<p>A Organização Mundial da Saúde reconheceu, ontem, segunda-feira, que houve falhas na gestão da pandemia provocada pelo vírus H1N1, em especial na comunicação das "incertezas" do novo vírus. Em Genebra decorre até amanhã a primeira reunião do grupo de peritos.</p>
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A directora-geral da OMS, Margaret Chan, disse ontem, na abertura dos trabalhos do comité de especialistas criado para avaliar a gestão internacional da pandemia de gripe A, que o que pretende é "um exame honesto, crítico, transparente, credível e independente" do desempenho da organização. "Queremos saber o que funcionou bem e o que correu mal e, idealmente, porquê. Queremos saber o que poderia ter sido feito melhor e, se possível, como", disse, citada pelas agências, na abertura da reunião de três dias do grupo de peritos, que deverá divulgar um relatório preliminar em Maio, para ser analisado na assembleia-geral da OMS, mas cujas conclusões só estão previstas para Janeiro de 2011.
Este comité - composto por 29 especialistas de 28 países - foi a resposta da OMS às muitas críticas e acusações de que terá sido influenciada pelas empresas farmacêuticas na declaração da primeira pandemia do século XXI, em Junho passado, e exagerado na gravidade da infecção, levando os 193 países membros a correr a reservar grandes quantidades de vacinas, que acabaram por não ser utilizadas.
Keiji Fukuda, o principal especialista da OMS em gripe A, reconheceu que houve "dificuldades" na gestão e na comunicação da pandemia e que o sistema de seis fases utilizado pela OMS semeou "confusão" pelo Mundo.
"A verdade é que há uma grande incerteza [numa pandemia]. Penso que não conseguimos transmitir essa incerteza e isso foi interpretado por muitas pessoas como falta de transparência", reconheceu Fukuda, lembrando que havia em todo o Mundo uma enorme sede de informação quando o vírus H1N1 começou a espalhar-se e reconhecendo que a sua letalidade foi bastante inferior ao esperado e à da gripe aviária.
Uma das missões deste grupo de trabalho é rever o Regulamento Sanitário Internacional, criado pela OMS em 2007, que também foi criticado por ter apenas em conta a extensão geográfica do vírus em vez do critério de gravidade. Margaret Chan disse que esta revisão já estava decidida antes da pandemia e que seria feita antes da assembleia-geral da OMS, a ter lugar em Maio.
Uma das dificuldades apontadas pelo director do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, Martin Centron, foi o facto de muitos países não terem a capacidade de determinar, com rigor, a severidade do vírus, o que impossibilitou que a OMS conseguisse apurar a real mortalidade do H1N1 em todo o Mundo. Um representante da delegação do Quénia considerou injusto que, numa situação destas, as novas vacinas e medicamentos sejam tão caros que a maioria dos países pobres não os pode comprar, crítica também feita pelo representante indiano.
