Antigo seminário de Ourém acolherá o primeiro centro a nível mundial de apoio a combatentes a necessitar de próteses e cirurgias reconstrutivas.
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O primeiro voo humanitário, proveniente da Polónia, com 50 ucranianos feridos durante os ataques russos, vai chegar a Portugal entre 29 de maio e o final de junho, revelou ao JN Ângelo Neto, membro da direção da Ukrainian Refugees (UAPT). Do aeroporto de Lisboa serão transportados para o Centro de Apoio a Feridos de Guerra na Ucrânia, que está a ser construído numa propriedade em Aldeia Nova, Ourém, pertencente a um casal de médicos portugueses.
1,3 milhões de euros é o valor que o fundo solidário da Leroy Merlin investiu na recuperação dos edifícios que integram a propriedade de Aldeia Nova, que se encontrava abandonada há 15 anos.
Ângelo Neto explica que as obras estarão concluídas entre os dias 20 e 25 de maio, embora admita que, até dia 29, possam "ficar umas coisinhas por fazer". Garantido é que, nesse dia, tudo estará a postos para receber o primeiro grupo de 50 feridos, cada um dos quais acompanhado por um familiar. "Cerca de 90% são do sexo masculino e têm entre 18 e 45 anos".
"Todos os dias de manhã chega a Kiev um comboio de feridos da frente de batalha, onde recebem o primeiro tratamento em hospitais de campanha", revela Ângelo Neto. Face aos milhares de militares nestas circunstâncias, assim que se encontram estabilizados são transferidos para outra cidade ucraniana, para dar lugar a outras pessoas.
Sem pressão para o SNS
Neste momento, a Alemanha e a Polónia estão a receber 90% dos feridos de guerra, através da Organização das Nações Unidas e da Organização Mundial de Saúde. Já Portugal terá o primeiro Centro de Apoio a Feridos de Guerra na Ucrânia a nível mundial, financiado por privados. "Os feridos não vão sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde", sublinha o dirigente associativo.
Oito mil refugiados ucranianos já foram apoiados pela Ukrainian Refugees (UAPT), organização sem fins lucrativos, criada em fevereiro de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Em Ourém, serão tratados os casos mais complexos e difíceis. Vamos receber ucranianos que vêm fazer cirurgias reconstrutivas e colocar próteses, com o apoio da CUF", adianta. Os feridos serão acompanhados no edifício principal, por médicos, enfermeiros e psicólogos. Já o serviço de fisioterapia e o atendimento de urgências 24 horas por dia funcionarão noutro espaço. As pessoas que se encontrem numa fase de recuperação mais avançada ficarão em bungalows, na vila solidária. Depois, regressarão à Ucrânia.
Com quatro hectares, a propriedade terá ainda animais, uma horta biológica e produção de vinho. No passado, funcionou ali, ao longo de 30 anos, o Seminário Apostólico Dominicano e, até há 15 anos, a Casa da Criança de Ourém. "Os proprietários cederam-nos a título de comodato por sete anos, sem custos e sem rendas", conta Ângelo Neto. Quanto às obras, são financiadas pela Leroy Merlin, e têm o apoio de cerca de 160 voluntários da empresa.
Constituída após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, a UAPT já organizou seis voos humanitários para acolher refugiados na Europa, cerca de 1700 dos quais vieram para Portugal, no ano passado. Até agora, já apoiou mais de oito mil refugiados no nosso país.