Os doentes obesos recorrem a mais consultas, medicamentos, exames e baixas médicas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) do que as pessoas sem excesso de peso. Chega a ser o dobro face à população ativa não obesa.
Corpo do artigo
Hoje, assinala-se o Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade e uma projeção da Federação Mundial da Obesidade indica que em 2035, quase 40% dos adultos em Portugal serão obesos. Várias entidades insistem na necessidade de tratar a doença com fármacos, que ainda não são comparticipados no SNS.
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto - que analisou dados de 266 mil doentes da Administração Regional de Saúde do Norte - revela o impacto que a obesidade tem nos gastos do SNS. Segundo Rosália Páscoa, que liderou o trabalho, "para todas as faixas etárias, as pessoas com obesidade tiveram sempre uma taxa de utilização de consultas, exames, medicação e baixas com justificação médica superior aos indivíduos que não apresentavam obesidade. Em algumas faixas etárias, esses recursos foram consumidos em dobro".
Uma pessoa entre os 18 e os 50 anos com obesidade usa quase o dobro das consultas, comparativamente com os não obesos. Pessoas obesas entre os 30 e 50 anos consomem 1,8 vezes mais medicamentos. Quanto aos exames, a diferença mais expressiva é entre os 18 e os 50 anos, com 1,8 mais de custos por indivíduo obeso.
ausências no trabalho
Há depois outros dados que revelam o impacto na sociedade, como é o caso das baixas médicas: os indivíduos sinalizados como obesos tiveram mais do dobro de ausências ao trabalho por motivos médicos e pelo menos o dobro de dias de doença, uma realidade que ganha mais expressão na faixa etária entre os 18 e os 40 anos.
O estudo teve em conta doentes da região Norte que recorreram ao médico de família, ou seja, a cuidados de saúde primários no SNS, mas, "provavelmente, também haverá um maior consumo" destes doentes de cuidados secundários, nomeadamente de "cuidados hospitalares, consultas de especialidade", pois geralmente têm "maior número de problemas de saúde", acrescenta ainda Rosália Páscoa.
60% têm mais problemas
Os números da região Norte, acredita a investigadora, "poderão não ser muito diferentes no resto do país" e realçam a necessidade de tomar medidas. "Este estudo leva-nos a ter dados reais de que há um impacto da obesidade a vários níveis", sublinha Rosália Páscoa, defendendo que é preciso uma abordagem abrangente, que inclua "opções políticas adequadas" para tratar este problema de saúde pública.
A investigação, realizada com dados de 2019 e publicada na revista de especialidade BMC Primary Care, concluiu que, no Norte, cerca de um em cada dez adultos utentes do SNS é obeso (10,2%), sendo a maior prevalência na faixa entre os 65 e os 74 anos. Mais de 60% acumulam outros problemas de saúde, como hipertensão e diabetes.
A prevalência encontrada foi inferior à documentada em estudos anteriores (alguns apontam que 28,7% dos portugueses com idades entre os 25 e os 74 anos sofrem de obesidade). Isso poderá dever-se ao facto de nem todos recorrerem ao SNS, de pessoas que não recorrem há muito tempo ao médico de família não terem dados atualizados ou os doentes não estarem devidamente codificados.