O líder o CDS apelou, este sábado, a que o presidente da República tenha "uma particular preocupação" em fiscalizar o funcionamento da democracia. No encerramento do congresso dos democratas-cristãos, em Aveiro, Nuno Melo apontou baterias a um Governo "dividido" e "em fim de ciclo". Garantiu que o CDS estará "preparado" quando tiver de ir a eleições e afirmou que a moção de censura apresentada pelo Chega foi "um frete" aos socialistas.
Corpo do artigo
"O Governo parece velho, desgastado e, principalmente, dividido", atirou Nuno Melo, perante cerca de 700 congressistas. Para o presidente centrista, o recente diferendo entre António Costa e Pedro Nuno Santos sobre a construção do novo aeroporto não foi "um incidente", mas sim "um sintoma de uma governação que está em fim de ciclo".
A este propósito, o líder e eurodeputado do CDS acusou os socialistas de sacrificarem os interesses do país "para medirem forças entre facções". Lembrando que o Governo de Passos Coelho - que o seu partido integrou - já tinha decidido que o aeroporto seria no Montijo, atirou: "Com o CDS, o novo aeroporto seria inaugurado em 2023".
Nuno Melo considerou que, num momento em que o PS tem maioria absoluta, o Parlamento está "mudo" e "faz muito pouca diferença". "Aliás, grande parte da oposição pode fazer-se fora" do Palácio de São Bento, referiu.
Neste contexto, Marcelo Rebelo de Sousa deve assumir um papel mais interventivo, referiu o centrista. "Por causa do Parlamento mudo, justifica-se que o senhor presidente da República tenha uma particular preocupação em fiscalizar o normal funcionamento das instituições democráticas", acrescentou.
Chega fez "frete" a Costa
Nuno Melo também não poupou o Chega por ter apresentado uma moção de censura ao Governo, que foi chumbada pelo Parlamento. No seu entender, esta apenas serviu para que um Governo "fragilizado" tenha saído desse processo "mais forte".
"Qual é a utilidade de apresentar uma moção de censura num momento em que, constitucionalmente, o Parlamento não pode ser dissolvido?", questionou Melo, aludindo ao artigo que impede o presidente de dissolver o Parlamento menos de seis meses após as legislativas.
A resposta à sua própria pergunta chegou sob a forma de um ataque indireto mas forte ao partido de André Ventura: "Fretes e simulacros de censura foi coisa que o CDS nunca fez na Assembleia da República".
Melo atacou o Governo em áreas como a saúde, os impostos ou os incêndios. Sobre este último tema, criticou o facto de, cinco anos após Pedrógão Grande, continuarem a existir episódios de carros a circular em estradas "com fogo na berma".
Na saúde, a situação é grave porque o PS age por "ideologia" e descura os privados, acusou Melo; a nível de impostos, o facto de um salário líquido de 1700 euros custar 3368 euros às empresas é a prova de que o país devia chamar-se "República Socialista de Portugal".
Paulo Portas, antigo líder do partido, não foi ao congresso mas gravou uma mensagem em vídeo. A ex-deputada Cecília Meireles lembrou o estudo da Confederação do Turismo que estima entre 6 mil e 20 mil milhões de euros as perdas por o Governo andar há sete anos "a empaliar" a decisão sobre o aeroporto.
Telmo Correia, ex-líder parlamentar, criticou a regionalização:"No que depender de nós, o país não será retalhado nunca".