a ter uma execução orçamental até agosto que não chega a 20% do investimento que estava previsto para o SNS. Desta maneira não vamos a lado nenhum, nem com este ministro nem com nenhum outro", acrescenta ainda.