Probabilidade de ser pobre diminiu 7,8 pontos percentuais quando os pais têm um curso superior. Situação perante o mercado de trabalho continua a ser o grande preditor na variação do risco.
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As estatísticas anuais dão-nos um retrato da pobreza há muito conhecido - "Nós sabemos quem são os pobres em Portugal”, citando Alfredo Bruto da Costa: feminino, desempregado, com baixas habilitações escolares, com menores a cargo e monoparental. Com as crianças a serem o elo mais fraco. Porque a pobreza se transmite de geração em geração, num ciclo vicioso. E foi essa transmissão intergeracional que o Instituto Nacional de Estatística (INE) foi analisar, pondo a nu vantagens e desvantagens sociais. E se o risco de pobreza diminui em 7,8 pontos percentuais (pp) quando ambos os pais têm o ensino superior, o certo é que a condição perante o trabalho continua a ser mais preponderante para a variação dessa probabilidade de ser pobre.
A análise do INE cinge-se à faixa 25-59 anos e tem como referência o contexto parental dos inquiridos quando estea tinham 14 anos de idade. E dizem-nos que, em 2022, o risco de pobreza era de 17,3% e 17,2%, respetivamente, para aqueles cujo pai ou mãe não não tinham completado mais do que o atual ensino básico. Caindo para os 6,8% ou 8,6% quando o pai ou a mãe tinham o ensino secundário ou superior, respetivamente.
Inquérito esse que demonstrou, ainda, "que mais de 90% dos filhos de pais com níveis de escolaridade mais elevados (secundário ou superior) atingiram um nível educativo igual ou superior". Mesmo assim, "para aqueles com pais que não tinham completado mais do que o atual 3.º ciclo do ensino básico, mais de 50% têm hoje um nível de escolaridade mais elevado". De acordo com os cálculos do INE, filhos de pais com um curso superior veem a probabilidade de concluírem também aquele nível de ensino aumentar em 54,9 pp.
Condição perante o trabalho
No período em análise, aos 14 anos, o risco de pobreza era de 14% para as pessoas que viviam com um pai empregado, valor que subia para os 21,9% quando desempregado ou inativo. No caso de viverem com a mãe, a relação era de 13% e 17,6%, respetivamente. Por outro lado, também a nacionalidade pesa na probabilidade de ser pobre, com o risco de pobreza, em 2022, a ser superior quando o pai ou mãe tinham nacionalidade estrangeira: 25,1% e 25,5%, respetivamente, mais 11,4 pp e 11,7 pp do que se os pais fossem portugueses.
A composição dos agregados familiares é também uma variável a pesar, com o risco de pobreza a ser superior em 2,6 pontos percentuais nas pessoas que viviam apenas com um dos progenitores. Em Portugal, refira-se, são já 389 mil as famílias monoparentais, 88% das quais femininas. E, de acordo com os últimos dados, quase um terço estava em risco de pobreza.