Os partidos políticos, da Esquerda à Direita, acusam o Governo de introduzir austeridade no novo Orçamento do Estado (OE). Paulo Mota Pinto, líder da bancada do PSD, afirmou que, no final do ano, os trabalhadores da Função Pública terão perdido "pelo menos meio salário". Eurico Brilhante Dias, do PS, ironizou: "Parece que acabaram as perguntas sobre contas certas".
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Mota Pinto - que fez a intervenção inicial social-democrata em substituição do líder, Rui Rio, ausente devido à morte do sogro - acusou o Governo de ter apresentado "o mesmo OE que foi negociado com a extrema-esquerda" em 2021. Para o deputado, o documento é também "um atestado da falta de coragem e vontade reformistas" do PS.
Paulo Mota Pinto também questionou se o primeiro-ministro vai "honrar a sua palavra" e aumentar o rendimento real dos portugueses ou se "tudo não passou de um logro". Não o fazendo, sugeriu que Costa arrisca a ser um dia visto pelo país da mesma forma que José Sócrates.
Para o líder parlamentar do PSD, as previsões de que a inflação atingirá os 4% são a prova de que os funcionários públicos "perderão, no final do ano, pelo menos meio salário". "A inflação é conveniente para as finanças públicas e é, na realidade, um imposto escondido muito regressivo. O Estado ganha, os trabalhadores do Estado perdem", acusou.
Desafiando o Governo a "deixar a semântica" de evitar apalavra "austeridade", pediu que se debata "a substância" do OE num contexto de subida de preços: "Reconhece que os portugueses vão perder poder de compra?", indagou, dirigindo-se a António Costa.
A primeira resposta chegou pela voz do líder parlamentar socialista, Eurico Brilhante Dias. Este realçou que as contas certas, antes uma bandeira da Direita, agora "deixaram de ser tema".
Já Costa acusou o PSD de ter sido contra o salário mínimo, ouvindo vários deputados laranjas a dizer que isso não correspondia à verdade. E atirou: "Eu sei que é chato dizer-se, mas é a vida".
Aumentar salários e pensões seria "ilusão", diz Costa
O tema do reforço dos salários e pensões voltaria a ser trazido a debate por PCP e BE. O primeiro-ministro argumentou que proceder a qualquer aumento neste momento seria alimentar "uma ilusão" que a inflação trataria de anular.
Jerónimo de Sousa, líder comunista, alertou que os 10 euros do aumento extraordinário das pensões "já foram comidos pelo aumento dos preços e ainda estamos em abril", reivindicando uma subida das pensões mais baixas em, pelo menos, 20 euros.
Considerando que "todos os problemas se agudizaram" desde que o Governo apresentou a primeira proposta de OE, o secretário-geral comunista insistiu que o "aumento geral dos salários", tanto no setor público como no privado, seria a receita para responder ao aumento do custo de vida.
Já Catarina Martins, coordenadora do BE, afirmou que, mesmo que a inflação seja transitória, existirá uma "quebra real permanente de salários e pensões", uma vez que os preços "não vão baixar". "Ninguém vai chegar ao supermercado em 2023 e ver os preços como eles estavam no primeiro trimestre de 2021", frisou.
A líder do BE afirmou que, para não sofrer uma quebra real de rendimento, um pensionista com uma pensão de 1000 euros precisava de um aumento de 40 euros. E atirou a Costa: "Os argumentos que lhe ouvi distinguem-se muito pouco dos argumentos de sempre da Direita".
Ucrânia: IL pergunta o que faria o PS se ainda houvesse geringonça
À Direita, o líder do Chega, André Ventura, defendeu que Costa "tem de reconhecer" que o OE traz austeridade, recordando que o ministro das Finanças, Fernando Medina, já admitiu que os portugueses poderão perder poder de compra.
Ventura insistiu que as opções do Governo obrigarão a um apertar de cinto tanto no setor público como no privado, ainda que "mascarada" pela "máquina de propaganda" socialista. Costa respondeu que o Chega alterou o discurso, deixando de acusar o Governo de beneficiar a Função Pública para passar a considerá-lo "o maior inimigo" do referido setor.
Já no entender de João Cotrim Figueiredo, presidente da IL, "ainda não é desta que Portugal vai crescer algo que se veja". O deputado desafiou o Executivo a regressar "à sua matriz menos marxista" no próximo OE, agora que "se viu livre das grilhetas" de PCP e BE.
O parlamentar liberal também quis saber se, caso ainda existisse geringonça, o Governo "manteria a sua aliança com o PCP" após a invasão da Ucrânia, no seguimento da qual o desalinhamento dos comunistas face às políticas da NATO passou a estar na ordem do dia.
Em resposta, António Costa referiu que o acordo entre socialistas e comunistas "sempre deixou muito clara a identidade de cada um". O antigo acordo parlamentar estabeleceu um "entendimento sobre o possível" e salvaguardou as diferenças que "sempre nos distinguiram" em matéria de Defesa e política externa, vincou.