Além da idade, doenças como cancro, diabetes e obesidade passam a estar na lista das prioridades da vacinação contra a covid-19. A vacina da Janssen mantém-se para já sem restrições.
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"Vamos entrar agora numa fase de maior disponibilidade de vacinas", anunciou Marta Temido, nesta quarta-feira, em conferência de imprensa conjunta com as principais figuras do combate à pandemia e do processo de vacinação em Portugal. O "problema de escassez" dá agora lugar ao desafio "da rapidez e celeridade na administração de vacinas", que inclui o agendamento das inoculações, acrescentou a ministra da Saúde, lembrando que, só no fim de semana, foram administradas no país cerca de 183 mil vacinas.
Graça Freitas enumerou quatro passos essenciais no "puzzle complexo" do processo de vacinação: a capacidade de fabricar vacinas, o licenciamento, as regras implementadas pelas autoridades de saúde e a operacionalização.
Nesta segunda fase de vacinação, haverá duas prioridades, detalhou Graça Freitas: a idade e as comorbilidades dos utentes. Ou seja, as vacinas serão administradas consoante a faixa etária (a dos 70 aos 79 anos é agora fundamental), mas não esquecendo algumas patologias graves. Neste grupo, incluem-se pessoas com doença oncológica ativa (a fazer tratamento), doentes em situação de transplantação, pessoas com imunossupressão (infeção por VIH, por exemplo), doenças neurológicas (como esclerose lateral amiotrófica), doenças mentais (esquizofrenia), obesidade (acima de 35% do índice de massa corporal) e diabetes tipo II.
Quem recuperou da covid-19 há mais de seis meses (a contar a partir da data da cura) começará a ser vacinado no final de maio, assim que terminar a vacinação das pessoas com mais de 60 anos, disse Graça Freitas. "Nesses seis meses há evidência científica de que a imunidade é muito boa, será até melhor do que a da própria vacina."
Vacina da Janssen vai manter-se
O plano de vacinação, para já focado na faixa etária dos 70-79 anos, vai continuar a integrar a vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson. "Neste momento não há qualquer restrição desta vacina neste grupo etário", justificou Marta Temido, acrescentando que "a questão que se poderá suscitar é se haverá alguma restrição etária". Mas, para já, "a comissão técnica de vacinação contra a covid-19 está ainda a analisar e a rever as decisões da Agência Europeia do Medicamento [EMA] para verificar se há ajustamentos a fazer na aplicação da vacina" em Portugal.
Depois de terem sido detetados oito casos de formação de coágulos nos EUA, o regulador europeu reforçou a confiança na vacina da Janssen, salientando que os benefícios continuam a ser superiores aos potenciais riscos. As situações em causa, uma das quais fatal, dizem respeito a mulheres com idades entre os 18 e os 49 anos e foram reportadas cerca de três semanas depois da vacinação. O primeiro-ministro manifestou-se entretanto "satisfeito" com a decisão da EMA, salientando que o Governo cumprirá a decisão técnica da DGS e do Infarmed.
Portugal também vai receber vacinas da CureVac e Novavax, disse o presidente do Infarmed.
"Neste momento, em relação a qualquer uma das quatro vacinas aprovadas pela União Europeia existem condições para a sua utilização" e "não há nenhuma razão para constrangimento", sobretudo quando o alvo são utentes entre os 70 e os 79 anos, disse o presidente do Infarmed, Rui Ivo, notando que as conclusões da EMA sobre Janssen ainda estão em avaliação.
Quanto à segurança da vacina da AstraZeneca, o responsável disse que a informação recebida está a ser analisada de forma a conhecer melhor os riscos, remetendo, para o final da semana, uma avaliação mais detalhada sobre a sua utilização por parte do regulador europeu.
20% da população com uma dose e 7% com duas
Das 2,9 milhões de doses de vacinas aprovadas pelo regulador europeu que já chegaram a Portugal (a que acrescem mais 30 mil doses da Johnson & Johnson), 2,7 milhões já foram administradas, disse Marta Temido, detalhando que cerca de dois milhões de pessoas foram vacinadas com uma dose (20% da população) e 700 mil tem processo vacinal completo (quase 7%). Dentro do grupo das pessoas com mais de 80 anos, 91% já receberam a primeira dose e 58% já foram inoculadas com as duas doses.
Entre a terceira semana e o final de maio, todos os indivíduos com mais de 60 anos estarão vacinadas com pelo menos uma dose, estimou a ministra da Saúde.
O coordenador da "task force" para a vacinação, Henrique Gouveia e Melo, espera vacinar 100 mil pessoas por dia, todos os dias durante os próximos quatro meses. A tarefa vai ser desempenhada primordialmente por funcionários do Ministério da Saúde mas, se for preciso, serão contratados profissionais de saúde de fora, indicou o responsável
Confrontado com a falha de energia elétrica no Centro de Vacinação de Famalicão, que nesta madrugada inutilizou milhares de vacinas (2400 segundo Gouveia e Melo, 5000 segundo Lacerda Sales), o responsável afirmou que "conseguir fazer este processo todo sem um único erro é impossível" e que, quando estas situações acontecem, há que investigar as causas e corrigi-las. "Muitas vezes não é negligência ou dolo, é porque houve acidentes."
"Problemas num processo desta dimensão e com esta complexidade irão sempre acontecer. Neste momento, de todas as vacinas que foram inutilizadas, incluindo estas 2400 vacinas - ainda não temos a certeza, mas é o que pode estar em causa -, estamos a falar de cinco mil vacinas desde o início do processo de vacinação", sublinhou o almirante, considerando que cinco mil vacinas inutilizadas em quase três milhões de doses recebidas representa uma "percentagem ínfima".