Miguel Pinto Luz promete um PSD de novo maioritário e diz que adversários afunilam partido. Candidato à liderança recusa uma aproximação ao PS "mais radicalizado de que há memória"
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Um PSD "todo-o-terreno", que vá da Direita ao Centro e volte a ser maioritário, em vez de um partido "passivo" a reboque do PS é o que promete o candidato Miguel Pinto Luz, comparando Rui Rio às "moças casadoiras" que esperam ser chamadas para dançar. Na hora de apontar diferenças, o vice-presidente da Câmara de Cascais diz que Rio faz da política um confronto permanente e Luís Montenegro é mais congregador. Mas ambos "afunilam" o PSD.
Prefere o PSD mais à Direita como Luís Montenegro ou mais ao Centro como Rui Rio?
Prefiro um PSD à PSD, que tem um centro de gravidade conhecido dos portugueses há mais de 40 anos. Nem está à Direita nem ao Centro. É um PSD que consegue oferecer políticas de qualidade aos eleitores do Centro mas também ter uma oferta para os eleitores do centro-direita. Portanto, esta busca quase estéril da pureza ideológica do PSD tem delapidado o seu património. Os meus dois concorrentes afunilam e afastam o partido das grandes maiorias. São posturas que não levam o PSD a ser aquele grande partido maioritário que já conhecemos no passado.
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Mas concorda que deve crescer ao Centro?
É verdade que o Centro é onde existe aquele milhão e meio de eleitores, que gravitam entre PS e PSD. E é esse milhão e meio que temos de reconquistar. O PSD deixou de ter uma proposta para o eleitorado do Centro.
Como pode o PSD reconquistar esses eleitores?
Não é dizendo que vamos recentrar o PSD. Temos de oferecer aos portugueses respostas para os seus problemas e não estar à espera que o PS nos chame para um qualquer acordo de regime ou para um qualquer posicionamento estratégico.
Quer recuperar o PSD de antigamente?
É bom irmos à história e recuperarmos coisas boas, de um partido de militância ativa, não o partido de quadros em que nos temos vindo a transformar. Temos perdido muita militância, prova disso é o caderno eleitoral nestas diretas. Mas regressar ao passado sem uma dose de contemporaneidade, sem adaptar o PSD aos novos tempos, também não resolve os problemas dos portugueses e não nos aproxima dos eleitores. Preocupa-me que o PSD tenha um discurso de regresso a uma social-democracia para um país que já não existe.
O PSD está expectante, sentado, numa atitude passiva à espera que o PS o chame. É quase como aqueles bailes da aldeia em que as moças casadoiras estão à espera que os homens as convidem para dançar
Em que ex-líder se revê?
Há um em que me revejo de forma muito natural porque sou amigo e tive orgulho em pertencer a um Governo dele. Fui membro da sua primeira comissão política nacional. É Pedro Passos Coelho, de quem me sinto mais próximo e que mais inspira.
E para a próxima liderança, se houver segunda volta entre Rio e Montenegro, quem prefere?
No dia 11 de janeiro, serei ou não merecedor da confiança dos militantes. Mas depois esses votos não me pertencem. Na segunda volta, não apoiarei nenhum dos dois candidatos. O sentido de voto ficará para mim. E não é cenário que coloque apoiar A ou B porque coloco o cenário de vencer as eleições.
O que mais distingue os seus dois adversários?
Rio acha que o PSD tem que se recentrar. Luís Montenegro tem um posicionamento muito mais à Direita. Portanto, esquecem a capacidade todo-o-terreno do PSD de ir da Direita ao Centro. Colocam-se nos extremos opostos dentro de um partido que não tem essa história de se extremar tanto.
Menos no conteúdo e mais na forma, como distingue as suas atitudes?
São substancialmente diferentes. Rui Rio é alguém que faz da política um confronto permanente. Gosto do confronto de ideias, mas não consigo ter essa atitude maniqueísta dos bons e dos maus. Luís Montenegro é mais congregador desse ponto de vista. Se calhar, a sua costela de parlamentar dá-lhe essa capacidade. Um é um autarca, outro parlamentar, pode ter a ver com essa parte da sua história.
Está a gostar de ver Rio na liderança da bancada?
Tenho visto pouco. Não tem exercido o cargo como um líder parlamentar deve exercer, mas é natural. Elogiei a sua atitude de assumir a presidência da bancada neste período de transição.
Agenda do PS é permanentemente virada à Esquerda e com complexo ideológico. Queremos PPP na Saúde se isso significar melhor prestação de cuidados e mais baratos
Se for eleito presidente do PSD, como vai lidar com uma bancada afeta a Rio?
Com a minha capacidade de congregar. Creio que é uma bancada afeta ao PSD, não a Rui Rio. Sabemos que foi escolhida de modo muito especial, com grandes clivagens internas e exclusões. Por isso, não fujo à questão. É difícil, mas são esses desafios que me motivam.
Acusa o atual presidente do partido de "subalternização ao PS"? Porquê?
Quando peço aos portugueses para dizerem duas ou três bandeiras do PSD, ninguém consegue. Perdeu a iniciativa política. Tem lançado âncoras ao PS, esperando que lhe dê guarida. Mas temos o PS mais radicalizado de que há memória, escolheu a extrema-esquerda para se coligar. Ainda assim, o PSD está expectante, sentado, numa atitude passiva à espera que o PS o chame. É quase como aqueles bailes de aldeia, em que as moças casadoiras estão à espera que os homens as convidem para dançar. Os portugueses têm de sentir que o PSD tem ímpeto reformista.
Rio queixa-se de ter sido prejudicado por um clima de guerrilha constante.
Sempre disse que o líder teria o meu apoio para levar o mandato até ao fim. Mais: nas ultimas eleições, mesmo tendo sido excluído das listas, fiz campanha. E costumo dizer que Rio seria muito melhor primeiro-ministro do que António Costa. É muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. Rio alimenta-se desse clima de confronto, não lhe darei combustível para essa atitude truculenta e de permanente confronto.
Desafios para próximas eleições
Montenegro promete maioria absoluta em 2023. Qual a sua meta?
Fazer do PSD um partido maioritário . E fico contente por Luís Montenegro ter hoje esse discurso. No início da campanha, começou com um discurso de que o PSD passaria, para voltar ao Governo, por uma grande coligação de todas as siglas do Centro-direita. Não será certamente com sete deputados à nossa Direita que vamos fazer a grande maioria de que precisamos.
E para as autárquicas? Acredita que vencer Porto e Lisboa é possível?
O objetivo é ganhar as autárquicas, a Associação Nacional de Municípios Portugueses e a Associação Nacional de Freguesias. O caminho é cheio de obstáculos, perdemos muitas câmaras. Temos duas metas. Regenerar, ou seja, ir buscar rostos novos, mobilizadores e catalisadores da sociedade civil, escondidos numa militância quase abafada em décadas e décadas de PSD. Depois, agregar. Perdemos muitas câmaras, não só para o PS mas para dentro, com guerras intestinas que o eleitorado não percebe. O líder do partido não pode estar fora da primeira linha das escolhas, em conjunto com distritais e concelhias. E, naturalmente, tenho a esperança de reconquistar as câmaras do Porto e de Lisboa.
Voltará a ser candidato?
Tenho um presidente de Câmara eleito com quem me orgulho muito de fazer política. Portanto, serei candidato em Cascais nas próximas eleições autárquicas, ao lado de Carlos Carreiras, naturalmente.
Vamos ter novo golpe de teatro com o Orçamento
Admite um entendimento com o PS para acordos de regime e grandes reformas? Já defendeu um acordo para o Ambiente.
Não acredito em acordos de regime com este PS. E a única área onde defendo esse acordo é o Ambiente. Há grande consenso em torno da questão ambiental. Pode ser o novo desígnio nacional: acelerar o roteiro para a neutralidade carbónica. Estarei disponível para esse acordo de regime, não só com o PS, mas com todas as forças. O PSD deve estar disponível para o diálogo. Mas tenho visto o comportamento do PS nos últimos anos, de radicalizar, não querer olhar para a sua Direita, mas só para a sua Esquerda sempre que quer fazer mudanças na sociedade.
E para a regionalização?
Tenho defendido a reabertura do debate. Tivemos um referendo, ganhou o "não" e eu próprio também defendi o "não". Mas a questão que se coloca, volvidos 20 anos, é que o país continua desequilibrado e as assimetrias são cada vez mais gritantes. Por outro lado, o modelo de gestão territorial não serviu os portugueses. Mas só pode haver processo de regionalização com novo referendo. E, antes, deve haver uma discussão prévia e profunda na sociedade, nos partidos, nas associações e nas universidades para percebermos o que correu mal nestes 20 anos.
Mas qual a sua posição?
Apesar de ter sido contra no passado, nesta altura não tenho nenhum dogma ou preconceito em avaliar propostas de novo modelo de reorganização administrativa.
Não é contra nem a favor?
Sou a favor do início do debate, andamos a fugir dele há demasiado tempo. O PS propôs a eleição dos presidentes das comissões de coordenação e desenvolvimento regional. Estamos a proceder a alterações quase a caminhar para uma regionalização sem termos previamente perguntado, outra vez, aos portugueses que caminho querem trilhar.
No Orçamento do Estado para 2020, o PSD não tem outra alternativa senão votar contra?
Não tem. O PSD não pode estar de acordo com um documento que continua a penalizar famílias e empresas, a alicerçar toda a economia em mais importações e menos exportações, e a não preparar a economia para o futuro. O PSD não pode votar favoravelmente um documento que tenta enganar os portugueses pelo quinto ano consecutivo. Tudo nos leva a crer que teremos novamente o golpe de teatro de uma execução diferente da que era proposta no início da execução orçamental.
Mas deve ser uma oposição construtiva, com propostas de alteração?
Sempre construtiva, com propostas de alteração, em especialidade, dialogando com forças vivas da sociedade, sindicatos, confederações patronais e instituições para perceber o pulsar e o sentido da sociedade que podemos transferir para o orçamento geral do Estado, tendo a visão do PSD e a sua iniciativa política.
Que reforma considera ser prioritária?
No topo das minhas prioridades, está a assinatura de um novo contrato social com os portugueses. Tem de ficar preto no branco onde o PSD quer o Estado e onde não quer. O PS mal tomou posse, na anterior legislatura, reverteu a privatização dos transportes, anulou as parcerias público-privadas (PPP) e contratos de associação nas escolas, tem tido uma agenda ideológica na Educação. A sua agenda é permanentemente virada à Esquerda e com este permanente complexo ideológico. Temos de dizer claramente aos portugueses que não queremos ir por aí. Queremos PPP na Saúde se isso significar melhor qualidade e melhor prestação de cuidados de saúde e mais baratos.
Olhando para o Parlamento, como explica a entrada do Chega e da Iniciativa Liberal. E o caso do Aliança? Foi espaço que PSD e CDS deixaram livre?
Sem dúvida. Só aparecem porque o PSD não foi capaz de dar resposta a algumas áreas. Também não faço disto um bicho papão. O PSD na última legislatura tinha 18 deputados à sua Direita, hoje tem sete: cinco do CDS, um da IL e um do Chega. Não querendo ofender esses partidos que fizeram o seu percurso, diria que são epifenómenos se o próximo líder do PSD for capaz de dar resposta a alguns temas. A IL tem uma postura muito mais aberta na sociedade. E o Chega nasce da incapacidade de responder a questões como a segurança e as migrações. A Europa anda há cinco anos a discutir o tema sem solução. São temas de nicho radicalizados em que alguma demagogia e algum populismo têm vindo a alimentar o Chega.
No PSD, Rio fala de grupos opacos que querem tomar conta do partido. É tema ncerrado após ter dito ao líder que deixou a maçonaria há mais de dez anos?
Isso é passar um atestado de menoridade ao eleitorado. É pensar que continuam a mover-se por esses bichos papões. É uma retórica obscurantista de que os políticos se socorrem para justificar o injustificável, como os seus resultados eleitorais.