Vários países já deixaram cair obrigatoriedade e alguns colocam a decisão nas mãos das unidades de saúde.
Corpo do artigo
Desde o outono que o uso de máscara para proteção da covid-19 é obrigatório apenas nos hospitais, lares, serviços de apoio domiciliário e unidades de cuidados continuados. De lá para cá, vários países deixaram cair a obrigatoriedade, tornando-a uma recomendação. Outros deixam ao critério dos hospitais.
Três anos depois do primeiro caso de covid-19 em Portugal, o JN perguntou a vários médicos que estiveram envolvidos no combate à pandemia se a imposição do uso de máscara nos serviços de saúde ainda faz sentido. E, apesar de já estar tudo cansado de a usar, as opiniões divergem.
A nível internacional, as recomendações também variam. Enquanto o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças norte-americano retirou a obrigatoriedade de uso de máscaras nos serviços de saúde, o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças recomendou, a 6 de fevereiro último, o uso de máscaras nas áreas comuns dos serviços de saúde e quartos dos doentes nos períodos de elevada transmissão de vírus respiratórios. Uma situação que, pelo que se conclui dos relatórios semanais da Direção-Geral da Saúde, já não se verifica em Portugal.
Para Filipe Froes, pneumologista que coordenou o Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, "a utilização de máscara deve ser revertida de acordo com a diminuição da atividade [do vírus] e o risco de perigosidade para os mais vulneráveis, idealmente com a declaração do fim da pandemia". O médico admite que nalguns contextos possa não ser utilizada, como em consultas de psiquiatria, mas "para quem trabalha com pessoas vulneráveis faz todo o sentido". Ainda assim, reconhece que a máscara nos hospitais não deve ser uma medida "ad aeternum".
O presidente da Associação Portuguesa de Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, entende que "nesta fase faz sentido" usar máscara nos hospitais e lares por causa da circulação dos vírus e do frio que nos leva a estar mais em espaços fechados. Mas não por muito mais tempo.
Retirada gradual
"Reconheço que com a primavera e com o regresso do bom tempo, poderemos deixar cair esta obrigatoriedade e o uso de máscara nesses espaços passar a ser uma recomendação", defende, admitindo que a decisão pode ser revertida em determinados períodos.
A retirada das máscaras na saúde poderá ser gradual, começando pelos serviços menos críticos, "ainda que não seja fácil decidir quais são os de maior risco", diz Tato Borges, defendendo que a decisão poderá ficar ao critério dos hospitais, mas tem de haver diretrizes para não haver desigualdades.
Enquanto o epidemiologista Manuel Carmo Gomes considera recomendável manter as máscaras nos hospitais e lares para proteção das pessoas mais frágeis, Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, tem mais dúvidas. Admitindo não ter uma resposta concreta, lembra que "na esmagadora maioria dos países já não há essa obrigatoriedade". "Percebemos que há populações mais fragilizadas nestes locais, mas com a taxa de cobertura vacinal que temos, é discutível", refere.
Por prudência, porque a máscara ajuda a proteger de outros vírus respiratórios e porque os hospitais têm cada vez mais doentes em tratamentos com imunossupressores, para António Sarmento, chefe de serviço de doenças infecciosas do Hospital de S. João, o uso deve manter-se obrigatório e com regras.
O JN questionou o Ministério da Saúde sobre a manutenção das máscaras nos serviços de saúde e lares, mas não obteve resposta em tempo útil.