Diretor de gestão de produto da Efacec e coordenador da Agenda Aliança para a Transição Energética (ATE), Rui Lameiras faz um balanço do processo de mudança do sistema energético em Portugal.
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Perspetiva também o futuro, tendo em conta o trabalho dos cerca de 80 parceiros do consórcio ATE e do investimento de 274 milhões de euros, 157 milhões são provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que está em curso.
O que é a Aliança para a Transição Energética (ATE)?
A ATE é um conjunto de parceiros bastante alargado, cerca de 80 – e que eventualmente vão aumentar agora com a reprogramação –, que estão a operar uma mudança estrutural no setor energético em Portugal, alavancando sinergias de grandes empresas, PME, academia, centros de investigação, etc. E que estão a trabalhar num conjunto de projetos no âmbito da descarbonização, da digitalização e da democratização. Democratização, porque quando se fala em transição energética, fala-se muito de rede elétrica, centros de comando, aparelhagem que é utilizada, equipamentos, mas os consumidores finais também são muito importantes. O facto de lhes darmos capacidade de decisão, de trabalharem na sua casa, terem ferramentas para gerir o seu consumo de energia, de perceberem o que estão a consumir, e como podem otimizar essa utilização, é um dos vetores da agenda. É muito importante, porque conseguimos cobrir toda a cadeia, desde a parte da produção até ao utilizador final.
Em que ponto se encontra o processo da transição energética no país?
É inequívoco que Portugal tem trabalhado muito bem a parte das energias renováveis, do aumento da utilização e do índice energético ter cada vez mais uma componente renovável. No entanto, isso traz desafios acrescidos nas redes, nos equipamentos que são utilizados, na forma como gerimos. Obviamente, não podemos escamotear o que aconteceu há umas semanas relativamente ao apagão, que chamou a atenção para um conjunto de desafios que a intermitência das renováveis traz e que faz com que a gestão da sua utilização nas redes energéticas tenha de ser bastante mais evoluída e bastante mais preemptiva, para que continue a funcionar de uma forma completamente transparente para os utilizadores finais, sejam eles industriais ou um utilizador na sua casa.
O que está a ser feito pela ATE?
Estamos a falar de cerca de 60 projetos, de 45 produtos ou serviços, que depois vão aumentar, como disse, com a reprogramação. Os próprios parceiros aceitaram o desafio de aumentar a ambição da agenda. A digitalização está a ser trabalhada a nível da aparelhagem da sensorização e ao nível dos centros de comando. Como disse, vamos gerir de forma mais preemptiva e mais inteligente as redes e todo este desafio que é a distribuição e a injeção de renováveis. Na parte da mobilidade, estamos a trabalhar ao nível do próprio equipamento, carregadores elétricos, etc., e novos modelos de utilização, por exemplo, em edifícios residenciais, como otimizar não mudando a rede instalada. E depois como é que podemos otimizar, mais o próprio transporte, as redes multimodais, metro com autocarros, tornando isso “seamless” para o utilizador.
O investimento total da ATE é de 274 milhões. Que metas querem atingir?
A agenda em si tem objetivos bastante ambiciosos de multiplicar e alavancar todo este investimento, e há um conjunto de objetivos já para 2027 em termos de volume de negócios. Mas, acima de tudo, queremos que a agenda não se esgote em junho de 2026. O nosso objetivo é que, alavancando todas as sinergias que estão a ser trabalhadas no consórcio, se trabalhe para lá disso através da associação ATE e da criação de um cluster de competitividade no setor da energia. Isso sim, penso que vai alavancar e ajudar também PME’s e startups a acelerarem as suas soluções e trabalharem-nas de uma forma bastante mais eficiente. Penso que esse é o grande papel que a associação poderá ter, no sentido de trabalhar, criar e alargar o ecossistema. Um dos objetivos da agenda, é criar massa crítica no mercado internacional. Isso vai levar a que as novas soluções sejam divulgadas, aliás, esse trabalho já começou a ser feito este ano com participação em feiras, falando com outro tipo de parceiros externos ao consórcio. O nosso objetivo é claramente exportador. Levar as nossas soluções para o exterior.