Passageiros da Linha do Minho e de Aveiro enaltecem virtudes do novo título de transporte ferroviário, de 20 euros. Mas criticam o excesso de ocupação dos lugares sentados e a necessidade de reserva de lugar no comboio com 24 horas de antecedência. No entanto, concordam que "compensa".
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Joana Sousa, trabalhadora-estudante, residente em Viana do Castelo, mexe no computador, enquanto aguarda a chegada do comboio Intercidades das 7.26 horas, na estação da cidade.
Aquela é uma das principais ligações ferroviárias da Linha do Minho que têm registado maior acréscimo de passageiros, desde que foi implementado o Passe Verde. No dia desta reportagem do Jornal de Notícias, praticamente todos os viajantes que foram abordados já o tinham adquirido.
É o caso de Joana, que contou que o passe “foi uma boa ajuda” porque se desloca “frequentemente” para Braga e para Porto”. “Reduz muito os custos, sem dúvida. Só não compreendo muito bem porque é que no Intercidades é necessário marcar com antecedência. Não faz muito sentido”, comentou.
A obrigatoriedade de fazer reserva de lugar nas 24 horas que antecedem a viagem [informação disponível no site da CP], parece ser uma queixa comum entre os passageiros, que usufruem do novo título de transporte.
“Estou muito satisfeito, só acho que aquela restrição da comprar 24 horas antes, é complicada. Não dá para programar como deve ser. É capaz de ser o factor mais negativo. Acho que eles podem melhorar isto. De resto, é muito interessante”, disse Manuel Azevedo, que se preparava para viajar para Lisboa, com a esposa, Maria Cunha. O casal de professores adquiriuo Passe Verde, na véspera.
“Sou sincera, fui bastante céptica. Em Portugal, nestas coisas há muita publicidade à volta, mas depois, na prática, há sempre muitas entrelinhas. Mas, não, é de uma transparência. No guichet para adquirir o cartão é na hora, basta apresentar o Cartão de Cidadão”, disse, evidenciando que, “se não tivesse este passe hoje, iria pagar 120 euros, mais ou menos”, pelas quatro viagens (duas idas e duas voltas) que tem previstas.
“Isto é uma super medida que me custa até acreditar nela. É uma coisa boa, mas, atenção que, noutros países da Europa, muitos transportes são gratuitos, por isso, não fazem nada de mais”, considerou.
Medida é "interessante", mas deveria mais frequência
Pedro Branco, investigador na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), reside em Viana do Castelo e divide a sua atividade entre o teletrabalho e “duas a três viagens por semana”, até agora de autocarro na maioria das vezes, para trabalho presencial. Contou que decidiu “experimentar o Passe Verde para perceber se, de facto, compensa, não em termos de tempo, mas de preço”. “Acabei de o carregar. Acho que é uma medida interessante, mas deveria ser acompanhada de mais oferta de frequência de horários, sobretudo, aqui na Linha do Minho”, referiu.
Já Paulo Vaz, consultor de empresas, residente em Viana, diz que “não é um passageiro frequente”, mas tem de se deslocar “de vez em quando ao Porto”. Pssou a viajar de comboio desde a chegada do Passe Verde.
“O valor do passe, de facto, é uma grande diferença ao que existia antes e que a mim não compensava. Compensaria se eu fizesse viagens muito frequentes, diariamente, mas como só vou lá uma ou duas vezes por semana, é diferente. Mas, neste momento, compensa largamente”, afirma, enumerando outro proveitos.
“[O comboio] relativamente ao carro, é uma grande vantagem. Primeiro, aproveito para trabalhar durante a viagem e, depois, na chegada ao Porto, há sempre muito trânsito. Quem vai para o centro da cidade, estacionar e tudo isso, é uma perda de tempo muito grande. O comboio compensa nesse aspeto e faz uma viagem relativamente rápida. Hoje em dia é de cerca de 1.10 horas”, descreve, considerando que, apesar “das condições atuais, deviam ir mais passageiros nos comboios”. “Acho que é cultural. As pessoas continuam a achar que o carro é um melhor serviço”, concluiu.
“Os lugares sentados estão quase todos ocupados”
Nos altifalantes anuncia-se a entrada na linha 2 do comboio Interregional proveniente da Figueira da Foz com destino a Valença. Passam poucos minutos das 8 horas e, na estação ferroviária de Aveiro, dezenas de pessoas aproximam-se dos carris para embarcar.
Entre elas está Manuel Ramos, que já apanhava este comboio diariamente, mas agora fá-lo munido do novo passe. “Tinha um passe de 60 euros até Espinho e este passe ferroviário veio reduzir em 40 euros” a despesa mensal, conta. Para regressar a casa, planeia apanhar um Intercidades, o que lhe permitirá voltar “mais cedo e mais rápido” do que quando não tinha este título e, por isso, tinha de recorrer aos Urbanos ou Interregionais.
Carla, que também adquiriu o novo passe e se prepara para subir para o comboio, adianta que este agora “vai mais cheio”.
Ao lado, vários elementos de um grupo de jovens dizem não ter tempo para falar, precisamente por estarem a ultimar a aquisição do passe, através dos telemóveis, para poderem embarcar.
Desde que surgiu a nova assinatura, também a afluência aos Urbanos que fazem a ligação Aveiro/Porto aumentou.
“Muitas vezes os lugares sentados estão quase todos ocupados desde o início da viagem”, assegura um revisor.
Adelaide Freitas, que diariamente usa estes comboios, corrobora que vão “mais cheios”. Ela fica em Cacia, a primeira paragem, mas, ainda assim, recorre ao novo passe. “Faz muito jeito. Fica mais barato, compensa”.
Ao lado, Maria Luísa Santos apressa-se para não perder o comboio. “Mudei [para o novo passe] porque é mais barato”, diz, explicando que com este consegue chegar a Paramos e, depois, usa o Sub23 até ao Porto.
“Correr Portugal”
Também há quem encare o novo passe como uma oportunidade de lazer. F.R., que há anos opta pela ferrovia para ir trabalhar, está a planear com a família “tirar o passe e correr Portugal inteiro por 20 euros”. Considera que o valor “é um exagero” e deverá provocar constrangimentos no serviço. “Basta uma viagem a Lisboa no intercidade e fica pago. Vai ser difícil marcar reserva”, antevê.