Socialistas vão apresentar alternativa para um executivo madeirense após Albuquerque ter tido pior resultado de sempre. Ventura pede saída do social-democrata.
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Miguel Albuquerque venceu as eleições na Madeira com apenas 36,13% e 19 mandatos, ficando ainda mais longe da maioria absoluta do que em setembro. E o candidato do PS, Paulo Cafôfo, já anunciou que apresentará uma alternativa de governo, tendo dialogado com o Juntos Pelo Povo (JPP). A soma dos dois é de 20 eleitos e ultrapassa o PSD num mandato, mas para ter maioria no Parlamento são precisos 24 lugares, o que dificulta quaisquer cenários de governação.
O PS também vai falar com PAN, IL e CDS. Só exclui PSD e Chega. André Ventura exige a saída de Albuquerque, defendendo que “não tem condições” para governar e pede uma figura consensual.
Albuquerque reclama “uma vitória clara e inequívoca”, apesar de ter tido o pior resultado de sempre, e garante estar disponível para “dialogar com todos”. Defendendo que “o PS não é solução”, sublinhou que deixou o PS a mais de 20 mil votos e que a Esquerda foi “copiosamente derrotada”.
Marcelo demarca-se
Luís Montenegro, líder do PSD que foi também alvo dos apelos de Ventura, pediu “humildade democrática” aos derrotados. E acusou PS e Chega de “cúmplices no bloqueio dos governos”. “Quem ganha deve governar”, defendeu, notando que “os eleitores fizeram uma escolha e nem o PS, nem o Chega conseguiram melhorar”. Apela à formação de um governo minoritário, como o seu. Mas até João Jardim admitiu um acordo com o Chega, se não houver “outro remédio”.
Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa disse que não se sente responsável por nenhum “pântano político”, na Madeira, nos Açores ou no continente.
Há 47 assentos no Parlamento regional e são necessários 24 deputados para garantir a maioria absoluta. O PSD só conseguiu 19. O PS conseguiu agora 21,32% e 11 mandatos, falhando o objetivo de reforço no Parlamento. Mas Paulo Cafôfo diz que “estes resultados demonstram que é possível uma mudança de governo na região da Madeira”.
O JPP teve 16,89% e nove eleitos (em vez de cinco) e o Chega 9,23%, mantendo os quatro deputados. O CDS consegue dois e a IL e o PAN um deputado cada um, enquanto PCP e Bloco ficam fora.
Albuquerque tinha conseguido 23 mandatos em setembro, tendo falhado então a maioria absoluta apenas por um, o que o levou a fazer acordo com PAN. Mas este partido, a IL e o JPP já afastaram acordos com o PSD na campanha. Depois dos resultados, o secretário-geral do JPP, Élvio Sousa, reforçou que “o PSD está fora de questão” para negociar.
Após Albuquerque ter sido constituído arguido, o que levou a eleições antecipada, também o CDS pressionou o líder do Governo regional a renunciar. Ontem, o CDS manifestou-se disponível para dialogar com todos para entendimentos parlamentares que viabilizem o Executivo e o orçamento, mas reiterou que não faz coligações de governo.
Suspeitas de corrupção abriram crise política
A Madeira foi novamente chamada às urnas, oito meses após as eleições de setembro, devido à crise política desencadeada em janeiro. Miguel Albuquerque foi constituído arguido na Operação Zarco por suspeitas de corrupção. Entre outros, o autarca do Funchal, Pedro Calado, foi detido e renunciou ao cargo. Os três detidos foram libertados a 14 de fevereiro por falta de indícios criminais. O líder do Governo também pediu a renúncia, que oficializou a 29 de janeiro e foi aceite pelo representante da República, que ainda tentou adiar a saída para não atrasar o orçamento. O PAN, com quem o PSD tinha acordo, e o CDS, com quem se coligou, pediram a sua saída. O PSD entrou num debate interno para substituir a equipa. Albuquerque tentou evitar que Marcelo Rebelo de Sousa marcasse eleições antecipadas, mas o presidente ouviu, a 27 de março, o Conselho de Estado e dissolveu o Parlamento regional.