Assinala-se esta sexta-feira um ano sobre o encerramento das atividades letivas presenciais, que, posteriormente, daria lugar ao primeiro estado de emergência e confinamento geral da população. De então para cá, o país viveu entre períodos de suavização e agravamento de medidas para a prevenção da covid-19. Do "milagre português" em março de 2020 ao top dos piores países do Mundo em janeiro último. O JN recorda aqui os principais momentos que marcaram a vida dos portugueses neste período inédito e mais atípico das suas vidas.
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À média de um estado de emergência por mês - votou-se esta quinta-feira o 13.º -, Portugal confirmou o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus a 2 de março de 2020. Mas este era apenas o início de uma pandemia que arrastou o país para situações nunca antes imaginadas, como a limitação de movimentos, o fecho de escolas e da explosão do teletrabalho. Até hoje, os picos da pandemia foram divididos em três vagas, cada um com a sua especificidade.
Primeira vaga
A 12 de março de 2020, dez dias depois da Organização Mundial de Saúde declarar oficialmente a pandemia, António Costa anunciava ao país que as aulas em regime presencial seriam interrompidas e substituídas pelo ensino à distância. Anuncia também que, quatro dias depois, fechariam as discotecas, bares e era estabelecida a lotação máxima em restaurantes, centros comerciais e serviços públicos. São ainda retomados os controlos fronteiriços terrestres e a proibição de desembarque de passageiros de cruzeiros. Passa também a ser proibido o consumo de bebidas alcoólicas na via pública. Museus, monumentos e palácios nacionais fecham também e a Conferência Episcopal Portuguesa suspende missas e outras cerimónias.
Na mesma data é anunciada a suspensão das competições oficiais de futebol e futsal.
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E é em Ovar que, a 17 de março, se regista o primeiro ensaio para o confinamento, com o levantamento de uma cerca sanitária, que fecha o concelho ao exterior, algo de inédito até aqui. A quarentena obrigatória só é levantada um mês depois, a 17 de abril.
No dia seguinte, o presidente da República promulga o primeiro estado de emergência. São suspensas as ligações aéreas de fora e para fora da União Europeia, todo o comércio não essencial é encerrado, Apenas as pequenas mercearias e outras lojas de bairro de pequena dimensão podem continuar a vender, mas limitadas a vendas ao postigo O teletrabalho passa a ser obrigatório. O país fecha-se em casa e os cidadãos só podem circular na via pública em casos expressamente previstos na lei.
No início de abril, é decretada pela primeira vez a proibição de circular para fora do concelho de residência, no fim de semana da Páscoa (11 e 12).
É também a 18 de abril que a ministra da Saúde revela que as consultas, cirurgias e demais atividade assistencial não urgente, suspensas em março, vão ser retomadas progressivamente. Ainda no mesmo mês, a 24, António Costa volta a anunciar a proibição de deslocações entre concelhos no fim de semana prolongado de 1 a 3 de maio. A polémica surge logo no dia 1, quando se juntam centenas de pessoas na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, nas comemorações do Dia do Trabalhador.
Desconfinamento
Maio é o mês em que as medidas começam a suavizar após o embate do confinamento total. Logo no dia 3 o país deixa de estar em estado de emergência e é anunciada a situação de calamidade, com aplicação faseada das medidas de desconfinamento.
Os serviços culturais começam a abrir e os transportes públicos só poderão circular com dois terços da capacidade e com obrigatoriedade do uso de máscaras. A partir de dia 4, são proibidos ajuntamentos de mais de 10 pessoas. Para dia 18 fica agendada a abertura de restaurantes e cafés e início das aulas presenciais no 11.º e 12.º ano.
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No sentido inverso, é anunciado o cancelamento do Rali de Portugal. Também a maratona e meia maratona de Lisboa são adiadas para 2021. Já o futebol tem data marcada para o regresso. A Liga de Clubes anuncia que a I Liga de futebol, suspensa desde 12 de março, recomeça a 3 de junho, ainda que com jogos são à porta fechada.
Com os portugueses de volta à rua, o final do mês é marcado pela aprovação da terceira fase do plano de desconfinamento, dia 29, com restrições e regras especiais para a área de Lisboa, onde os casos de covid-19 aumentam. Aqui continuam limitações a ajuntamentos (não mais de 10 pessoas).
O fim do dever cívico de recolhimento acontece no primeiro dia 1 de junho e dois dias depois os restaurantes podem voltar à atividade normal, desde que assegurem distancia e usem acrílico entre clientes. Em Lisboa, os centros comerciais reabrem dia 15.
Volta o futebol e começa a época balnear
Com a chegada do verão, as bateria apontam agora às férias. É estabelecido que nas praias deve ser assegurado o distanciamento de 1,5 metros entre os grupos e é colocada sinalização que indica a capacidade máxima de frequência. A 1 de julho desaparece também a obrigatoriedade do teletrabalho. No mesmo dia, reabrem os ginásios.
Ainda no primeiro dia de julho, são reabertas as fronteiras terrestres com Espanha.
A situação da pandemia dá sinais de abrandamento e é anunciada para outubro a realização do Grande Prémio no Autódromo Internacional do Algarve. É o regresso da Fórmula 1 a Portugal, 24 anos depois.
O mês de agosto arranca com a disputa da final da Taça de Portugal, entre F.C. Porto e Benfica em Coimbra, ainda que sem público nas bancadas. A 12 do mesmo mês arranca em Lisboa uma inédita fase final da Liga dos Campeões, que viria a ser conquistada pelo Bayern de Munique.
Ainda assim, a Área Metropolitana de Lisboa permanece em situação de contingência, com limitações de horários.
Já em setembro, o Conselho de Ministros aprova medidas a aplicar na situação de contingência em todo o país, a partir de dia 15, coincidindo com o regresso às aulas e o fim das férias. Os ajuntamentos voltam a estar limitados a 10 pessoas e o comércio só pode abrir às 10 e deve encerrar entre as 20 e as 23 horas. Junto às escolas, nos cafés e restaurantes os grupos não podem exceder as quatro pessoas.
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Para tentar evitar a já então aventada segunda vaga, a DGS anuncia que passará a ser recomendado o uso de máscaras em espaços públicos movimentados. Mas só a 14 de outubro o país passa da situação de contingência para situação de calamidade. A partir da meia-noite, passam a estar proibidos os ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública. Já em eventos familiares (como casamentos) não podem ter mais de 50 pessoas.
E é no Algarve que o primeiro evento com menos limitações de público corre mal. A 23 de outubro, disputa-se o Grande Prémio de Portugal, com as imagens a revelarem a total falta de respeito pela regra do distanciamento físico. O comportamento do público leva António Costa a reverter a autorização de permitir espetadores, que teria lugar a 22 de novembro.
No final do mês de outubro, voltam as restrições à mobilidade, com a proibição de circulação entre concelhos nos primeiros dias de novembro, para evitar deslocações no Dia de Finados.
Com a acalmia do verão já distante, no último dia de outubro, o Governo reúne-se durante todo o dia para no final anunciar o confinamento parcial em concelhos com mais de 240 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. São abrangidos 121 municípios, que a partir de 4 de novembro têm o dever cívico de recolhimento obrigatório. Há novos horários nos estabelecimentos e o teletrabalho volita a ser obrigatório. Feiras e mercados voltam a ser proibidos.
Segunda vaga chega com o inverno
Logo no início do último mês do ano, os concelhos com risco de transmissão de covid-19 muito elevado e extremo voltarão a ter proibição de circulação na via pública a partir das 13 horas nos fins de semana de 12 e 13 e de 19 e 20 de dezembro. O aumento das infeções e internamentos confirmam que o país enfrenta já a segunda vaga da covid-19.
No dia 17, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decreta a renovação do estado de emergência por mais 15 dias, até 7 de janeiro, e pede aos portugueses "bom senso" na celebração do Natal. As restrições são aliviadas nesta quadra, embora agravadas na passagem de ano, onde imperou o recolhimento obrigatório e não foram permitidas as tradicionais celebrações de rua.
Dois dias depois do Natal, o país assiste a um dos momentos mais importantes deste ciclo, com a administração das primeiras vacinas contra a covid-19, no caso a profissionais de saúde.
O início de 2021 acentua o agravamento da situação epidemiológica. Ainda mal refeito da segunda vaga, o país entra quase abruptamente na terceira. A chegada da variante britânica agrava o panorama, o caminho para o abismo parece incontornável.
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As imagens de hospitais no limite da capacidade, com filas de ambulâncias à porta madrugadas inteiras correm Mundo. De repente, Portugal lidera torna-se no país em pior situação a nível de contágios e óbitos. Países estrangeiros como a Alemanha enviam equipas médicas de apoio
A 13 de janeiro, António Costa, no final do Conselho de Ministros, não deixa dúvidas: "Estamos a viver o momento mais grave desta pandemia". O Governo tenta ainda assim evitar a todo o custo um novo confinamento,. mas essa pretensão não chega sequer ao final do mês. A confirmação oficial chega dia 15.
Sem alternativa, é anunciado o novo confinamento, ainda que se mantenham as escolas abertas. Estas seriam porém encerradas no dia 21.
Em todo o país, a partir de 20 de janeiro, todo o comércio não alimentar volta a fechar. Lojas de rua, centros comerciais, cabeleireiros, esteticistas e ginásios. De igual modo, os restaurantes, bares e cafés são obrigados a para, ainda que, tal como no primeiro confinamento geral, possam funcionar em regime de take-away ou entregas ao domicílio.
As restrições não ficam por aqui. São proibidas as transações ao postigo de qualquer loja e os cafés restaurantes não podem vender nenhuma bebida, incluindo café e água. A restauração nos centros comerciais fica sem qualquer atividade, não sendo sequer permitido take-away.
O teletrabalho volta a ser obrigatório e as deslocações entre concelhos proibidas ao fim de semana.