À medida que a pressão covid-19 sobre os hospitais cresce, a resposta a todos os outros doentes vai ficando para trás.
Corpo do artigo
12958351
À semelhança do que aconteceu na primeira vaga, já há hospitais a adiar cirurgias e consultas para poderem tratar infetados. O hospital de Penafiel já teve de transferir doentes, cancelar cirurgias e pediu reforço de profissionais. A situação é mais complexa no Norte, onde ontem se registou um recorde de 2212 novos casos de covid-19, num total de 3669 em todo o país.
Esta semana, a ministra da Saúde assumiu que a resposta "não é elástica" e que de cada vez que se aumentam as camas para doentes covid-19 reduz-se a capacidade de resposta para outras doenças. Marta Temido avisou que há uma "pressão especial no Norte", razão que levou à instalação de um hospital de campanha no perímetro do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (Penafiel).
Naquela unidade de média dimensão, que dá resposta a uma população de 520 mil utentes e onde se situam cinco dos concelhos com maior aumento de casos, a situação é crítica. Desde há duas semanas que foram canceladas todas as cirurgias não urgentes e tem sido necessário transferir doentes para outros hospitais, reconhece o presidente da Administração do hospital. Carlos Alberto Dias já pediu mais profissionais à tutela, e reconhece que o hospital está sob uma "pressão inusitada". Mas nega que não existam ventiladores ou que estejam a ser negados aos utentes. Contudo, o JN sabe que a situação é de pré-rutura, que deverá agravar-se nos próximos dias, se não forem tomadas medidas urgentes.
Dificuldade nas duas respostas
Com base nos relatos que lhe chegam de médicos e administradores hospitalares, o bastonário da Ordem dos Médicos admite que os hospitais, sobretudo do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo, estão a ficar com "bastante dificuldade para continuar a assegurar a sua atividade normal a todos os doentes não-covid". Miguel Guimarães considera que "é inevitável que a situação se agrave nas próximas semanas" e lamenta que não tenha havido "a arte e o engenho para pôr todo o sistema de saúde [incluindo setores social e privado] a responder à atividade covid e não-covid.
No Hospital de S. João, no Porto, a pressão tem aumentado de forma constante nas enfermarias e Cuidados Intensivos, onde estão perto de três dezenas de doentes. A unidade já elevou o nível do plano de contingência, o que implica a alocação de mais camas à covid-19 e o adiamento de cirurgias.O Santo António atingiu, esta semana, uma lotação de 93% nas camas de enfermaria para doentes covid e abriu ontem mais 17.
urgência em Gaia duplica casos
O Hospital de Gaia também foi forçado a aumentar, esta semana, a capacidade de resposta em Cuidados Intensivos. Tem agora 21 camas para doentes graves, 13 estão ocupadas, apurou o JN junto de fonte hospitalar. Nas enfermarias, havia ontem 36 doentes covid e o serviço de Urgência continuava sob forte pressão. No passado dia 20, recebeu 440 episódios de urgência, quase o dobro face a 20 de setembro (280). Contudo, 40% não eram urgentes (pulseiras verdes).
Em Matosinhos, o hospital teve de abrir esta semana uma terceira enfermaria para doentes covid e continua a receber os doentes referenciados pelo Hospital da Póvoa de Varzim, segundo fonte do Pedro Hispano.
Parar atividade com forte impacto nas consultas
Se os hospitais e centros de saúde voltarem a suspender a atividade não urgente, como aconteceu entre março e maio, 2020 poderá terminar com uma redução de dez milhões de consultas nos cuidados primários, de 2,3 milhões de consultas nos hospitais e de 214 mil cirurgias face ao ano anterior. O alerta foi feito num estudo da Moai Consulting, uma empresa de consultadoria na área da saúde, divulgado em setembro, aquando da apresentação do movimento "Não mascare a sua Saúde", promovido pela Ordem dos Médicos e pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. A investigação baseou-se nos dados oficiais do Portal do SNS.
Pormenores
Mapas de risco no Norte
Toda a Região Norte tem mapas de risco a funcionar para avaliar a situação epidemiológica e ajudar à tomada de decisões. Os mapas refletem a incidência de novos casos de covid-19 e a velocidade de crescimento da doença e estavam previstos no plano de saúde outono-inverno.
72 concelhos de alto risco
O país tem pelo menos 72 concelhos com nível de contágio de covid-19 "muito elevado", ou seja mais de 120 novos casos por 100 mil habitantes em duas semanas, noticiou ontem o "Expresso", com base em informação da DGS.
SNS24 já prescreve testes
O modelo de requisição de testes de diagnóstico à covid-19 através da linha de Saúde 24 já está a funcionar, nos mesmos moldes da primeira fase da pandemia. É uma medida excecional e temporária usada "em fases complexas", explicou a ministra da Saúde. O objetivo é evitar que as pessoas vão aos cuidados de saúde apenas para obter a prescrição do teste, o que causa "pressão desnecessária" e "pode ter impacto no atraso na realização do teste".