Turmas em bolha e horários desfasados para ajudar ao distanciamento, nem sempre cumprido no recreio e à porta.
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Máscara obrigatória no interior da escola (menos para o 1.º Ciclo), abundante higienização, horários e intervalos desfasados: foi a realidade, esta semana, para os mais de 1,2 milhões de alunos que, após seis meses, regressaram à escola.
Fafe
Matilde quer almoçar na escola
No primeiro dia de aulas, Matilde Pereira, 6 anos, trocou o almoço com os pais pelo almoço na cantina da Escola Professor Carlos Teixeira, em Fafe. "Estava combinado que não almoçava na escola, mas o professor disse que havia massa com atum e ela foi com os amigos à cantina", explica Sandra Martins, que foi buscar a filha às 12.30 horas e, quando a encontrou, ela já tinha almoçado e estava "toda contente a brincar no recreio com os colegas".
A menina está no 1.º ano e iniciou a escola com novas regras: desinfeta as mãos, lancha dentro da sala de aula, só brinca e convive com os 24 alunos da turma e não tem contacto com outras crianças. Na sala não usa máscara, mas tem de lavar as mãos com frequência. Apesar das regras, Matilde está entusiasmada com a escola. Sabe que "há bichinhos que nós não vemos", mas que podem fazer mal. Os cadernos e livros têm um revestimento em plástico para que possam ser desinfetados com um pano húmido ou um toalhete e o lanche vai de casa na mochila já separado entre a manhã e a tarde para que ninguém, além dela, mexa na lancheira.
Aveiro
"Achei que ia ser mais complicado"
Vitória Ministro estava muito ansiosa, quinta-feira, dia em que os alunos regressavam à Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima, em Esgueira, Aveiro, onde é assistente operacional há 32 anos. Mas tudo correu "ainda melhor do que as expectativas".
"Os meninos vieram todos de máscara e têm obedecido. Achei que ia ser mais complicado", confessou Vitória Ministro, de 61 anos. Com trabalho redobrado em relação a outros anos letivos, é aos assistentes operacionais que cabe a função de providenciarem a "higienização das mãos dos alunos, logo à entrada", tal como a limpeza dos espaços e a "higienização de mesas e cadeiras na cantina, sempre que cada aluno acaba de comer e se levanta".
"O facto de os intervalos serem desfasados, entre as turmas de cada bloco, também ajuda a evitar ajuntamentos. E nós vamos avisando os alunos para cumprirem a distância. Fico preocupada por mim e por eles", conclui, feliz por ter os seus "meninos" de volta.
Lisboa
"Não cumpriram as bolhas"
Ângela Traquete reconhece que é difícil manter os alunos afastados, uma vez que não há "ninguém a controlar" no recreio. No regresso às aulas, na Escola Básica Pintor Almada Negreiros, em Lisboa, "o mais difícil" para os alunos foi manter o distanciamento social no recreio. "Nos intervalos há ajuntamentos, veem um amigo e querem falar-lhe. Muitos não cumpriram as "bolhas" por turmas, não dá para mantê-los sempre juntos", conta a professora. A falta de funcionários a vigiar também estará a dificultar o cumprimento das regras. "Não há ninguém a controlar no recreio; se houvesse, conseguiríamos cumprir", diz.
Já dentro da sala de aula, "está a correr muito bem". "Não tem sido tão difícil como achava", diz. Só há uma reclamação comum a todos: "queixam-se muito da máscara. Cansam-se de estar com ela e estão constantemente a mexer, têm calor e dizem que estão fartos". Seguir as setas dentro da escola é outro dos desafios. "Temos de andar sempre a chamar a atenção".
Porto
"Planeamento foi fundamental"
Rui Fonseca, diretor do agrupamento Garcia de Orta, no Porto, conta satisfeito que o arranque escolar decorreu de forma "muito tranquila". O professor não tem dúvidas que o tempo que dedicou ao planeamento, em julho, antevendo hipotéticos cenários, "foi fundamental para que as coisas acabassem por correr bem". "Reuni-me com diretores de turma, que já não vinham à escola desde março; depois com os titulares de turma do 1.º Ciclo. Mais tarde, com os encarregados de educação, por videoconferência, a explicar como tudo iria funcionar para evitar eventuais ansiedades", reforça o diretor.
O facto de o agrupamento ter decidido também incrementar "horas desfasadas de entrada (às 8.10 e 8.30 horas) e de intervalos, assim como circuitos distintos, acabou por aliviar a pressão", reforçou.
Até os kits com máscaras foram entregues "aos alunos, assistentes operacionais, técnicos e professores" a tempo de regressarem à escola protegidos. Para isso foram compradas "6900 máscaras" para todo o 1.º período", referiu o diretor.