O líder do PSD reconheceu, esta sexta-feira à noite, na abertura do congresso do PSD em Espinho, que a atual maioria de Esquerda que suporta o Governo "tem vindo a ganhar consistência".
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Diz que isso o deixa mais livre para fazer Oposição e desafia o PS para discutir a reforma do "voto preferencial".
"Esta maioria tem vindo a ganhar consistência, devemos reconhecê-lo: o PCP, o BE e o PS podem, aos olhos de muitos, constituir uma maioria um pouco estranha, mas não há dúvidas tem-se vindo a revelar uma maioria consistente", disse Passos Coelho na abertura do congresso, lembrando que por agora o primeiro-ministro tem conseguido governar, dispensando os votos do PSD.
Para Passos, o facto de este o Governo ter não só "consistência no Parlamento" como "uma maioria com identidade", deixa mais livre o PSD. "Podemos exercer o nosso mandato como partido da oposição, sabendo que não é de nós que depende a estabilidade política e o sucesso governativo", disse, garantindo aos congressistas que, apesar de este não ser o projeto do PSD, deseja sucesso ao Governo.
"Sobrarão muitas razões para o PSD ganhar eleições, mesmo que as coisas não corram pelo pior ao Governo", disse.
Passos reconheceu a "legitimidade" que o Governo constrói no Parlamento, com os apoios à esquerda. "Não fomos capazes de ter uma maioria suficiente no Parlamento para governar e aceitamos isso com muita humildade, bem como reconhecemos a legitimidade que o atual Governo busca no Parlamento".
Contudo, lembrou os alertas que têm vindo do exterior e disse que "o Governo tem decidido uma postura desafiadora desses alertas. E só pode aumentar os riscos a que os portugueses estão a ser expostos".
No início do discurso, Passos voltou a fazer uma espécie de mea culpa e a reconhecer que não fez tudo bem quando esteve no Governo. "Com humildade vos digo, não fiz tudo bem. Se voltasse atrás talvez pudesse ter decidido no PSD e no Governo várias matérias de maneira diferente", disse.
Durante o discurso, de mais de uma hora, Passos Coelho disse não esperar eleições "tão cedo" e por isso desafiou o PS para a reforma do sistema eleitoral, para avançar com o "voto preferencial".
"Temos eleições autárquicas em 2017 e vamos ter regionais este ano. Mas não temos eleições à vista e espero que não tenhamos tão cedo, este é o momento certo para discutir as alterações ao sistema eleitoral", disse. "Se já no passado os socialistas concordaram com ele, talvez agora possam mostrar que querem discutir", disse, referindo-se à proposta de introdução do voto preferencial nas eleições legislativas.
Passos dedicou uma boa parte do discurso a falar da eleição do novo "presidente Rebelo de Sousa", cuja eleição deixou os militantes do PSD "muito contentes", disse.
E, como Marcelo está em "início de ciclo", Passos achou por bem deixar uma espécie de caderno de encargos ao presidente. "Cabe ao presidente da República intervir com pensamento e ação, arriscando ter posição sempre que as circunstâncias exijam e pareçam suficientemente relevantes, ou quando a consciência ditar. Neste sentido, um PR ter divergência com quem quer que seja não é desunir, é apenas afirmar a individualidade do cargo", disse. E não se ficou por aqui: "o PR é o presidente de todos os portugueses e não um elemento de afirmação política dos social democratas", disse, insistindo que a sua atuação "não se pode confundir com o legítimo jogo partidário".
Passos Coelho chega a Espinho confiante de que tem o apoio inequívoco das bases do PSD, numa altura em que algumas vozes questionam a sua liderança, mas que não estarão presentes no encontro, como é o caso de Rui Rio e Morais Sarmento.
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Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, afirmou aos jornalistas à chegada a Espinho que Pedro Passos Coelho "não é um líder isolado" e que o partido vai "lutar para recuperar a supremacia em termos de mandatos de câmaras e juntas de freguesia" nas eleições autárquicas do próximo ano, acrescentando no entanto, que qualquer que seja o resultado, não é "condição para poder lograr obter maioria nas legislativas". Ou seja, Luís Montenegro considera que as eleições autárquicas não serão uma prova de fogo para Pedro Passos Coelho dentro do partido.
O congresso não vai ser tão unanimista como parece e isso é bom
À chegada, Luís Menezes, ex-deputado do PSD, disse que talvez "o congresso não vai ser tão unanimista como parece e isso é bom", porque o partido tem de debater a nova estratégia, disse. "O partido deve redefinir-se e reposicionar-se, mantendo os esteios da governação", disse, admitindo que agora que está na "tem que se libertar um pouco mais".
O ex-deputado não quer um PSD mais agressivo, mas "combativo qb". "Quem apela a uma oposição mais agressiva não tem estado perto das pessoas", disse, em jeito de resposta à entrevista do eurodeputado Paulo Rangel, ontem, no Público. Menezes diz que "tem que haver mais proximidade e o PSD assumir mais iniciativas contra coisas que já têm sido feitas pelo atual Governo", disse.