Rotinas virais de beleza estão a prejudicar a pele de adolescentes, alerta estudo
Os célebres 'Get Ready With Me' [Arranja-te comigo, em tradução livre] que se multiplicam nas redes sociais não são inofensivos. Dirigidos sobretudo a meninas e raparigas, estes procedimentos com rotinas de beleza ignoram, na maioria das vezes, a proteção e estão a expor a pele de adolescentes a ingredientes que podem causar irritação e alergias, alerta estudo
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Feitos por raparigas e para milhões de raparigas, os vídeos e tutoriais com rotinas e cuidados de beleza e maquilhagem que abundam nas redes sociais podem ser dermatologicamente perigosos. Estudo pediátrico que envolveu a análise dos produtos usados em conteúdos divulgados na rede social TikTok - conhecidos pelo acrónimo GRWM (Get Ready With Me, Arranja-te comigo em tradução livre) - alerta para o facto de aqueles conteúdos poderem estar a expor as mais novas a substâncias que podem causar alergias e que facilmente ignoram o uso da proteção solar.
A análise, publicada na revista científica Pediatrics, conclui que as meninas e jovens entre os sete e os 18 anos que seguem aqueles tutoriais estão a aplicar diariamente no rosto, em média, seis produtos diferentes, existindo casos em que chegam à dúzia de soluções . "É problemático verificar que as meninas dedicam tanto tempo e atenção à sua pele", indica a autora do estudo, médica e pós-doutorada no departamento de dermatologia da Faculdade de Medicina Feinberg da norte-americana Northwestern University, Molly Hales.
Para lá do volume de produtos aplicados, a investigação conclui que estas rotinas não incluem, na sua maioria das vezes, os cuidados, esses, sim, considerados básicos. Apenas 26% dos GRWM apresentados e para uso durante o dia incluíam a aplicação de protetor solar, matéria considerada sensível uma vez que estamos diante de pele que está ainda em desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, a análise alerta para o facto de os vídeos mais vistos incluírem a aplicação de uma média de 11 princípios ativos considerados potencialmente irritantes. "Geralmente envolvem exposição a ingredientes que apresentam risco de irritação, dermatite alérgica de contato e sensibilidade ao sol", lê-se nas conclusões (cuja síntese pode ser consultada no original aqui). Está-se diante, por isso, de ácidos, retinóides e fragrâncias que aumentam o risco de dermatite alérgica de contato.
"Este alto risco de irritação emerge tanto do uso de vários ingredientes ativos ao mesmo tempo como da aplicação do mesmo ingrediente ativo, sem saber, repetidas vezes, sendo que esse ingrediente ativo foi encontrado em três, quatro, cinco produtos diferentes", alertou a médica e autora do estudo que levantou ainda outras questões. Para lá dos custos, e já lá vamos, a investigação notou padrões sociais que mostram crianças tão pequenas a levantarem-se às cinco da manhã para fazerem a rotina de beleza e padrões de cariz racial. "Vimos que, em alguns casos, havia uma linguagem racial preferencial e codificada que realmente enfatizava a pele mais clara e brilhante", afirmou a professora adjunta de medicina e ciências sociais médicas em Feinberg e ex-elemento da Northwestern Medicine, Tara Lagu, citada pela revista Parents.
Rotinas que chegam quase aos 150 euros por mês
Para lá do impacto dermatológico e mental, a investigadora conclui que cumprir estas rotinas de beleza tem um custo financeiro preocupante, registando uma média de quase 150 euros por mês (168 dólares), podendo chegar, em casos de maior dimensão, a 430 euros (500 dólares) mensais.
Para elaborar este estudo, as investigadoras criaram uma nova conta do TikTok alegando terem 13 anos. Através do 'dossiê' For You (Para Ti), foram compilados 100 vídeos exclusivos considerados virais, ou seja, com uma média de um milhão e 100 mil visualizações.
A partir desta amostra foram reunidos dados como número e tipos de produtos utilizados e custo total dos tutoriais apresentados, criando depois uma lista de produtos utilizados, bem como dos ingredientes ativos e inativos incluídos em todo o processo.
Para Molly Hales, fica claro que está a ser "estabelecido um padrão muito alto para as jovens", com o estudo a apontar, segundo a revista Parents, para a existência de 31% de criadoras destes conteúdos com menos de 13 anos. Em resposta à estação norte-americana CNN, o porta-voz da plataforma TikTok vincou que este tipo de conteúdo é "comum em todas as medias" e vincou que a plataforma é apenas para utilizadores com 13 anos ou mais, sendo que os criadores suspeitos de terem idade menor do que a referida são removidos. O mesmo responsável afirmou ainda que a rede social tem políticas de proteção e trabalha em parceria com médicos especialistas em desenvolvimento de adolescentes.