Mais de 20 mil cidadãos apresentaram projeto para proibir. PAN, BE e Cristina Rodrigues juntaram-se.
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Treinos violentos, choques elétricos, doping, abandono e um "negócio de milhões" ou "apenas uma festa de amigos", que respeita o comportamento natural de um "atleta nato"? Depois do chumbo em 2019, a discussão sobre as corridas de galgos volta, esta sexta-feira, à Assembleia da República. Há quatro projetos de lei a votação e um deles nasce vontade popular. Querem proibir as corridas de cães em Portugal e acabar de vez com "a crueldade", "a falta de fiscalização" e "o vazio legal".
"Continuam a distorcer os factos que todos os cientistas, bem-estaristas e médicos veterinários com experiência apresentam. Temos horas e horas de imagens captadas em corridas e treinos em Portugal. Não, não é uma realidade que só acontece lá fora", garante Sandra Cardoso, médica veterinária, presidente da SOS Animal e primeira subscritora do projeto de lei apresentado por mais de 20 mil pessoas.
Querem proibir as corridas de cães, punir quem organizar, ajudar ou disponibilizar instalações com pena de prisão até dois anos, quem participar (um ano) e quem assistir (multa de 750 a 5000 euros).
Nova tentativa
Depois de, em 2019, BE e PAN terem visto chumbadas as suas propostas por PS, PSD, PCP e CDS, agora voltam à carga. A eles junta-se a deputada não inscrita Cristina Rodrigues.
Inês de Sousa Real, do PAN, lembra os treinos forçados em noras e passadeiras, o negócio das apostas ilegais e dos bancos de sangue, o abandono dos que já não servem para correr. "O cão não é um atleta. Há muito sofrimento por trás destas corridas", explica. Do lado do BE, Maria Manuel Rola diz que, desta vez, a preocupação foi "distinguir a corrida saudável do cão com o seu dono, de práticas forçadas, contrárias ao comportamento natural dos animais". Introduziu ainda o dever das câmaras de fiscalizar. Também Cristina Rodrigues quer o fim das corridas, mas apenas as que têm fins competitivos.
No caso do galgo-inglês, as corridas são de 250 metros em pista (há seis em Portugal e um campeonato que decorre de março a setembro), tendo como isco uma pele de lebre. Já o galgo espanhol é usado no chamado "corricão", uma espécie de caça à lebre viva. A Federação Nacional de Galgueiros lamenta que "se confundam as coisas". Garante que, com os galgos-ingleses, "haverá um ou outro criador" que recorre ao treino com noras e passadeiras, porque "não os conseguem passear", mas "99% não as usam". Nas corridas, alega o presidente, Nuno Ferreira da Silva, os prémios são "simbólicos", cobrança de bilhetes não há e apostas "nem pensar". O galgo é o único cão que é dador universal de sangue. Fala-se de quintas de dadores enjaulados. A Federação diz que "é um disparate". "Ajudam a salvar outros cães", em troca de desparasitante e vacinas.