O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Carlos Cortes, enviou esta terça-feira um ofício à Direção Geral de Saúde, com conhecimento ao ministro da Saúde, retirando a confiança institucional a Diogo Ayres de Campos. A OM pede o afastamento do médico do grupo de trabalho que elaborou a polémica norma dos partos.
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A notícia foi avançada pela CNN Portugal e entretanto confirmada pelo JN junto de fonte oficial da OM: Carlos Cortes enviou um ofício a Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, com conhecimento ao ministro Manuel Pizarro, dando conta de que retira a confiança institucional a Diogo Ayres de Campos, que foi coordenador da Comissão de Acompanhamento da Resposta em Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e bloco de partos quando era ministra Marta Temido. E pede que seja afastado de funções do grupo de trabalho que elaborou a mais recente Orientação Clínica sobre os cuidados de saúde durante o trabalho de parto (orientação 2/2023).
Na base desta decisão está, segundo a mesma fonte, o facto de as várias propostas que foram enviadas por membros da OM ao grupo de trabalho "não terem sido contempladas" na elaboração da nova orientação, publicada em maio pela DGS, e que determina que os enfermeiros especialistas passam a ser responsáveis pela realização dos partos de baixo risco.
Na altura, a OM garantiu que as opiniões técnicas dos médicos seus representantes não foram consideradas e não constam do documento publicado, pelo que pediu à DGS a revogação imediata do documento.
"Absolutamente ignorados"
No ofício a que o JN teve acesso, enviado esta terça-feira mas com data de 19 de junho, lê-se que "os seus contributos e objeções foram absolutamente ignorados, o que igualmente se verificou quanto às posições dos elementos sugeridos pelo Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, Dr.ª M.ª do Céu Almeida e Dr.ª Cristina Guerreiro".
"Na verdade, houve um completo e total desrespeito por parte do Senhor
Coordenador do Grupo de Trabalho pelos indicados médicos, o que inclusive conduziu a que tivessem solicitado que os seus nomes fossem retirados da Orientação, o que, lamentavelmente, ainda não sucedeu", lê-se na carta enviada a Graça Freitas, onde a OM reafirma o pedido para que a norma seja alterada, "porquanto a mesma põe em causa todo um histórico de sucesso de colaboração entre os diversos grupos profissionais envolvidos no trabalho de parto, a segurança das grávidas e dos recém-nascidos".
"Os factos referidos, assim como declarações públicas difamatórias, demonstram um total desrespeito por parte do Dr. Diogo Ayres Campos, Coordenador do Grupo de Trabalho, para com a Ordem dos Médicos, instituição da qual é associado", escreve o bastonário.
Em maio, quando a insatisfação da OM veio a público, a DGS garantiu que a Ordem dos Médicos "nomeou três representantes dos Colégios de Anestesiologia, Pediatria e Ginecologia, e Obstetrícia", e o colégio de Ginecologia e Obstetrícia "nomeou ainda mais dois especialistas" junto do coordenador da Comissão de Acompanhamento, entre os quais o professor Diogo Ayres de Campos, a quem a OM agora retira a confiança.
Santa Maria afastou-o
Recorde-se que Diogo Ayres de Campos está envolvido ainda numa outra polémica, uma vez que na semana passada foi exonerado das funções de diretor de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte com efeitos imediatos. O médico foi afastado pela administração por questionar o projeto de reestruturação no Hospital de Santa Maria e a transferência temporária para o Hospital de S. Francisco Xavier, prevista para agosto.
Segundo uma nota do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) divulgada a 19 de junho, a direção do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução assumiu posições que, "de forma reiterada, têm colocado em causa o projeto de obra e o processo colaborativo com o Hospital São Francisco Xavier, durante as obras da nova maternidade do HSM [Hospital Santa Maria]".
Diogo Ayres de Campos também já tinha defendido publicamente que o modelo de encerramentos rotativos de maternidades traçado pela DE-SNS não era "defensável num país europeu" e tinha de ser temporário.