O livro “40 anos, 40 ideias” da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), lançado este sábado, discute vários temas sobre a sociedade e a saúde. Saúde sexual e o impacto das alterações climáticas na saúde são os capítulos destacados pelo presidente da ANEM.
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“Este livro é uma reflexão sobre a sociedade e sobre como a vemos. É uma prova de que é possível colaborar com várias entidades. Por isso, convidámos docentes, alunos, ex-alunos, o ministro da Saúde e várias outras pessoas, para que, com a sua liberdade, falassem de temas que acham relevantes para a sociedade, não apenas sobre saúde”, explica ao JN, Vasco Cremon de Lemos, presidente da ANEM.
Com pouco mais de cem páginas, o livro de celebração do 40.º aniversário da ANEM reúne 45 textos de diferentes personalidades sobre diversos temas, como o “Planeamento de Recursos Humanos”, sobre o qual escreve o ministro da Saúde, Manuel Pizarro.
“É um livro bastante amplo, fala-se sobre gestão, recursos humanos, inteligência artificial, formação médica, sistemas de saúde, mobilidade (emigração e globalização). É, no fundo, um trabalho conjunto de reflexão que permitiu manter a liberdade de expressão de cada um e é desta forma que acreditamos ser possível avançar na sociedade”, diz Vasco Cremon de Lemos.
Educação sexual inclusiva
O presidente da associação destaca os dois capítulos sobre a educação sexual e o capítulo sobre a sustentabilidade na saúde como dos mais relevantes.
No capítulo “Educação Sexual na Sociedade”, João Cortes Cardozo, diretor de saúde sexual e reprodutiva da ANEM, explica que “a sexualidade é uma componente transversal da experiência que é a vivência em sociedade. A educação sexual, ainda tão desfalcada, é fundamental para eliminar preconceitos e tabus. A sua importância abrange diversos aspetos que ultrapassam o simples fornecimento de informação sobre anatomia e reprodução, apostando numa abordagem holística e compreensiva de forma a contribuir positivamente para o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável e consciente”.
“Os dados são claros: a promoção da abstinência e o tratar a sexualidade como um fruto proibido não atrasa a primeira relação sexual, não diminui o número de pessoas parceiras nem a frequência do ato sexual. No entanto, uma educação sexual compreensiva aumenta, não só, a satisfação sexual mas também aumenta o uso de contraceção, diminui gravidezes indesejadas e atrasa a primeira relação”, afirma.
No capítulo “Saúde Sexual e Reprodutiva no Currículo Médico”, Bruno Maia, intensivista na Unidade de Cuidados Intensivos Neurocríticos do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, alerta para a necessidade de a saúde sexual nos serviços de saúde ser “inclusiva” e não-discriminatória.
“O acesso aos direitos sexuais e reprodutivos é um direito humano. Mas é mais do que isso: é ciência! Educação para a inclusão, educação sexual compreensiva, acesso a direitos reprodutivos por parte das mulheres, acesso a instrumentos de prevenção para os jovens (todos os instrumentos, da educação à profilaxia pré-exposição) não são temas 'políticos' ou disputas ideológicas. São ciência, são factos que comprovadamente melhoram a saúde da população. São escolhas de saúde pública que a epidemiologia já validou múltiplas vezes”, diz.
O impacto das alterações climáticas na saúde
José Chen, coordenador nacional de direitos humanos e paz da ANEM em 2016, explica no capítulo “Sustentabilidade ambiental em Instituições de Saúde e Ensino Superior” que “a saúde é um dos setores em que as alterações climáticas têm um impacto bastante visível, com várias consequências, incluindo a dificuldade no acesso à água potável e comprometimento das atividades agrícolas e da segurança alimentar; aumento de ondas de calor, incêndios, e diminuição da qualidade do ar, aumentando a mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias; aumento de doenças transmitidas por vetores, como a malária e a leishmaniose; resistência antimicrobiana; aumento de problemas de saúde mental associadas a catástrofe, mas também ecoansiedade e depressão”.
“Todas estas questões levam à sobrecarga dos sistemas de saúde. Importa, por isso, trabalhar o conhecimento sobre alterações climáticas e saúde, capacitando os futuros profissionais de saúde para as alterações climáticas e mecanismos de adaptação e mitigação, e para a perspetiva one health”, acrescenta.
Este mês a ANEM celebra 40 anos e, este sábado, vai realizar um evento de celebração com o lançamento do livro “40 anos, 40 ideias”, que contará com a presença do ministro da Saúde.