O Portal Construção Sustentável critica que parte dos fundos disponibilizados pelo Governo para combate à pobreza energética sejam alocados à compra de equipamentos elétricos para aquecimento ou arrefecimento das habitações. Diz que só melhorando a eficiência das habitações se conseguirá combater o desconforto térmico.
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Em causa estão as medidas anunciadas pelo Governo (entraram quinta-feira em consulta pública), que incluem vouchers para as famílias aplicarem na compra de fogões elétricos, aquecedores e equipamentos para arrefecer as casas, para além da instalação de painéis solares e obras em casa (como a troca de portas, janelas, revestimentos de paredes e de coberturas).
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"O que criticamos é as medidas do Governo irem no sentido da aquisição de mais aparelhos, que vão consumir mais energia. Depois as famílias chegam ao final do mês e não conseguem pagar a fatura energética", refere a arquiteta Aline Guerreiro, CEO do Portal Construção Sustentável (PCS).
De acordo com um inquérito da plataforma - realizado online, entre 2 de fevereiro e 12 de março, a 1433 famílias em Portugal - 88% dos inquiridos consideram a casa desconfortável termicamente e 94% dizem ter um aumento significativo do consumo de energia para climatizar a casa. Mais de metade (55%), não recorre apenas a equipamentos, mas também a mais roupa. O objetivo é pouparem dinheiro em aquecimento (74%).
Cerca de 1,2 milhões de famílias, refere a PCS, gastam mais de 10% do seu rendimento mensal com a fatura energética e, ainda assim, não conseguem climatizar as suas casas. Dos que responderam, 44% dizem viver em habitações sem qualquer tipo de isolamento e 28% não sabem. O inquérito revela que há um desconhecimento geral sobre a relação entre construção/materiais e o conforto térmico.
Aumentar fatura da luz
"O facto de as pessoas não terem conhecimentos sobre a importância do isolamento e lhes darem dinheiro que permite comprar aquecedores, faz com que muitos nem pensem em fazer obras, mas acabem por gastar o dinheiro em soluções mais fáceis e imediatas, como aquecedores ou ventiladores. Mas depois não conseguem pagar as contas", reforça Aline Guerreiro. "A energia mais barata é a energia que não necessitamos de gastar. Por isso, é pertinente pensar no combate à pobreza energética através da reabilitação sustentável dos edifícios, de forma a isolá-los convenientemente", considera.
O parque habitacional em Portugal, construído maioritariamente em finais do século XX, "tem imensas necessidades a nível de conforto. Se não melhorarmos a construção e estivermos a tapar os buracos com mais equipamentos, não vamos estar a resolver nada".
Retrato do país: conclusões do estudo
Sem isolamento
No inquérito, 44% disseram viver numa casa sem qualquer tipo de isolamento e 28% adiantaram não saber. Dos que foram inquiridos, 77,6% vivem em meio urbano e mais de metade em casas construídas entre 1980 e 2000.
Perdas térmicas
O isolamento térmico insuficiente nas paredes e coberturas pode representar entre 30% a 60% das perdas térmicas. O baixo desempenho de vãos envidraçados e portas representam entre 25% a 30%.
Desconhecimento
O inquérito revela que 42% dos inquiridos não tiveram conhecimento de apoios para combate à pobreza energética. Apenas 1% obteve financiamento, tendo investido na colocação de painéis fotovoltaicos.
Maioria com frio
88% dos inquiridos pela Plataforma Construção Sustentável dizem sentir desconforto térmico nas suas casas. Desses, 56% referem sentir frio e calor, 30% só se queixam de frio e 2% só se queixam do calor.
Ganhos ambientais
Na União Europeia, os edifícios são responsáveis por cerca de 40% dos consumos energéticos e 36% das emissões totais de gases com efeito de estufa, pelo que a melhoria da sua eficiência terá, também, ganhos ambientais.
O inquérito
Foi respondido por 1433 residentes em várias zonas do país, sobretudo da Estremadura (35%), Douro Litoral (15%), Beira Litoral (14%) e Minho (9%). As restantes respostas correspondem a zonas variadas do continente.