O país começa amanhã o desconfinamento a "conta-gotas". O primeiro-ministro avisou que a avaliação aos indicadores de risco será feita a cada 15 dias e que se for preciso voltar atrás no processo, esse movimento será regional e não nacional. A proposta feita pelos peritos ao Governo, apurou o JN, é que esse modelo deve abranger concelhos limítrofes e deixar de ser concelho a concelho.
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"Dois concelhos vizinhos têm tendência a nivelar-se. Há sempre mobilidade", explica Óscar Felgueiras. O professor de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, um dos peritos que colaborou no relatório que define as "linhas vermelhas" para avaliação da situação epidemiológica local e nacional, explica que, ao Executivo, foi proposto a criação de uma taxa de risco de incidência local que envolveria concelhos limítrofes. Por exemplo, no caso do Porto, a aplicação de medidas restritivas deve ser tomada, tendo em conta os dois indicadores de risco (mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes e índice de transmissibilidade, Rt, acima de 1,0) de mais quatro concelhos vizinhos: Matosinhos, Maia, Gondomar e Gaia.
Este modelo, defende, reduz a grande disparidade regional verificada até agora e desvaloriza situações de risco elevado em concelhos com poucos habitantes e com um surto num lar.
"Na prática, vai haver concelhos que vão baixar de risco e outros que vão subir, mas, do ponto de vista geral, será mais vantajoso. É que a avaliação concelho a concelho mostrou produzir efeitos, mas não tinha em conta o contágio por proximidade", explica.
O professor discorda de um modelo de reconfinamento por regiões mais alargadas, como ao nível distrital, por áreas metropolitanas ou por comunidades intermunicipais. Aponta, como exemplo, o caso de Resende e Lamego, dois concelhos que estão com uma taxa de incidência superior à média nacional e que, por isso, estão com um risco de incidência local mais elevado. Pertencem ambos ao distrito de Viseu, que não está com os mesmos valores, e estão integrados em comunidades intermunicipais diferentes, pelo que uma avaliação a partir deste nível de divisão administrava pode não ser tão eficaz, considera.
MENOS DE MIL INTERNADOS
Ontem, registaram-se 19 mortos, mais 564 novos casos de infeção e o número de internamentos e de doentes em cuidados intensivos é o mais baixo dos últimos cinco meses.
Pela primeira vez desde 14 de outubro, o número de internamentos é inferior a mil, baixou pelo décimo dia consecutivo para 980 (menos 66 do que anteontem). E o número de doentes em unidades de cuidados intensivos (253, menos 13 do que na sexta-feira) também é o mais baixo desde 27 de outubro. De acordo com o o boletim diário da Direção-Geral de Saúde (DGS), registaram-se mais 19 mortes (mais quatro do que anteontem), 14 entre pessoas com mais de 80 anos. Lisboa e Vale do Tejo é a região com maior número de casos (208) e de óbitos (13).