Depois da explosão de Tancos na campanha eleitoral, eis que a poeira assenta. O décimo primeiro dia de sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI é também o mais estável. Com vantagem para o PS (35,6%), que ganha umas décimas ao PSD (28,6%).
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Se a volta a Portugal dos partidos se fizesse em bicicleta (à consideração do PAN), poderíamos dizer que esta terça-feira foi dia de descanso. O que não quer dizer que não haja ilações para tirar. A principal é que o caso Tancos deixou de fazer efeito. Os socialistas não só estancaram as perdas, como subiram três décimas. Tanto quanto baixam os sociais-democratas.
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Termina assim a tendência para reduzir distâncias entre os dois primeiros, que se manteve por cinco dias. Está agora nos sete pontos percentuais, mas já foi de 14 no arranque desta sondagem diária. Mas vai ser preciso esperar pelo menos mais um dia para perceber se haverá de facto uma nova tendência e qual será.
Há no entanto outros sinais, como a avaliação dos eleitores à prestação de cada líder partidário (saldo entre os que melhoraram e os que pioraram a sua opinião), a que vale a pena estar atento: Rui Rio continua a ter um saldo positivo, mas perde cinco pontos de um dia para o outro (+11,8). António Costa permanece em terreno negativo, mas melhora um ponto (-10,1)
Outro exercício fundamental, porque permite observar para além da espuma de cada dia, é fazer as contas ao que aconteceu ao PS e ao PSD desde o arranque desta "tracking poll": o cenário é razoável para sociais-democratas (ganharam dois pontos em 11 dias) e algo penoso para os socialistas (perderam cinco pontos no mesmo período).
PAN abaixo da barreira dos 3%
Não foram apenas os dois primeiros da corrida que se mantiveram relativamente sossegados. O BE subiu quatro décimas, para 9,5%. A CDU ficou rigorosamente igual nos 7,8%. O CDS desce três décimas para 4,2%. O PAN também perde três décimas, mas fica pela primeira vez abaixo da barreira psicológica dos três pontos, com uma projeção a nível nacional de 2,9%.
Quando se analisam os vários segmentos da amostra (idade, rendimento e região) percebe-se melhor o que pode estar a acontecer ao eleitorado dos animalistas/ambientalistas. Lembrando, como sempre, que esta análise deve ser lida com reservas, uma vez que são amostras com um número reduzido de inquiridos.
Comparando os resultados do quarto dia de sondagem (altura em que o PAN atingiu o topo, com 3,7%) com os desta terça-feira (em que toca no fundo), percebe-se que o entusiasmo só não quebrou entre os mais novos (18/34 anos). Daí para a frente está em perda. E continua sem apoio entre os mais velhos (55 ou mais anos). Nos escalões de rendimento, mantém-se o padrão de apoio mais entusiástico dos escalões da metade superior. Ao nível regional, ganha peso na região do Porto e perde na de Lisboa, ainda que bastante acima do que conseguiu há quatro anos, quando elegeu apenas André Silva.
Entre os partidos que procuram chegar pela primeira vez ao Parlamento, as alterações, sendo de décimas, têm um impacto maior. E a maior novidade é o regresso do Aliança a um resultado acima do ponto: 1,1% (o mesmo que marcava no arranque da sondagem diária). Também o Chega ganha um pouco de tração, subindo para 1,3%.
PS trocou Porto por Lisboa
Apesar da ligeira recuperação do dia, o PS está a passar pelo ser pior período. É útil olhar para o comportamento dos diversos segmentos (idade, rendimento e região), tomando como referencia os resultados do primeiro dia (quando marcava uma projeção de 40,6%), do sexto dia (metade do caminho, com 38,3%) e os números desta terça-feira (com 35,6%). Recorde-se que a análise se faz através da intenção direta de voto, sem distribuição de indecisos.
No que diz respeito à idade dos seus apoiantes, o PS começou com um cenário em que, quanto mais velho o eleitor, maior a intenção de voto, esmagando toda a concorrência nos que têm 55 ou mais anos. Com o passar dos dias, o apoio passou a distribuir-se de uma forma mais equilibrada, quer porque cresceu entre os dois escalões mais jovens, quer porque sofreu um rombo entre os mais velhos (o maior contingente e o que menos se abstém): baixou nove pontos percentuais.
Também no que diz respeito ao escalão de rendimentos os socialistas começaram com um quadro bastante linear: quanto mais pobre o eleitor, mais socialista. Onze dias depois, essa diferença esbateu-se, com o apoio nos dois escalões mais altos a rondar agora os 25 pontos e nos dois mais baixos a superar os 30 pontos.
Finalmente, no que diz respeito às regiões, o Porto deixou de ser a principal praça-forte socialista (perdeu seis pontos pelo caminho), para ser substituído por Lisboa (ganhou dois pontos, ainda que o percurso tenha sido mais acidentado na capital). Nas regiões Norte, Sul e Centro também sofreu um desgaste de entre dois e quatro pontos.
Indecisão é maior nos bloquistas
O número de indecisos volta a baixar e está nos 19% quando faltam seis dias para as eleições legislativas (chegou a atingir um pico de 26 pontos). Como sempre, as mulheres (20,3%) são mais indecisas do que os homens (14,9%).
Mas há um outro dado interessante sobre os indecisos, quando se analisa sobre a perspetiva do voto passado: são os que votaram BE há quatro anos os que revelam agora maior indecisão sobre o que fazer (18,8%). E foi sempre essa a tendência ao longo desta sondagem diária, ainda que com números bem mais elevados no arranque (quase 30% dos eleitores bloquistas de 2015 com dúvidas).
Entre o eleitorado mais à Direita (PSD e CDS concorreram coligados em 2015), os indecisos são agora 14,4%. Seguem-se os eleitores do PS (11,1%) e, finalmente, os da CDU (6,5%).
O número
81,3%
O PS pode estar a perder gás nas sondagens, mas isso não abala a crença de que será o vencedor nas urnas, a 6 de outubro. Nunca tantos apontaram à vitória socialista (81,3%) desde que se iniciou a sondagem diária da Pitagórica para o JN.