O lobo do mar que pede para sair na foto com Matilde, a sua guitarra espanhola que gosta de tocar nos tempos livres, é o mesmo que procura a liberdade da guanição que chefia. João Lourenço, de 38 anos, é um apaixonado pela sua mulher que «é a rainha», e as suas filhas, «duas princesas» de 4 e 6 anos. É o oficial imediato do Creoula.
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-Qual é então a origem da sua carreira militar?
-Já no décimo ano da escola soube que queria seguir a mesma carreira militar dos meus antepassados, mas escolhi a marinha porque sempre senti um fascínio enorme pelo mar. Comecei por fazer remo e, agora que cheguei a oficial imediato, o passo seguinte é naturalmente ser comandante de um navio. Se me perguntarem, eu quero estar no mar. E se for no Creoula melhor ainda.
-Qual é a relação que mantém com a guarnição que está a suas ordens?
-Gerir 40 pessoas não é tão dificil como pode parecer. Eles sabem quais são as regras melhor do que eu. Eu dou-lhes a responsabilidade que eu acho que têm de ter e procuro que não percam a sua liberdade; que saiam do navio com um sorriso nos lábios, no entanto cumpram com essas regras.
-O que acham a sua mulher e filhas da sua profissão?
-É muito dificil. Lá deixo uma rainha e duas princesas que não compreendem porque é que o pai vai para o mar. Afortunadamente as viagens do Creoula são viagens curtas. O consolo é quando eu voltar a casa lá estaraõ à minha espera.
-Qual é o navio cujo nome não pode ser pronunciado?
-(Risos) É só uma brincadeira; há sempre uma rivalidade saudável entre o Creoula e a Sagres. Eu prefiro o Creoula porque traz mais valia para a comunidade civil. Ensinar o que é que o mar representa para Portugal, o que é saber estar no mar. Para mim e fantástico dizer para alguém que não conhece o valor do mar: ali, naquele portacontentores, vai o ipod que vais comprar quando chegares a terra. No Creoula aconteceu-me uma coisa muito linda. No meu segundo embarque um rapaz banhou-se no mar pela primeira vez na sua vida. Eu nunca mais me esqueço quando saiu da água a chorar de alegria, essa cara ficou-me marcada. Isso só é possível no Creoula.
-Esta é a sua primeira comissão num veleiro depois de sair da Escola, está a ser bom?
-Fantástica. Não posso dizer que é a melhor porque eu já tive o privilégio de comandar uma lancha pequena, mas esta de certeza será a seguir.
-Você tem a especialidade de artilheiro, quantos misseis é que disparou na sua vida?
-Nenhum. (Risos) São muito caros.