"O parto é meu, no meu corpo mando eu". Mulheres pedem o fim da violência obstétrica
Centenas de mulheres manifestaram-se, na tarde deste domingo, por todo o país, pela eliminação da Violência Obstétrica. Na Avenida dos Aliados, no Porto, foram entoadas várias frases de ordem, numa luta contra o encerramento de maternidades públicas e pela criação de equipas multidisciplinares que coloquem a mulher no centro dos cuidados, informando-as de todos os procedimentos e respeitando sempre os seus direitos e decisões.
Corpo do artigo
A manifestação, "Esta é a Luta que vos Pariu", organizada pelo Observatório de Violência Obstétrica (OVO), em várias cidades do país, juntou várias associações, mulheres e mães, numa luta pela humanização dos serviços de obstetrícia, por um Serviço Nacional de Saúde universal, gratuito e público e contra o fecho das maternidades.
"Temos um sistema e formas de prestar cuidados na área da obstetrícia que não muito respeitadores e que muitas vezes roçam o abuso e a violência sobre as mulheres", afirma Sofia Cunha, uma das representantes da OVO na manifestação do Porto.
As várias mulheres e mães, acompanhadas pelos filhos, apelaram ao governo equipas multidisciplinares que coloquem a mulher no centro dos cuidados prestados, a profissionais atualizados pelas orientações da Organização Mundial de Saúde, à valorização das queixas das mulheres e ao reconhecimento da Violência Obstétrica enquanto problema de saúde pública.
"Consentimento informado, por cada ato praticado!"
Catarina Branco foi mãe em 2020 e na altura não conhecia o termo "Violência Obstétrica" mas percebeu que alguma coisa não estava bem. "Estive dezasseis horas em trabalho de parto sem grande acompanhamento. Realizaram a manobra de kristeller, fizeram análises sem me informar e ainda levaram o meu filho para fora do bloco sem qualquer explicação", afirma. Seis meses depois percebeu que teve "um parto onde houve violência obstétrica".
"Alguém me ajude! Investimento na Saúde!"
Em protesto, as mães e mulheres pediam um SNS acessível, universal, público e gratuito, maternidades com capacidade e recursos para que sejam prestados cuidados de acordo com a necessidade de cada mulher, uma avaliação das instituições de saúde e condições para que os profissionais de saúde permaneçam no SNS.
Mélanie Janel é doula e juntou-se a esta iniciativa porque acredita que é preciso "fazer valer os nossos direitos para que todas as pessoas possam aceder à saúde e a maternidades". Acrescenta ainda que, por falta de conhecimento, "há muitas histórias que não se definem como tal mas quando olhamos para elas percebemos que houve violência obstétrica".
"Os protocolos não respeitam os direitos humanos, os direitos fundamentais das mulheres", sublinha Catarina Branco. Acrescenta que apesar deveria existir um trabalho de equipa entre as mães e os profissionais de saúde porque "eles estudaram mas somos nós que conhecemos o nosso corpo".
A OVO pede ainda a criação de centros de parto nos hospitais, para um melhor acompanhamento das grávidas. "Os Centros de Parto são inseridos nos hospitais, transformando o que existe, mas havendo uma divisão entre gravidezes de baixo risco e alto risco; as primeira acompanhadas por enfermeiros especialistas e, as de alto risco, por obstetras. Desta maneira conseguiremos trabalhar conjuntamente nas necessidades destas mulheres", explicou Lígia Morais.