Vacinação estagnou, com 64% dos maiores de 50 com reforço de outono-inverno.
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Não chega a dois terços (64%) a população com 50 ou mais anos que, a 19 de fevereiro, tinha recebido o reforço sazonal contra a covid. Com a vacinação praticamente estagnada desde finais de dezembro: três milhões de doses. Cansaço e situação epidemiológica controlada estão entre as explicações avançadas pelos especialistas ouvidos pelo JN. Que admitem a possibilidade de o reforço se manter no próximo ano, em linha com o que se faz para a gripe. Mas tudo dependerá da evolução do vírus, cuja monitorização se impõe.
Sobre os níveis de reforço, António Sarmento, chefe do serviço de doenças infecciosas do Hospital de S. João e a primeira pessoa a ser vacinada em Portugal, conjuga o "cansaço", uma "situação francamente melhor", o facto de muitos já "terem feito três doses" e a libertação de medidas restritivas. E com a chegada da primavera, diz o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, "as pessoas que tencionavam vacinar-se já o fizeram". E explica que "a cobertura vacinal estagnou bastante, com níveis de 0,1% por semana".
Novo reforço: provável
A necessidade, ou não, de novo reforço no próximo outono/inverno está a ser analisada pela Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19 (CTVC), a pedido da Direção-Geral da Saúde. Tendo Graça Freitas revelado, ontem, no Parlamento, "que a tendência será para uma estratégia sazonal de proteção dos mais vulneráveis", numa "campanha parecida com a gripe". Segundo a diretora-geral da Saúde, a indústria está a "trabalhar numa vacina bivalente".
Segundo Carmo Gomes, que integra a CTVC, "a nível internacional começa a reunir consenso a introdução de um reforço sazonal para pessoas com maior risco para doença covid [idosas ou com comorbilidades]". Tudo dependerá do curso que o vírus tomar. Para já, explica António Sarmento, está a seguir "a história natural dos vírus: mais transmissível, mas devido à proteção prévia torna-se menos patogénico".
Mas, recorda, "os vírus são entidades muito imprevisíveis". Sendo fundamental "manter a vigilância, porque a doença não deixou de existir" - Portugal regista cerca de 200 casos diários, mas estima-se que o número seja 13 vezes superior, explica. Mas se, "à medida que vai diminuindo a imunidade induzida pelo reforço, chegarmos a junho, julho, agosto e o vírus não tiver aumentado a sua circulação, o reforço vai-se tornando cada vez menos importante".
Tendo em conta "o conhecimento que temos", o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, admite que, "provavelmente tenhamos de fazer este reforço". Acabando por "atingir um patamar de estabilização, como a gripe", neste outono/inverno nos 74%. Por outro lado, diz o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, sabendo-se que a "imunidade conferida pela vacina nos grupos vulneráveis perde eficácia ao fim de 6-8 meses, é prudente vaciná-los". Pelo menos até não surgir uma "segunda e terceira geração de vacinas".
48 reações graves em três milhões de doses bivalentes
Até ao final do ano passado tinham sido administradas 3,008 milhões de doses de vacinas bivalentes (adaptadas à ómicron, incluindo a cepa original do vírus), das quais 0,09% em menores de 18 anos. Tendo sido notificados 136 casos de suspeita de reação adversa a medicamentos (RAM), "correspondente a 367 reações adversas", lê-se no relatório de farmacovigilância do Infarmed. Sendo que dos 136 casos de suspeita de RAM, "48 foram considerados graves". Dos quais, duas mortes de "doentes idosos". Há ainda registo de 11 casos de incapacidade, cinco de hospitalização e quatro de risco de vida. Já analisando o universo total de vacinas administradas no período em análise, num total de quase 28 milhões, contavam-se 39 135 RAM, das quais 8518 graves. Com registo de 142 mortes, numa mediana de idades de 77 anos, sublinhando o Infarmed que "na grande maioria dos casos notificados" com historial clínico, um resultado adverso fatal pode ser explicado pelos antecedentes clínicos do doente e/ou outros tratamentos".