"Ponto de rutura". Grávida que perdeu bebé foi enviada para hospital a mais de uma hora de distância
A Federação Nacional dos Médicos considerou esta sexta-feira inaceitável o novo caso da grávida que perdeu o bebé depois de encaminhada para um hospital a mais de uma hora de distância e disse que marca "um ponto de rutura".
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Em declarações à Lusa, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, exigiu uma “mudança imediata” na política de saúde e responsabilizou o Governo pela atual situação das urgências obstétricas.
“Exigimos que haja uma mudança imediata na política de saúde, uma mudança que devolva dignidade, segurança e humanidade ao SNS, porque o que aconteceu é intolerável e nós não podemos, em consciência, permitir que isto se repita”, afirmou.
Segundo noticiou a RTP, a grávida, de 31 semanas, terá ligado para a linha de Saúde 24, sem sucesso, e acabou por ligar para o 112, sendo acionados os bombeiros do Barreiro. Acabou por ser transportada para Cascais porque as urgências do Hospital S. Bernardo e Setúbal, que deveriam estar abertas, encerraram por sobrelotação.
“Este caso não é um acidente, isto é uma consequência direta das políticas que estão a ser aplicadas por este Ministério da Saúde, de Ana Paula Martins, e, por isso, nós responsabilizamo-lo diretamente por esta tragédia”, disse Joana Bordalo e Sá.
Pediu um reforço urgente das urgências com mais médicos, com valorização de carreiras, evitando que se continue “a apagar fogos”.
“Se houvesse uma perspetiva de conseguir recuperar os médicos para o Serviço Nacional de Saúde de uma forma emergente, isso é que deveria estar a ser feito”, acrescentou.
Joana Bordalo e Sá defendeu que é possível conseguir contratar médicos de uma forma rápida e mais célere, mas sublinhou: “para isso é preciso vontade política”.
Segunda caso numa semana
Este foi o segundo caso conhecido esta semana de uma grávida que perde o filho depois de procurar uma resposta de urgência.
Segundo relatou no domingo o "Correio da Manhã", no dia 10 de junho uma outra grávida foi encaminhada pelo SNS24 para a urgência de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Setúbal, onde terão garantido que o bebé se encontrava bem.
Seis dias depois, a grávida, de 37 anos, voltou a sentir dores e foi atendida no Hospital do Barreiro, no distrito de Setúbal, onde terá recebido indicação para ir para casa.
Voltou a sentir-se mal três dias depois e deslocou-se ao Hospital Garcia de Orta, em Almada (Setúbal), onde não foi detetado qualquer problema.
Passadas 48 horas, a Linha SNS 24 terá encaminhado a mulher para o Hospital de Cascais, onde lhe terá sido dito não haver vaga para internamento.
Recusando regressar a casa, a mulher foi transportada de ambulância para a ULS Santa Maria, onde foi feita uma cesariana de emergência.
A recém-nascida nasceu com 4,5 quilogramas, com batimentos cardíacos fracos e sinais de sofrimento fetal. A bebé, apesar das manobras de reanimação, não resistiu.
Neste caso, a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde garantiu no início da semana que a grávida, de 40 semanas, “terá sido avaliada de forma atempada”.
Em comunicado, a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde explicou que em todos os hospitais onde foi observada, a grávida terá sido avaliada de forma atempada por profissionais de saúde qualificados, submetida aos exames e avaliações considerados necessários e recebido as orientações consideradas adequadas.
Considerou ainda a resposta prestada é “congruente com os protocolos de referenciação e de acesso em vigor, tendo sido assegurada a continuidade assistencial ao longo de todo o percurso da utente no Serviço Nacional de Saúde”.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde veio dizer que acompanhava a avaliação dos cinco hospitais envolvidos na assistência prestada à grávida, acrescentando que as unidades hospitalares “estão a avaliar a situação, no âmbito das competências dos respetivos órgãos de gestão”.