Partidos responsabilizam Pizarro sobre "catástrofe" no SNS: "A culpa é toda sua"
Os partidos acusaram, em coro, o ministro da Saúde de não conseguir resolver a situação do setor. À Direita, falou-se em "catástrofe" e em "trapalhadas" que o Governo não sabe resolver; à Esquerda, Manuel Pizarro foi acusado de ajudar a "desmantelar" o SNS. O governante deu poucas respostas aos deputados.
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"O ministro da Saúde não tem ideia do que fazer, não se compromete com soluções e prazos", acusou Miguel Santos, do PSD, esta quarta-feira, num debate solicitado pelo seu partido. "E o primeiro-ministro não está nem aí, faz de conta que não é nada com ele", completou.
O social-democrata considerou que o país está a pagar um "preço inaceitável" pela "guerra" que o ministro declarou aos médicos, nomeadamente a nível de tempos de espera e de fecho de urgências. Criticou Pizarro por, depois de ter reunido com vários responsáveis do setor, apenas ter concuído que é preciso "articular" melhor o trabalho entre todos.
Miguel Santos sublinhou que o país está "penosamente à espera" de que o Executivo trave a "catástrofe" no serviço público de saúde, mostrando-se cético com o reforço que o Orçamento do Estado contempla para o setor.
"Até podem inscrever 20 mil milhões no orçamento da saúde. Toda a gente sabe que é letra morta", referiu, frisando que muitos dos fundos não são executados. Assim, ou Pizarro "sabe e é cúmplice" quando isso voltar a ocorrer "ou não sabe e foi enganado" pelo ministro das Finanças, afirmou, acusando o ministro de fazer uma "triste figura" e desafiando-o a pôr fim à política "de escamoteio e propaganda".
Ministro não revela o que dirá na reunião com os sindicatos
Em resposta a todos os partidos, Manuel Pizarro rejeitou as acusações - comuns a várias forças políticas - de que não tem dialogado com o Parlamento ou com os profissionais de saúde. "Em 25 dias de sessões legislativas, esta é a terceira vez que estou presente no plenário", assinalou, recebendo palmas da bancada do PS.
"Não ignoro, não diminuo e não escondo os problemas do SNS", prosseguiu o ministro, assumindo estar "preocupado" com o estado da rede pública de saúde. No entanto, deu poucas respostas aos partidos, dizendo apenas estar "empenhado num diálogo sério" com os profissionais do setor.
As forças políticas criticaram o ministro por não revelar o que dirá aos sindicatos, com os quais se reúne nesta quinta-feira. "Só não fala para responder às perguntas que lhe fazem", atirou Joana Cordeiro, deputada da IL.
Acusado de "desmantelar" SNS
Pedro Frazão, do Chega, pediu um debate sem "populismos". Em resposta ao PS - que tinha tomado a palavra, através do deputado Luís Soares, para procurar mostrar que a posição do PSD nesta questão estava próxima da da extrema-direita -, afirmou: "O Chega utiliza a palavra caos porque os portugueses estão a usar a palavra caos".
Joana Cordeiro, da IL, considerou que a situação que o SNS atravessa é "muito grave e sem precedentes", criticando a falta de "visão de futuro" do Governo. Alertou que a rede pública não pode ser "assente em horas extraordinárias e na boa vontade" dos profissionais do setor, dando, assim, "toda a razão" às reivindicações dos médicos.
João Dias, do PCP, fez duas intervenções bastante inflamadas contra o desempenho do ministro. Acusando-o de deixar "arrastar" a situação das urgências, de "culpabilizar" os médicos que rejeitam fazer mais horas extraordinárias e de contribuir, de forma premeditada, para "desmantelar" a rede pública, exclamou: "A culpa, com todo o respeito, é toda sua".
Isabel Pires, do BE, considerou que Pizarro se "esconde" atrás das decisões do diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo, e que dá explicações "bizarras", passando a ideia de que "um encerramento planeado [de urgências] é um bom encerramento". Saudou também as exigências "justíssimas" dos médicos, que "deram um murro na mesa" contra o excesso de horas extraordinárias.