Desconhecido do grande público e sem palco no Parlamento, o novo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, terá de compensar na rua a sua falta de mediatismo, deixando para os deputados o frente-a-frente com António Costa e seu Governo. Com aposta reforçada na luta dos trabalhadores, será eleito uma semana antes da greve do dia 18 na Função Pública. Vai correr o país, como já fazia com o atual líder e enquanto membro do Secretariado do Comité Central que assegura a ligação ao Norte, onde costuma passar metade da semana.
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Escolhido sem "unanimidade", mas com "ampla convergência", segundo relatos de Jerónimo de Sousa, terá como missão inverter o declínio eleitoral e dar novo fôlego à Oposição, após a encruzilhada da geringonça.
Cumpridos quase 18 anos de liderança de Jerónimo, que também deixa a bancada do PCP por razões de saúde, os comunistas desvalorizam a falta de notoriedade de Paulo Raimundo, embora conhecido das bases.
O atual líder recordou que também não era conhecido quando foi eleito. Aliás, ambos saltaram dos bastidores para o núcleo duro e deste para a liderança.
"É um camarada estudioso, que conhece os problemas e tem tido fundamentalmente tarefas de reforço da organização do partido", destacou o atual líder, lembrando que o dirigente esteve na linha da frente das celebrações do centenário do PCP. Além disso, "não se pode ser conhecido se, naturalmente, não se aparecer".
"A solução segura"
Sobre o seu sucessor de 46 anos, destacou "a garantia de que é uma opção bem sustentada" e "a solução segura que corresponde às necessidades do partido neste momento".
Quando a eleição está marcada para dia 12, Jerónimo admitiu que a proposta começou por gerar "alguma surpresa no Comité Central". "Em relação à solução, quero dizer que houve uma ampla convergência. Não quero dizer unanimidade, porque o rigor dos números nesta matéria é importante", esclareceu.
No hemiciclo, Jerónimo de Sousa deverá ser substituído por Duarte Alves. O PCP deixa de ter o líder no Parlamento, mas os comunistas recusam falar em desvantagem.
O mesmo aconteceu no PS quando António Costa chegou a líder; e no PSD, com Rui Rio e, agora, com Luís Montenegro. Mas os dois primeiros eram autarcas das duas principais câmaras do país e Montenegro liderou o grupo parlamentar do PSD.
"O nosso trabalho é coletivo e sobretudo no terreno", comentou Ilda Figueiredo ao JN. E "não é a Assembleia da República quem define o perfil mediático, também depende da forma como a Comunicação Social encara o secretário-geral de um partido".
A ex-deputada destacou a "grande experiência" de Paulo Raimundo, "profundo conhecedor do que se passa no país e da organização do partido". E o facto de ser "mais virado para o mundo do trabalho não significa que não esteja atento a todos os aspetos da sociedade, da economia à cultura, passando pelo desporto e pela saúde", sem esquecer a ligação à juventude do antigo membro do Secretariado da JCP.
Daniel Vieira também conhece bem Paulo Raimundo. Trabalhou com ele na JCP e, mais recentemente, na Direção Regional do Porto (DORP) do PCP. "Destaco a sua enorme sensibilidade e a forma cuidada como trata cada questão, quer de natureza política, quer no campo pessoal. É, provavelmente, dos dirigentes com maior experiência, com a passagem por diversas funções", referiu ao JN. Além disso, "tem um percurso de vida e uma origem social que lhe permitem conhecer bem os problemas dos explorados".
E o facto de o líder não estar no Parlamento? A seu ver, "o PCP prova, mais uma vez, que as opções que faz não são sujeitas a uma pressão mediática. É um partido com características muito próprias e, com a atividade política e social a que se dedica, esse não será um problema", garante Daniel Vieira, professor de História que é membro da DORP e da direção do Setor Intelectual do Porto, para além de ex-presidente da União de Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova, em Gondomar.