O novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, reconheceu que o discurso que fez após ter vencido as eleições internas "não foi espetacular". Contudo, considerou que "também não era suposto" que fosse, uma vez que o momento era de "celebração". Revelou ainda que a sua mulher, que também trabalha na política, irá mudar de vida.
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"Tenho consciência de que [o discurso] não foi espetacular, mas também não era suposto. Era um momento de celebração da vitória", afirmou Pedro Nuno, esta quarta-feira, no programa "Júlia", da SIC, naquela que foi a sua primeira entrevista após as eleições socialistas dos passados dias 15 e 16.
O novo líder do PS disse estar ciente de que a avaliação dos comentadores políticos "não foi positiva, antes pelo contrário". Admitiu que o discurso foi improvisado e que lhe saiu "naquele momento", depois de, durante dois dias, ter estado mergulhado na análise dos resultados eleitorais que iam sendo apurados.
Pedro Nuno salientou que, naquele momento, o "mais importante" era "festejar a vitória" eleitoral e não discursar "sobre o programa [do PS] ou sobre o futuro". Admitiu que estava a preparar-se para ser candidato a líder do PS em 2026, mas que a convocação de eleições antecipadas o fez avançar mais cedo. "Obviamente que não estava na cabeça de ninguém, e muito menos na minha, que fosse naquela altura", assegurou.
Mulher trabalha no Governo mas passará a "fazer outra coisa"
Pedro Nuno anunciou também que a sua mulher, Catarina Gamboa - atualmente chefe de gabinete do ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro - deixará a política "e vai fazer outra coisa", como forma de separar as águas entre o percurso profissional de ambos. Garantiu que essa decisão foi tomada "em conjunto" pelo casal.
O socialista revelou que conheceu Catarina na Juventude Socialista - o que considera natural, tendo em conta os meios que ambos frequentavam. "As pessoas apaixonam-se por pessoas com quem convivem diariamente", frisou.
Em 2019, o facto de Catarina Gamboa trabalhar para o Governo suscitou polémica e fez com que, na altura, Pedro Nuno saísse em defesa da mulher. Na entrevista à SIC, considerou que esse episódio foi "injusto", frisando que qualquer pessoa tem direito a fazer "o seu percurso" sem que lhe apontem que só o conseguiu por favorecimento. Considerou que o "massacre" à vida privada dos políticos é o lado "horrível" do caminho que escolheu.
Questionado sobre as polémicas na TAP - como a indemnização a Alexandra Reis -, Pedro Nuno respondeu que é errado ficar-se "preso a um pequeno episódio". Considerou que, durante o seu período enquanto ministro das Infraestruturas e da Habitação, o Governo conseguiu "salvar a empresa" e colocá-la a dar lucro.
Infância "privilegiada" e revolta com as desigualdades
Na entrevista, Pedro Nuno Santos falou da sua infância "privilegiada", educado por um pai que começou por militar na Organização Comunista Marxista-Leninista, de cariz maoista - mais tarde passaria a votar no PS e tornou-se empresário - e uma mãe católica e "mais conservadora". A discussão política em casa "esteve sempre presente", relatou.
O novo líder do PS disse que, enquanto jovem, se "revoltava" com as desigualdades sociais. "Não compreendia por que é que eu tinha uma vida boa e grande parte dos meus amigos não tinha", frisou, acrescentando: "Havia momentos em que me sentia mal".
Pedro Nuno, que está ligado ao PS desde os 14 anos - primeiro através da Juventude Socialista, que chegou a liderar -, revelou ainda que se inscreveu na "jota" depois de uma derrota eleitoral de Jorge Sampaio. Aos que o acusam de carreirismo, respondeu que não se pode lamentar que os jovens não participem na política e, depois, criticar aqueles que o fazem.