Na cidade, na praia ou no campo, os passadiços estão na moda e são a aposta de muitas autarquias que querem aproveitar o crescente interesse dos portugueses, e não só, nos principais locais turísticos do território nacional. A fama dos passadiços aumenta os visitantes das cidades que os têm, ao mesmo tempo que impulsiona os alojamentos e os negócios do comércio e restauração locais.
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A moda dos percursos de madeira em cenários encantadores chega cada vez a mais cidades. Há muitos em fase de construção e outros recém-inaugurados, depois do caminho aberto pelos do Paiva.
Que o diga Arouca, a vila que tem os oito quilómetros de madeira mais famosos de Portugal. Os passadiços do Paiva, na margem esquerda do rio homónimo, já receberam 1,2 milhões de visitantes desde 2015, ano em que foram inaugurados. Só este ano, este atrativo turístico já recebeu uma média superior a 100 turistas diários que aproveitaram a bela paisagem que liga as praias fluviais do Areinho e de Espiunca.
Segundo Margarida Belém, presidente da Câmara de Arouca, os benefícios económicos para o concelho foram notórios desde o início: "Tiveram um impacto significativo de um ponto de vista económico, patente no aumento do número de visitantes ao nosso território e também no surgimento de novas unidades de alojamento, novas empresas de animação turística, para dar alguns exemplos".
Além de serem um ativo turístico fundamental para a região, os passadiços "serão certamente fundamentais para a retoma da atividade turística pós-pandemia", assinala a autarca. Nesta tarefa de reerguer os negócios ligados ao turismo, os passadiços têm a ajuda da vizinha 516 Arouca, a ponte pedonal suspensa de meio quilómetro de extensão e 175 metros de altura a contar do rio Paiva.
Do Minho ao Algarve
Também em madeira, os recém-inaugurados passadiços de Monção são os mais recentes de Portugal. Estendem-se ao longo da muralha de Monção na companhia do rio Minho, num percurso que vai do Centro Histórico da vila à zona ribeirinha. Mas a Câmara Municipal de Monção não se ficou por aqui e já está a construir outro, desta feita nas margens do rio Mouro, que vai permitir a requalificação das margens até à freguesia de Riba de Mouro.
Em construção também está a ecovia do Ave, com parte do percurso em passadiços de madeira, que vai ter uma extensão de 29 quilómetros ao longo do rio Ave, no concelho de Guimarães. Passará por 14 freguesias, umas urbanas e outras rurais, para que "a cidade abrace o rio", define Domingos Bragança, autarca vimaranense. Neste caso, a vantagem turística da ecovia alia-se à ambiental, pois uma maior fruição das margens vai permitir identificar mais cedo os focos de poluição residual e industrial que, ocasionalmente, ainda mancham uma das paisagens urbanas mais deslumbrantes de Portugal.
Impulsionadores da economia local
No que toca a passadiços, embora os do Paiva sejam a pérola e o maior impulsionador desta moda, as variedades são imensas. Há pequenos, grandes, altos, baixos, de natureza, de cidade, junto ao rio, ao mar, à floresta, pagos, gratuitos, de maior ou menor dificuldade. Em comum têm o facto de serem impulsionadores da economia local pela via da atração turística.
A dois passos do Porto, Gondomar é outro concelho com dois passadiços e muitos milhares de visitantes, sobretudo ao fim de semana. O primeiro percurso, o de Gramido (ou Polis), é composto por três quilómetros com vista para o Douro entre a ribeira de Abade e o Palácio do Freixo, no Porto. Tem jardins, parques de merendas, parques infantis, praia fluvial e miradouros (o da Lavandeira é imperdível). O outro, de Rio Tinto, escolta o rio que lhe dá o nome e tem sete quilómetros do parque urbano local até ao parque oriental do Porto.
Mais a sul, com cheiro a mar e ao sabor da maré, os passadiços de Alvor são outro atrativo turístico e económico em ascensão. Situado em Portimão, entre a praia do Alvor e a praia dos Três Irmãos, este percurso de seis quilómetros repletos de biodiversidade tem uma vantagem face aos restantes. Por ser plano, adequa-se a todas as idades. É ideal para apreciar muitas espécies de aves, pequenas praias e sapais ou uma vasta panóplia de dunas. Também é ideal para quem tem um negócio ali, como os cafés, bares e restaurantes que beneficiam da presença assídua de turistas que acorrem ao Algarve.
A pensar na economia local, a Câmara de Redondo também inaugurou, há um mês, os passadiços da serra d"Ossa. Repleto de paisagens naturais, este percurso de quase oito quilómetros e algumas centenas de degraus visa "impulsionar o turismo de natureza, dinamizar a economia local e revigorar as aldeias rurais do concelho", resume António Recto, presidente da Câmara.
Moda também gera polémica
Apesar da crescente construção de passadiços, a moda não é consensual e o risco de exposição de locais da natureza até agora pouco explorados pelo turismo de massas está a gerar críticas. Esta semana, a Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade classificou os passadiços, as pontes suspensas e os baloiços de natureza como "ecoparolices" que "podem ser um atentado às paisagens". Em comunicado, a associação com sede em Vila Nova de Gaia admite que estes atrativos turísticos "podem, durante algum tempo, favorecer negócios locais e atrair visitantes". Contudo, ressalvam, "como todas as modas, também esta passará, deixando o território mais degradado e os locais mais feios".
As autarquias ripostam as críticas com os ganhos paisagísticos das requalificações de zonas há muito abandonadas e com a conquista de outro poder financeiro, municipal e não só, que permitirá engrandecer a aposta na preservação dos ecossistemas naturais e de biodiversidade. Só o tempo dirá quem tem razão