Dois últimos dias com 88 mortes a mais, sobretudo na região Norte e nos maiores de 85 anos. Temperaturas vão escalar a partir de domingo, altura em que o IPMA deverá ativar o aviso laranja para grande parte do território.
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É um cenário que se repete todos os anos: no inverno, devido ao frio e à gripe; no verão, por ondas de calor; o país regista excessos de mortalidade. Com os termómetros a subir, Portugal contabilizou 88 óbitos a mais face ao previsto nos dias 29 e 30 de julho. Situação que se deverá manter, tendo em conta que as temperaturas máximas vão continuar a subir, devendo oscilar, no início da semana, entre os 35º e os 40º graus, o que deverá levar o Instituto Português do Mar e da Atmosfera a colocar sob aviso laranja (pior, só o vermelho) grande parte dos distritos.
De acordo com os dados consultados na manhã desta quinta-feira pelo JN no site do eVM - sistema de vigilância da mortalidade em tempo real - terça-feira foi o dia desta semana com mais excesso (27%), baixando para +5,7% na quarta-feira. Num total, à data, de 88 óbitos em excesso. Isto porque, explique-se, aquela plataforma, que carrega os certificados de óbitos, está em constante atualização. Pelo que os números de quinta-feira poderão ser superiores. Nesta quinta-feira, até às 16 horas contavam-se 195 mortes.
Neste ano, o país conta 31 dias com excesso de mortalidade, com o maior período a ocorrer entre os dias 30 de junho e 10 de julho. Na altura, a Direção-Geral da Saúde quantificou um excesso de 284 mortes, 70% das quais na população com 85 ou mais anos. O que volta a acontecer agora: daqueles 88 óbitos, o excesso mais significativo é naquela faixa etária. Sendo que no continente apenas o Norte tem óbitos a mais face ao expectável para a época, consecutivamente, desde 26 de julho, com picos de 61,1% naquele dia e de 61,5% a 28 de julho. Respondendo por 86% do excesso dos últimos dois dias, com o restante registado nos Açores.
"É expectável, temos um padrão de mortalidade em Portugal muito associado à componente sazonal. As mortes andam em torno das 300 por dia e depois em dezembro, janeiro, fevereiro tem picos, volta a manter aquela linha com variações impactantes no meio, no período de junho, julho, agosto por causa daquilo que conhecemos com ondas de calor", explica, ao JN, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP). Se acrescentarmos a "circunstância dos incêndios, é expectável que continuemos a verificar um aumento da mortalidade, ainda que os dados, até agora, sejam muito similares aos dos últimos três anos", esclarece Bernardo Gomes.
Agravamento a partir de domingo
Tecnicamente, Portugal não está, neste momento, a viver uma onda calor, que se define por "seis dias consecutivos com a temperatura máxima superior em 5ºC à média para" as estações do IPMA. Não registando aquele instituto uma onda de calor no período de 25 a 30 de julho, explica ao JN a meteorologista Maria João Frada, apesar de "grande parte do território" verificar temperaturas máximas acima da média. E se nesta sexta-feira e no próximo sábado os termómetros até vão aliviar um pouco no litoral oeste, a partir de domingo as temperaturas vão escalar.
Segundo a especialista do IPMA, tudo acumulado, "é muito provável que entre 31 de julho e 6 de agosto possa haver uma onda de calor em grande parte das estações do IPMA". Previsões que apontam para uma subida mais "acentuada" das máximas a partir de domingo, "com maior incidência no litoral oeste, com o vento a rodar para quadrante leste". Com as previsões que possui neste momento, o IPMA, "provavelmente", irá lançar "aviso laranja para o calor nos dias 3 e 4 de agosto para a maior parte do território". Altura em que as temperaturas deverão oscilar entre os 35ºC e os 40ºC, "podendo ultrapassar os 43º graus no interior do Alentejo, no Vale do Tejo e no Vale do Douro", revela Maria João Frada.
Calor e fumo: cuidados a ter
Pelo que, "em termos de impacto direto na mortalidade, é natural que o calor continue a ser protagonista em termos de causalidade", afirma o médico Bernardo Gomes, recordando que "a exposição ao fumo [dos incêndios] pode agravar patologias respiratórias, com descompensações que podem exigir assistência médica, nomeadamente hospitalar". Por outro lado, explica o presidente da ANMSP, "o stress térmico mais o stress da qualidade do ar, e consequentes reações inflamatórias, poderão fazer que exista mais eventos do foro cardiovascular".
Por isso, nunca é demais lembrar e reforçar os conselhos da DGS. No caso do calor, beber água (que não álcool), procurar permanecer em ambientes frescos, evitar a exposição direta ao sol sobretudo entre as 11 e as 17 horas, evitar atividades no exterior e, entre outros, dar especial atenção a grupos mais vulneráveis da população (crianças, idosos, doentes crónicos, grávidas, trabalhadores com atividade no exterior). Se apresentar sinais de alerta como suores intensos, febre, vómitos/náuseas ou pulsação acelerada/fraca deve contactar o SNS24 (808 24 24 24) ou o 112.
Quando à exposição ao fumo, evitar a sua exposição mantendo-se dentro de casa com tudo fechado, utilizar máscara sempre que a exposição for inevitável, manter-se hidratado e evitar a utilização de fontes de combustão dentro de casa. Sendo os sinais de alarme a presença de queimaduras faciais, dificuldade respiratória ou alteração do estado de consciência. Para mais informações deverá ligar, também, para o SNS e para o 112 em caso de emergência.