Paulo Portas despediu-se, este sábado, da liderança do CDS-PP com críticas ao Banco de Portugal, que "continua a falhar", e disse que só aceitou a recondução do governador por "estarmos em plena venda do Novo Banco, que ainda não aconteceu". Agora, sugere mesmo a Carlos Costa que pondere a sua demissão.
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O ainda presidente do CDS, que passou o testemunho a Assunção Cristas no congresso que decorre este fim de semana em Gondomar, apontou "falhas significativas na área da supervisão" à instituição que é liderada por Carlos Costa. E desafiou-o a ponderar se neste momento é "parte da solução ou parte do problema". Quanto ao Novo Banco, "a resolução é melhor do que a nacionalização". Ainda neste sector, alertou para o perigo de Portugal perder o controlo da banca para mãos espanholas.
Na sua intervenção, que iniciou visivelmente emocionado e terminou a chorar, Portas atacou ainda os "partidos da geringonça" que não respondem agora ao pedido de ajuda financeira aos "amigos" gregos. E, nas críticas a António Costa, disse que está para chegar um primeiro-ministro socialista "com calibre" para controlar o défice. Sobre o seu tradicional parceiro da coligação, afirmou-se contra "o voto útil" no PSD, defendendo o CDS como alternativa de Governo.
Numa referência à maioria de Esquerda, afirmou que "parece haver partidos da geringonça que estão em pânico" para votar o apoio orçamental ao resgate da Grécia. "Não nos andaram a azucrinar com o Syriza? Não foi o Syriza que pediu o terceiro resgate? E agora os syrizinhas de cá têm vergonha dos syrisas de lá?", questionou Portas. Ou seja, "na hora de acudir ao amigo Tsípras não respondem à chamada".
"A partir de amanhã, serei apenas um de vós e esse sentimento de pertença é uma grande honra", afirmou Portas na hora da despedida, manifestando "orgulho sereno" pelo trabalho que fizeram juntos e "esperança fundamentada no caminho que o partido começa amanhã".
"Não sentirei nostalgia mas liberdade, só é bom politico quem é independente da política, por isso encarei a vida partidária como vocação não como profissão" e "nunca como uma dependência pessoal", declarou ainda perante o congresso.
Agora, "preparo a minha próxima vida com alegria quase juvenil de quem, aos 53 anos, se sente livre e capaz de começar de novo outra vez", disse, prometendo "trabalhar, trabalhar, trabalhar". Portas, que foi "eleito e reeleito oito vezes, ao longo de quase 16 anos", tem sido, conforme noticiou o JN, disputado pela TVI e pela SIC para ser comentador televisivo.
Quanto à sucessão, diz que o CDS deu um "exemplo de maturidade política e responsabilidade institucional". Foi "uma agradável surpresa, uma sucessão natural mas com exemplos magníficos de renúncia em nome de todos e de sentido de equipa em nome do bem comum".
"Não sou eu que dou um passo atrás, é o partido que dá um passo em frente", explicou, notando que "há um tempo para chegar, para fazer e para passar o testemunho".
Relações com Angola
Na sua despedida, Portas apelou ainda aos órgãos de soberania para evitarem a "tendência para a judicialização da relação entre Portugal e Angola", por ser este "um caminho sem retorno". E pediu que procurem "em todas as frentes o compromisso".
O apelo foi feito "sabendo que Portugal é importante para os angolanos e que Portugal não está em condições de substituir Angola na sua política externa, pelo número de portugueses que lá vivem e que merecem o nosso respeito, pelas duas mil empresas que estão em Angola e que merecem a nossa proteção, pelas 10 mil empresas que exportam para Angola e que nós não podemos esquecer, pela interpenetração das duas economias e dos investimentos dos dois países".
O ministro das Relações Exteriores angolano, Georges Chikoti, disse sexta-feira que Angola não foi convidada para a cerimónia de tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa como presidente da República, mas disse compreender a decisão e desvalorizou o caso.