José Miguel Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, disse, esta quinta-feira em audição parlamentar, que o investimento do Governo para a saúde mental "não é suficiente" e que "devíamos ter um aumento" das verbas destinadas a esta área.
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O psiquiatra e professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa defendeu, esta tarde de quinta-feira, que "devíamos ter um aumento do investimento na saúde mental", após a deputada do grupo parlamentar do PSD, Helga Correia, perguntar se o investimento realizado agora nesta área é suficiente para as necessidades dos portugueses.
"O nosso orçamento é muito modesto comparado a outros países europeus. Os rácios de profissionais que existem nos nossos serviços são ridículos. Colegas de outros países não percebem como conseguimos ter equipas comunitárias com dois enfermeiros quando eles têm 28", lamentou, elogiando, contudo, a vontade do Governo em "corrigir isto" com os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
"O PRR ter dinheiro para a saúde mental há uns anos era impensável. Devemos à covid-19 esta nova abertura em relação à saúde mental", afirmou o psiquiatra que esteve a ser questionado pelos grupos parlamentares do PS, PSD, Chega e Livre a propósito da nova lei da saúde mental.
José Miguel Caldas de Almeida disse que "o Serviço Nacional de Saúde não está a dar resposta a muitas coisas" na área da saúde mental e que "a percentagem de pessoas com doença mental que têm acesso a cuidados é modesta". Alertou ainda para o grande número de pessoas com problemas do foro psicológico que não são diagnosticadas. "A falta de perceção da necessidade de cuidados de saúde mental é muito grande. Logo aí, 30% das pessoas desaparecem porque acham que não precisam de ajuda, acham que é outra coisa qualquer. Mesmo pessoas com doenças mentais graves".
"Psiquiatras são barreira"
O médico psiquiatra chamou a atenção para os vários desafios que temos pela frente quando a nova lei entrar em vigor, dizendo mesmo que "uma das grandes barreiras na reforma psiquiátrica são os próprios psiquiatras" e que "em Portugal existe uma grande resistência à mudança na psiquiatria".
"Em Inglaterra ou em Espanha, há uma atitude de colaboração entre as várias disciplinas profissionais, muito maior do que a que existe cá, com muito mais abertura ao trabalho na comunidade", exemplificou, acrescentando que o grupo responsável pela nova proposta de lei da saúde mental falhou ainda porque "não fez um debate a sério".
José Miguel Caldas de Almeida considerou que a nova lei de saúde mental deveria focar-se em "inovar e "dar mais suporte às pessoas". "A lei é boa, mas só vai ser implementada se houver massa crítica. É preciso retreinar todos os profissionais a pensar de outra maneira e a ter outras práticas, é preciso mudar os sistemas da recolha e análise da informação. Há muita coisa a fazer", frisou.