Chega ao fim a sondagem diária da Pitagórica para o JN, a TSF e a TVI. Com três destaques: a confortável vantagem do PS (37,2%) sobre o PSD (27,8%); um BE (9,2%) mais regular que beneficia da erosão da CDU (6,6%) para reforçar o terceiro lugar; e o facto do PAN (4,8%) se manter à frente do CDS (4,6%).
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Faltam apenas quatro horas para o fim da campanha eleitoral. E estamos a 48 horas de conhecermos os resultados da votação. Mas enquanto não chegam, nem uma, nem outra, há tempo para conhecer os resultados finais da "tracking poll" e, depois, para uma breve análise às forças e fraquezas de cada partido.
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A sondagem chega ao fim com um vencedor anunciado: o PS estacionou há três dias acima dos 37 pontos e regista agora uma vantagem mais de nove pontos sobre o PSD. Os sociais-democratas sofrem uma pequena quebra de um ponto neste último dia, mas estão praticamente nos 28 pontos.
Mais à Esquerda, entre os restantes parceiros da "geringonça" que permitiu uma governação de quatro anos, o final faz-se sem sobressaltos, ainda que com disposições diferentes: o BE estaciona na casa dos nove pontos, enquanto a CDU não consegue melhor do que aproximar-se dos sete pontos.
Mais atrás, apresenta-se uma luta árdua pelo quinto lugar. Apesar dos centristas fecharem a sondagem diária com uma pequena recuperação, continuam atrás do PAN, que registou um crescendo nos últimos dias. Estão ambos próximos dos cinco pontos e separados por duas décimas.
Mas detalhemos, em seguida, o que aconteceu aos diferentes partidos durante este 14 dias de "tracking poll", onde estarão algumas das suas forças e fraquezas e que perspetivas se abrem em termos de deputados. Afinal, esta é uma eleição para escolher os representantes dos portugueses na Assembleia da República. E como até os mais renitentes perceberam em 2015, os primeiros-ministros são de facto escolhidos pelo Parlamento.
PS cinco pontos à frente da Direita
Os socialistas terminam com uma vantagem confortável sobre o PSD e até sobre a soma dos dois principais partidos de Centro-Direita (PSD e CDS): mais cinco pontos. Ou seja, António Costa não terá uma maioria absoluta, mas, ao contrário do que aconteceu há quatro anos, terá uma vitória eleitoral sem defeitos. Por outro lado, são menos 3,4 pontos do que marcava no arranque destes 14 dias, porventura fruto de um mau desempenho em campanha, que inclui a contaminação do caso Tancos. Ainda assim terá, se o resultado atual se confirmar, mais quatro pontos do que nas últimas europeias e mais cinco do que nas legislativas de 2015.
Na análise por segmentos (intenção direta de voto, sem distribuição de indecisos), concretamente por faixas etárias, conclui-se que os socialistas mantiveram até ao fim a força entre os eleitores com 55 ou mais anos: 17 pontos percentuais acima dos sociais-democratas. Um factor que pode ser decisivo no domingo porque este é o maior contingente da amostra e o que menos se abstém. Nos diferentes escalões de rendimento, fica quase sempre acima dos 30 pontos. A exceção é entre uma classe média um pouco mais desafogada, que prefere o PSD. Ao nível geográfico, só perde para o PSD na Região Norte, mas leva vantagem no resto do país (10 pontos em Lisboa).
Com estes resultados, a projeção da Pitagórica aponta para um crescimento de cerca de duas dezenas de deputados face a 2015: algures entre os 101 e os 104 (este último como cenário mais provável), a que será ainda preciso somar os dos círculos da emigração. O PS é, aliás, o único partido que pode ter a certeza de eleger deputados em todos os distritos do país. No entanto, as maiores possibilidades de crescimento em número de eleitos estão nos grandes círculos do litoral: poderá somar mais dois em Aveiro, Braga, Leiria, Porto e Santarém; e mais três em Lisboa e Setúbal. Insuficiente para maiorias absolutas, mas suficiente para, se o entender, procurar o apoio de apenas um parceiro à Esquerda (BE ou PCP). Com o PAN não deverá ser possível chegar à marca mágica de 116 deputados.
PSD cresceu, mas pouco
Rui Rio conseguiu uma grande recuperação nos barómetros de Setembro e chegou ao arranque desta sondagem diária numa posição bastante melhor do que nos idos de agosto, em que o PSD pagou a fatura da ausência do líder e do ruído da oposição interna. Mas, nos últimos 14 dias, pouco ganhou: chega ao fim com mais 1,2 pontos. Bastante melhor do que foi capaz de fazer nas últimas eleições europeias, mas ainda um pouco abaixo de líderes como Santana Lopes, em 2005, e Manuela Ferreira Leite, em 2009. E nenhum deles resistiu na liderança do partido.
Olhando para os diferentes segmentos (sempre com o alerta de que se trata de amostras reduzidas), conclui-se que o PSD está melhor entre os eleitores de 45/54 anos (e à frente do PS), que o seu pior resultado é entre os mais novos (18/34 anos), mas que a maior diferença para os socialistas é na faixa etária dos mais velhos. Confirmando um padrão, o apoio é maior entre quem tem rendimentos melhores do que entre quem os tem mais baixos. Finalmente, Rui Rio segurou a liderança no Norte, mas não no Porto, e fica longe do PS no Centro e em Lisboa.
Quando se olha para a projeção de deputados antevê-se que terá menos uma dezena de lugares: serão entre 79 e 83 (com tendência para o primeiro). Apesar de ter uma implantação em todo o território nacional, desta vez o PSD pode desaparecer de parte do mapa alentejano: estão em risco os deputados de Beja e Portalegre e é provável que perca a liderança para o PS em Bragança. Mas não haverá colapsos: no máximo, uma perda de dois deputados em alguns dos maiores círculos do litoral, como Lisboa, Aveiro, Leiria e Setúbal.
Bloco pode surpreender no Centro
Os bloquistas têm garantido o terceiro lugar e acabam esta sondagem diária apenas umas décimas acima do valor inicial, na casa dos nove pontos. Mas estiveram durante cerca de metade do tempo acima dos 10 pontos, e até próximo dos 11. A confirmar-se o valor final, ficarão muito próximo do resultado conseguido nas últimas europeias e apenas umas décimas abaixo de 2015.
Terminam igualmente com um peso semelhante em todas as faixas etárias, ainda que com uma tendência para registar um pouco mais de apoio entre os eleitores mais jovens. Nos escalões de rendimento revelam o padrão habitual de percentagens maiores entre os dois escalões de rendimento mais elevado. E ao nível regional algumas dificuldades inesperadas nas zonas urbanas de Lisboa e Porto e uma força bastante razoável nas regiões Norte e Centro.
Um cenário compatível com o que se prevê que aconteça relativamente à distribuição de deputados. Veja-se que a previsão até aponta para a possibilidade de o BE perder o quinto eleito, tanto no Porto, como em Lisboa. Mas há a hipótese de surgirem compensações noutros locais. Em Aveiro pode passar de um para dois e em Viseu eleger pela primeira vez. Em ambos os casos à custa do CDS. Mas também há a hipótese de quebrar o bipartidarismo em Castelo Branco. Em Braga também pode chegar ao segundo eleito. E ter um deputado por Viana do Castelo pela primeira vez. Ao todo serão 17 a 20 deputados (agora tem 19).
Comunistas com bancada reduzida
Os comunistas terminam a sondagem diária com um valor praticamente igual ao do arranque. Mas sofreram grandes oscilações ao longo destes 14 dias: 2,7 pontos entre o pior (5,1%) e o melhor (7,8%) resultado. Se conseguirem uma votação próxima dos sete pontos percentuais, será uma das piores de sempre: ao nível dos 6,9% e 12 deputados de 2002, quando o secretário-geral era Carlos Carvalhas.
A CDU depende sobretudo de um eleitorado mais velho (55 ou mais anos), o que não é, no imediato, uma má notícia: é o maior segmento etário e o mais participativo. Ao contrário do BE, o apoio é maior na metade mais pobre do que na metade com melhores rendimentos. Nas duas grandes regiões urbanas de Lisboa (que inclui Setúbal) e Porto estão as suas melhores hipóteses, embora nesta última o histórico da sondagem aponte para uma quebra acentuada.
Aliás, na projeção de deputados, o Porto é precisamente aquele que mais se destaca, uma vez que a CDU deverá passar de três para um eleito, contribuindo para a perda geral de cinco elementos no grupo parlamentar: terá 12 a 9 (com maior probabilidade de ser o primeiro). Em Lisboa poderá perder outros dois e mais um em Setúbal. Os eleitos de Braga e Beja também não estão seguros, mas, em contrapartida, está na luta por um deputado em Viana do Castelo.
Centristas ameaçados pelo PAN
Os centristas terminam com uma ligeira recuperação, ainda que não a suficiente para deixar o PAN para trás. Aliás, essa será uma das grande incógnitas que fica para a noite eleitoral: quem será o quinto maior partido. Sendo que até podem ser os dois, o PAN em percentagem de votos, o CDS em número de deputados. Só por aqui se percebe o problema em que está metida Assunção Cristas, que ao longo desta campanha foi perdendo gás e chegou a estar abaixo dos quatro pontos percentuais (3,6%). Se ficar próximo dos cinco pontos, como agora se prevê, salvará algumas das pratas da casa, mas não as suficientes para manter o cargo de presidente.
Os eleitores mais velhos (a partir dos 45 anos) são os que garantem mais conforto ao CDS, o que acaba por ser uma notícia (são mais fiáveis na hora de votar). Os centristas estão também ancorados nos eleitores com maiores rendimentos, decrescendo o apoio à medida que a carteira fica mais vazia. É nas áreas urbanas de Lisboa e Porto que acaba melhor, mas também na Região Norte.
O maior contingente de deputados sairá claramente de Lisboa, onde conseguirá pelo menos três. No Porto ainda pode chegar ao segundo. E é provável que consiga um em Braga e outro em Aveiro, embora este em risco de cair para o Bloco, tal como o de Viseu. Os centristas desaparecem do mapa em Viana do Castelo e também está em risco o eleito de Leiria. Ao todo serão 7 a 10 (com maior probabilidade para o primeiro), o que representará a perda de cerca de uma dezenas de deputados.
André Silva vai ter companhia
O partido de André Silva acaba esta sondagem diária em crescendo, ultrapassando o CDS e aproximando-se dos cinco pontos percentuais. O histórico destes 14 dias aponta, no entanto, para alguma prudência, uma vez que esteve quase sempre na casa dos três pontos. Ainda assim, é quase certo que os animalistas/ambientalistas vão poder formar um grupo parlamentar, confirmando o crescimento das últimas europeias, com a eleição de um eurodeputado.
O PAN foi alterando o seu padrão de apoio ao longo das duas últimas semanas: começou por ser um partido de gente jovem (18/34 anos), mas foi progressivamente crescendo nos restantes escalões etários (a exceção são os que têm 55 ou mais anos, onde praticamente não existe apoio). O que se mantém consistente é que marca melhor entre os que têm mais rendimentos, do que entre os que têm menos. Finalmente, as regiões de Lisboa e Porto foram sempre são os seus grandes bastiões.
Esse apoio concentrado em duas áreas urbanas será, aliás, o que lhe valerá para arranjar companhia para André Silva no Parlamento. No Porto (mais provável) e em Setúbal (um pouco menos) poderá eleger o respectivo cabeça de lista. Mas em Lisboa o PAN será um osso bem mais duro de roer: está entre os três e os quatro deputados e a disputar o quarto lugar com o CDS e a CDU. No final, o seu grupo parlamentar será de quatro ou cinco eleitos, de acordo com a projeção da Pitagórica para o JN.
Livre e Liberais à espreita de um lugar
Os resultados dos partidos que aspiram a chegar pela primeira vez ao Parlamento são provavelmente os mais difíceis de prever: as oscilações foram proporcionalmente enormes (mesmo quando se tratava de décimas) ao longo dos últimos 14 dias.
Quando chegamos ao fim da "tracking poll" quem obtém a melhor projeção final é o Chega de André Ventura (1,8%), seguido do Aliança de Pedro Santana Lopes (1,1%), do Livre de Rui Tavares e do Iniciativa Liberal de Carlos Guimarães Pinto (ambos com 0,9%).
Sucede que o histórico da sondagem e a concentração de votos em Lisboa favorece o Livre e os Liberais. Ao ponto da projeção apontar como cenário mais provável a eleição dos seus cabeças de lista por Lisboa. A ver vamos se até domingo o voto útil não arruína as previsões. Basta uma variação de décimas.