Fenprof pede mais tempo para estabilizar ensino. Nível elevado de casos e de isolamento piorou qualidade. Menos alunos por turma, reforço do crédito horário e de técnicos especializados são medidas pedidas para reforçar apoios.
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A maioria das escolas aprovou planos de recuperação de aprendizagem, mas muitos quase não saíram do papel por causa do "vaivém" constante de isolamentos e casos positivos até ao fim de janeiro. A Federação Nacional de Professores defende, por isso, o prolongamento do plano "Escola +21/23", previsto para este e o próximo ano letivo. Os presidentes das associações de diretores aceitam a proposta, até porque só agora as escolas começam a ficar mais estáveis.
O agrupamento Cego do Maio (Póvoa do Varzim), por exemplo, apostou no reforço de apoios e coadjuvações no 1.º Ciclo. Mas, face ao número de infeções e isolamentos, ou os docentes nessas funções tiveram de assumir as turmas ou os titulares deram aulas sem apoio, explica o diretor Arlindo Ferreira.
"A pandemia acabou por nem sequer criar condições para os planos avançarem. Tivemos turmas inteiras em isolamento, algumas várias vezes. Mesmo que as escolas tivessem tido o desejado reforço de recursos, neste quadro, era muito difícil. O esforço tem sido para não se perder mais", alerta Mário Nogueira.
De acordo com um levantamento divulgado hoje pela Fenprof às condições de execução dos planos, no final do 1.º período, a maioria dos agrupamentos (91 dos 114 que responderam ao questionário), aprovaram estratégias de recuperação e quase 20% não o fizeram ou ainda não o tinham feito em dezembro, invocando falta de recursos, já terem planos plurianuais de melhoria (no caso das TEIP) ou níveis de retenções residuais.
Entre as principais medidas pedidas pelas escolas neste levantamento, destaca o líder da Fenprof, estão o reforço do crédito horário e a contratação de mais técnicos especializados, como psicólogos ou terapeutas da fala. Uma das principais reivindicações (por 81,6%) é a autorização para reduzir o tamanho das turmas. Problema, admite Nogueira, é que estas medidas, cruciais para personalizar o ensino, "esbarram na falta de professores".
1.º ciclo preocupa
"O 1.º período e o início do 2.º foram muito inconstantes e isso dificultou a recuperação. Só agora nos estamos a aperceber dos efeitos dramáticos dos confinamentos", alerta Severina Fontes. A diretora do agrupamento D. Afonso Henriques (Santo Tirso), assume estar mais preocupada com os problemas emocionais do que académicos dos alunos. Quanto ao prolongamento, os próximos meses - se permitirem estabilidade - serão cruciais. No entanto, frisa, os alunos que estão no 3.º praticamente começaram o ano sem saber ler, escrever ou conhecimentos básicos de Matemática e "não é de um ano para o outro que vão solidificar as aprendizagens".
"A minha maior preocupação é o 1.º Ciclo. Temos problemas de oralidade, escrita, desenvolvimento da fala. Mesmo que formalmente o plano não seja prolongado, vamos precisar de muito tempo para voltar a ter normalidade", garante Manuel Pereira, presidente da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE).
No agrupamento do Cristelo (Paredes), que tem plano de inovação pedagógica desde a fase-piloto, em 2016, a aplicação de medidas de recuperação foi "fácil e natural", como a criação, de uma hora no horário dos professores e alunos para a disciplina de Recuperação de Aprendizagens, usada rotativamente pelos docentes. Ainda assim, considera Mário Rocha, o plano deve ser prolongado não só pela pandemia mas também pela transição digital, que está a impor uma mudança de paradigma nas escolas, e pela passagem a 1 de abril de competências para as autarquias que também forçará a nova reorganização.
Já Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP), assume que, neste primeiro semestre, as escolas estiveram mais a gerir a pandemia, "o que atrasou, com certeza" a execução dos planos. No entanto, defende que o prolongamento deve ser avaliado no final deste ano letivo.
Resultados
Sem data de início
Dos 114 agrupamentos, 19 responderam não ter data prevista para aprovar os planos; 52 fizeram-no no arranque do ano letivo; 28 antes das aulas começarem; e 15 pretendiam fazê-lo até dezembro.
Horas e recursos
A maioria (88,6%) dos diretores respondeu não ter reforço do crédito horário nem dos recursos humanos (83%). Mais de metade (55%) tiveram autorização para recrutar técnicos mas, na generalidade, o reforço foi de um profissional, por vezes em meio horário.
Medidas pedidas
Mais de 80% reclamam a constituição de turmas mais pequenas como medida determinante para o sucesso dos alunos. Mais professores para coadjuvação na sala de aula foi defendido por 70%, a mesma percentagem que reclama menos tarefas burocráticas para os docentes passarem mais tempo com os alunos.
Reforço de equipas
Quase 70% (79 dos 114 agrupamentos) reclamam o reforço das equipas multidisciplinares através da contratação de mais técnicos especializados.