Pedro Nuno mostra contas e quer ser ouvido pelo Ministério Público: "Quem não teme não foge"
O secretário-geral do PS disse, esta quarta-feira à noite, que, "ao contrário de Luís Montenegro", sempre esteve "disponível para o escrutínio". Detalhou as contas e garantiu que vai disponibilizar amanhã publicamente toda a documentação relativa à aquisição dos imóveis. Quer ser ouvido já pelo Ministério Público.
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"Foi com surpresa que soube pela Imprensa da abertura de uma averiguação preventiva pelo Ministério Público com base em denúncias anónimas. Estranho, como todos os portugueses, a coincidência e o momento da divulgação da notícia", começou por reagir Pedro Nuno Santos, a partir da sede do PS, em Lisboa, lembrando que já foi "escrutinado" em 2023 pelos factos que agora originam a investigação e que vieram a público pela primeira vez "durante a última campanha para as legislativas".
Sublinhando que "os políticos têm de estar disponíveis para o escrutínio", defendeu que sempre foi "transparente" e esteve disponível para dar explicações. "É da natureza do cargo. Quando um político evita a todo o custo o escrutínio, a desconfiança aumenta. Não é o meu caso", asseverou, argumentando que, em 2023, respondeu a todos os pedidos dos jornais e emitiu direitos de resposta "quando assim foi necessário".
"As denúncias são anónimas, mas a verdade é pública"
"Não escondi nenhuma conta. Revelei contas conjuntas, contas próprias, valores de venda, valores de compra, valores de passivo, créditos à habitação, cálculos de IMI. Até as contas do meu filho, de oito anos, e o seu saldo foram expostos na comunicação social. Todas as minhas declarações ao Tribunal Constitucional e as da minha mulher, que também exercia cargos públicos, foram escrutinadas à vírgula", afirmou o secretário-geral do PS, defendendo que, "ao contrário de Luís Montenegro", não tem "medo nem do escrutínio do Ministério Público, nem do escrutínio dos portugueses".
Pedro Nuno Santos disse ter toda a documentação relevante para disponibilizar aos jornalistas. "As denúncias são anónimas, mas a verdade é pública. Não vou simular, como Luís Montenegro, que entrego documentos para depois fazer o contrário", acrescentou, garantindo que os documentos em causa estarão amanhã disponíveis online.
A rematar a intervenção, o líder socialista comunicou ainda que gostaria de ser ouvido pelo Ministério Público já na quinta-feira: "Quem não deve não teme. Quem não teme não foge."
Contas detalhadas e desafio a Montenegro
Respondendo aos jornalistas no final da conferência de imprensa, Pedro Nuno Santos detalhou o processo de compra dos seus dois imóveis e voltou a esclarecer que, durante a vida, foi ajudado pelos pais, "como fazem todos os pais que o podem fazer". A casa em Telheiras, comprada em conjunto com a mulher em 2018, custou 740 mil euros e foi paga com um sinal de 92.500 euros de duas contas suas e 647.500 euros de uma conta de ambos (450 mil euros de um crédito à habitação que contraiu e 127.500 euros da conta da mulher). O crédito à habitação em causa foi "passado pouco tempo abatido com o produto da venda" da antiga casa.
Sobre a casa de Montemor-o-Novo, Pedro Nuno disse que foi comprada em 2022 por 570 mil euros, com um sinal de 57 mil euros de uma conta da mulher, tendo os restantes 513 mil euros sido pagos da seguinte forma: cinco mil de uma conta da mulher, 508 mil de uma conta conjunta (456 mil resultado de um empréstimo que ainda hoje está a ser pago).
No fim, Pedro Nuno Santos desafiou Luís Montenegro a aproveitar este momento para "responder ao que ainda não respondeu", nomeadamente identificar todos os clientes da Spinumviva, mostrar prova do trabalho de reestruturação feito à gasolineira Joaquim Barros Rodrigues & Filhos (cliente da Spinumviva que doou 30.500 euros ao PSD) e disponibilizar ainda toda a informação relativamente à compra da sua residência em Espinho.
Compra de imóveis na origem das denúncias
A partir do Largo do Rato, Pedro Nuno Santos reagia à abertura de uma averiguação preventiva, confirmada hoje pela Procuradoria-Geral da República, baseada em denúncias anónimas recentes sobre a aquisição de dois imóveis, um em Lisboa e outro em Montemor-o-Novo, por 1,31 milhões de euros ao todo.
"Na sequência de receção de denúncias e tendo em vista a recolha de elementos, o Ministério Público determinou a abertura de averiguação preventiva, a qual corre termos no DCIAP", confirmou esta tarde fonte oficial da PGR ao JN, depois de o jornal "Observador" ter avançado a notícia. Estas ações de prevenção, acrescentou o Ministério Público, encontram-se previstas na lei.
Caso foi noticiado em 2023
O caso que agora origina a averiguação preventiva já tinha sido noticiado pela revista "Sábado" em novembro de 2023, mas as denúncias, segundo apurou o "Expresso" junto da PGR, serão recentes.
O foco estará na origem dos fundos para a aquisição dos imóveis: uma parte dos 740 mil euros usados para comprar o imóvel em Lisboa, em 2018, terá sido paga a pronto pela mulher de Pedro Nuno Santos, coproprietária do apartamento; os restantes 450 mil euros foram financiados por um crédito bancário que terá sido amortizado na totalidade pouco tempo depois.