Mau tempo do mês de julho nos areais do Norte deixa banhistas em casa e estraga verão a quem vive da praia. Banhistas lamentam azar com o tempo, que só deu tréguas no início da semana.
Corpo do artigo
É agosto, mas não parece. Nevoeiro, chuva, nortada, noites geladas. No ano passado, a pandemia arruinou o verão. Este ano, nas praias do Norte, o S. Pedro recusou-se a cooperar até ao início desta semana e o mau tempo afastou os banhistas em julho. De Gaia a Vila Praia de Âncora, quem vive da praia resigna-se a mais "um verão para esquecer".
"As noites estão muito desagradáveis, é onde se nota uma maior quebra", conta Rui Bessa, que, há seis anos, gere o bar e é concessionário da praia de Salgueiros, em Canidelo, Vila Nova de Gaia. No estacionamento não faltam lugares vagos. No areal, uma ou outra família desafia o nevoeiro, que mais parece chuva miudinha. As espreguiçadeiras estão vazias. Ao fim de semana, o movimento cresce, mas "muito longe da pré-pandemia".
No ano passado, Rui Bessa adaptou-se. Tirou as barracas, apostou nas espreguiçadeiras com guarda-sóis de colmo, "um modelo diferente para dar resposta a outro tipo de clientela". Este ano, manteve. Tendo em conta o contexto pandémico, o negócio, diz, "até vai correndo". Contas feitas, em tudo semelhante ao verão de 2020. Esperava-se mais, mas "é o que há".
"O S. Pedro apanhou covid-19 e está em isolamento. Esqueceu-se da gente", atira Fernanda Alves, soltando uma gargalhada. Família e amigas estão, ali, junto à água, amparadas por dois pára-ventos. "Frio não está e vai dando para descontrair", atira Maria Rios. "Três manhãs em julho, duas em agosto". É este o balanço de dias de praia de Fernanda. "Uma miséria!".
Em Matosinhos, a praia é outra, mas o cenário é igual. "Viemos, mas o sol não veio", diz Alison Soares, olhando a praia, onde o nevoeiro mal deixa ver o mar. A família é de Amarante e está emigrada em França há vários anos. "Já não há um verão certinho", diz. O tempo é "mais instável" e vir à praia é sempre "um risco". Ainda assim, com tantas crianças pequenas, não se queixam. "É um tempinho bom para os miúdos".
Fraquinho, fraquinho
No bar "Vagas", junto à rotunda da anémona, Aurélio Silva admite que "o tempo não tem ajudado", mas garante que "está melhor do que em 2020". O aluguer de barracas já não é o que era, o apoio de praia mais pequeno "ficou sem escadas de acesso" e tem, agora, "menos movimento", mas, no bar, o negócio "tem corrido bastante bem". Aos 40 anos, está ali desde que é gente. Já tiveram 300 barracas. No ano passado, montaram 60. Este ano, mais dez. "É viver um dia de cada vez", diz.
"Está mau! O tempo não ajuda e o povo não tem dinheiro", diz António Bicho, na praia do Carvalhido, na Póvoa de Varzim. É dos concessionário mais antigos da cidade, "do tempo em que se ia buscar os banhistas à estação". Os de Guimarães, Braga, Santo Tirso, Trofa, Paços de Ferreira alugavam barraca e quarto o mês inteiro. Hoje, contam-se pelos dedos as barracas que aluga ao mês. Ao fim de semana, a praia enche, mas, à semana, é "fraquinho, fraquinho".
Verão só em agosto
António Presa, concessionário no areal de Vila Praia de Âncora há 40 anos, aponta num livro de merceeiro, toda a informação do seu negócio, desde o aluguer de barracas às vendas ao balcão do bar de madeira "Pôr do Sol". Este ano, os apontamentos começaram mais tarde do que o costume.
"Nunca vi um mês de julho sem sol. Apenas apareceu em dois dias da parte da tarde. De resto, foi sempre encoberto. Foi o pior julho de sempre desde que sou concessionário há 40 anos", diz, completando: "O verão verdadeiramente começou no dia 6 de agosto. A partir daí foi sempre bom".
Abençoadas pelo bom tempo estão agora a ser as férias em Vila Praia de Âncora de Marta Pessoa, de Matosinhos. "Felizmente. Estava com receio de apanhar mau tempo. Já venho para aqui há 25 anos na primeira quinzena de agosto e é sempre uma sorte ou um azar. Tive sorte", comenta erguendo ao céu as mãos em posição de oração.
Junto à marginal, na loja de artigos de praia "Girassol", José Faria, lamenta: "Estou aqui há 20 anos e este verão está a ser francamente mau. O pior de sempre. Nós aqui funcionamos quando o tempo é bom, quando não é, estamos parados".