Direita queria discutir caso ainda antes da ida às urnas, partidos da "geringonça" rejeitam tentativa de "instrumentalização eleitoralista" e agendam Comissão para quarta-feira, dia 9, seguindo assim a sugestão do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues.
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A Assembleia da República "pode e deve" continuar a debater" o caso de Tancos, mas "fora de um contexto de campanha eleitoral". É desta forma que Carlos César, líder da bancada parlamentar do PS, justifica o facto de o partido ter recusado a proposta do PSD para formar, já esta quinta ou sexta-feira, uma Comissão Permanente para discutir o processo.
Admitindo que o roubo das armas é "desprestigiante para o país e para as instituições", o deputado socialista garante que o partido apoia a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o tema. Carlos César lembra ainda que os actuais deputados continuam a ter legitimidade após as eleições, uma vez que a legislatura só fica concluída "quando os novos deputados tomarem posse" e que, até lá, a Assembleia da República "não deixa de funcionar".
Esquerda decisiva para o desfecho
À esquerda do PS, a maior preocupação foi deixar claro que a proposta para agendar a Comissão Permanente para a próxima quarta-feira (três dias depois das eleições) partiu do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e que todos os partidos da "geringonça" concordaram em aceitá-la. Pedro Filipe Soares, líder da bancada do BE, reconhece a gravidade do caso mas considera que Tancos não deve tornar-se "o centro da campanha eleitoral", embora mostre a disponibilidade dos bloquistas para integrarem uma Comissão de Inquérito na próxima legislatura.
Opinião semelhante tem João Oliveira, líder parlamentar do PCP, que se congratulou pela derrota de uma tentativa de "instrumentalização eleitoralista" por parte do PSD e ironizou que o caso de Tancos não vai deixar de ter importância depois das eleições. Já Heloísa Apolónia, dos Verdes, diz que caso tivesse sido aceite, a proposta do sociais-democratas transformaria a Assembleia da República num "palco de campanha eleitoral".
Direita fala em Parlamento "cego, surdo e mudo"
Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD, tem uma visão bem diferente. O deputado propunha a criação de uma Comissão Permanente sobre Tancos já esta quinta ou sexta-feira por considerar que o caso "tem gravidade suficiente para ser discutido durante a campanha eleitoral", possibilidade que saiu gorada devido à decisão que, argumenta, os partidos de esquerda "impuseram": "O Parlamento vai ficar cego, surdo e mudo relativamente a um dos casos mais graves que aconteceram nas últimas décadas em Portugal", acrescenta Negrão.
Nuno Magalhães, do CDS, considera que a esquerda passou a mensagem de que "a verdade pode esperar", lembrando no entanto que não foram os centristas a propor uma Comissão Permanente antes da ida às urnas. O deputado eleito por Setúbal recorreu também à ironia para considerar que a reunião entre os líderes de bancada teve mesmo "um certo paralelismo com Tancos", uma vez que se tratou de "uma encenação" em que a esquerda "deu a mão ao PS".
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, também esteve presente na reunião e, à saída, elogiou a "proposta sensata" de Ferro Rodrigues, bem como o facto de se ter evitado "instrumentalizar a Assembleia da República neste período eleitoral". O governo, garante Cordeiro, não se opõe à formação da Comissão Permanente na próxima semana.