Os militantes e simpatizantes do PS começam a mobilizar-se depois de, no sábado, a Comissão Nacional (CN) do partido ter optado por dar liberdade de voto nas presidenciais de janeiro.
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A decisão de não apoiar Ana Gomes, militante e ex-eurodeputada do PS, não foi bem aceite por todos os socialistas, membros do Governo incluídos. Ontem, a candidata garantiu um apoio de peso, Manuel Alegre, que se junta ao ministro Pedro Nuno Santos, ao secretário de Estado Duarte Cordeiro, e a vários deputados. A cúpula do PS não vê problemas na reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
"Muitos dizem que a dra. Ana Gomes incomoda, mas é preciso que alguém incomode", afirmou Manuel Alegre ao JN. O antigo candidato nas presidenciais de 2006 e 2011 apontou aos "interesses instalados", à "falta de transparência" e à "promiscuidade entre política e negócios".
evitar "coroar" marcelo
Alegre elogiou a "coragem e a "coerência" evidenciadas por Ana Gomes ao longo da sua carreira política. Admitiu ter gostado do mandato do "amigo" Marcelo, mas avisou que, em política, isso não é tudo.
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"Uma eleição não é uma coroação nem é só consenso, também é dissenso e busca de alternativas", disse Alegre. Além disso, Marcelo "não é da minha família política. É um homem de Centro-Direita e eu sou de Esquerda, da resistência".
Alegre junta-se a uma barricada onde já estavam o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro. Pedro Nuno expressou apoio a Ana Gomes no sábado, na CN; no domingo, Cordeiro descreveu a ex-eurodeputada como "progressista", "humanista" e geradora de "convergência" contra a extrema-direita.
Os dois governantes - bem como os deputados Barbosa Ribeiro, Bacelar de Vasconcelos, Pinotes Batista e Maria Begonha, que também apoiam Ana Gomes - estão em contraciclo com a ala mais centrista do PS, que não esconde o apoio à continuidade de Marcelo e inclui vários pesos pesados.
candidata "divisionista"
O próprio primeiro-ministro já deu a entender que vê esse cenário com agrado. Em maio, António Costa lançou a recandidatura de Marcelo - ainda não oficializada - ao dar como garantido que o chefe de Estado iria desempenhar um "próximo mandato". Na sexta-feira, admitiu não ter falado com Ana Gomes desde que esta apresentou a candidatura, em setembro.
O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, afirmou, em maio, que "não hesitaria" votar em Marcelo. Sem nomear Ana Gomes, Carlos César, presidente do PS, disse que "nunca votaria" em alguém "divisionista" e "propenso ao radicalismo". Em setembro, foi a vez do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, dizer que Gomes é "boa candidata", mas não "para ter apoio do PS".
Do lado avesso a Marcelo não há, ainda assim, unanimidade em torno de Ana Gomes: os deputados Isabel Moreira e Ascenso Simões deram o seu apoio a João Ferreira, candidato do PCP. Apenas Marisa Matias, do BE, parece não cativar os socialistas. Talvez por pertencer, nas palavras do deputado Porfírio Silva durante a CN, ao partido "que mais tem atacado o PS".