Sociedades de especialistas defendem acesso equitativo a terapêuticas. Doença afeta mais de metade da população.
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A Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) apelam a um acesso equitativo a terapêuticas que ajudem a combater a obesidade, já que os medicamentos são caros e não são comparticipados. Estima-se que em Portugal 67,6% da população sofra de obesidade ou pré-obesidade. Hoje, assinala-se o Dia Mundial da Obesidade.
Em Portugal, as pessoas obesas que não conseguem tratar a doença através de dietas e exercício ou que não têm obesidade num grau tão severo que implique cirurgia precisam de "tratamento farmacológico", diz José Silva Nunes, presidente da SPEO. Mas "há um problema de falta de equidade nos acessos a tratamentos", já que os "medicamentos são caros e não são comparticipados", lamenta, explicando que a obesidade é mais prevalente nas classes sociais mais desfavorecidas e com níveis de escolaridade mais baixos.
Em 2021, recorda o médico, a plataforma Recalibrar a Balança, que inclui a SPEO, conseguiu que a Assembleia da República emanasse recomendações ao Governo no sentido de se comparticiparem os fármacos antiobesidade, mas o Governo caiu e a pretensão nunca avançou.
Segundo José Silva Nunes, é preciso "criar um grupo farmacoterapêutico de tratamento da obesidade" que inclua os três medicamentos que existem em Portugal para o efeito: orlistato (Xenical), Saxenda e Mysimba. Esta etapa é essencial para que depois se proceda à sua comparticipação, evitando que os obesos tenham de gastar entre "50 e 200 euros por mês" na farmácia para os adquirir. "Em vez de se atuar apenas no fim da linha, quando os doentes apresentam complicações como diabetes ou hipertensão, o sistema tem de se concentrar em promover a saúde, em garantir o acesso equitativo a ações de diagnóstico e de monitorização e à medicação, em particular numa fase em que já existem e continuam a surgir opções terapêuticas com resultados muito interessantes", refere João Jácome de Castro, presidente da SPEDM.
"É muito caro"
Paula Figueiredo luta contra a obesidade desde criança e conhece bem as dificuldades. Atualmente está a fazer um tratamento com injeções que custam cerca de 200 euros a caixa. "É muito, mas muito caro e não são comparticipadas pelo SNS", lamenta, explicando que também toma vitaminas e outros complementos, o que faz com que deixe "um montão de dinheiro na farmácia". Mas há muitas pessoas que "mesmo fazendo sacrifícios não conseguem comprar", assegura.
Esta secretária de 55 anos, de Lisboa, não se conforma com o peso em excesso, que já lhe causou outros problemas de saúde, como diabetes, colesterol e hipertensão. Perde a conta aos dias em que se olhou ao espelho e "não aguentava com a obesidade" que via. Quando engravidou, por exemplo, engordou muito e, por altura do parto, estava uma "obesa enorme, tinha 104 quilos".
Ao longo da vida, Paula tentou várias dietas, tratamentos e até fez três cirurgias (banda gástrica, sleeve e bypass). "Eu queria desesperadamente emagrecer", reconhece. Conseguiu por diversas vezes, mas invariavelmente o peso regressou. Agora é este tratamento que alimenta a esperança de se "sentir bem" consigo.
Provoca diabetes e outras doenças
Os obesos "têm 80 vezes mais risco" de desenvolverem diabetes tipo 2, para além de problemas cardíacos, AVC, apneia do sono, entre outras doenças, alerta Carolina Neves, endocrinologista da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. O tratamento da obesidade (perda e manutenção do peso adequado), através de uma "equipa multidisciplinar", é, por isso, um "pilar" do tratamento e prevenção da diabetes. A diabetes não tem cura mas, se for tipo 2 (em fase de pré-diabetes ou com menos de cinco anos) e houver uma perda de peso significativo, pode ocorrer uma "remissão". 90% das pessoas com diabetes têm a tipo 2.