De janeiro a novembro, cerca de oito mil pessoas foram hospitalizadas no domicílio, mais 19% do que em igual período de 2021. Aposta dos hospitais na telemedicina impulsiona expansão.
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Entre janeiro e novembro deste ano, 8069 doentes foram internados em casa, dos quais 1922 (24%) referenciados diretamente das salas de observação das urgências dos hospitais para o domicílio. Sem pressionar o internamento, reduzindo o risco de infeção e de morte e com menos custos para o SNS.
Há 33 hospitais e centros hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com programas de hospitalização domiciliária (HD) a funcionar, num total de 338 camas, mais 23 do que no ano passado. Entre janeiro e novembro último, a maioria dos doentes foi referenciada para casa quando estava nas enfermarias (4766) e em observação nas urgências (1922). As equipas avaliam estes doentes e se reunirem os requisitos para HD, não passam sequer pelo internamento, cumprindo todo o tempo de tratamento em casa, explica Delfim Rodrigues, coordenador do Plano Nacional de Hospitalização Domiciliária. Há ainda doentes internados em casa a partir da consulta externa (775) e do hospital de dia (61). E outros 545 que tiveram admissão direta.
Consultas à distância
Os dados disponibilizados pela Direção Executiva do SNS ao JN, extraídos da Administração Central do Sistema de Saúde, indicam que, de janeiro a novembro de 2022, a hospitalização domiciliária (HD) cresceu 19% em número de doentes internados face ao período homólogo de 2021. Além de uma melhor utilização da capacidade disponível (71% contra 63% no período homólogo de 2021), a HD aproveitou a boleia da telemedicina para se tornar mais eficiente e expandir-se.
No mesmo período, as visitas domiciliárias aumentaram 21%, ainda que as deslocações dos médicos tenham diminuído 32%. É aqui que entra a telemedicina, enquanto ferramenta que agrega voz, imagem e transmissão de dados clínicos em tempo real. À custa destas soluções, que explodiram durante a pandemia, os contactos não presenciais da HD cresceram 73% para quase 47 mil.
"O médico vai sempre a casa do doente uma vez por dia", garante Delfim Rodrigues, explicando que este "é o standard internacional", igual ao hospital. E depois acompanha à distância. "À tarde, o doente volta a ser visitado pelo enfermeiro que, em caso de necessidade, aciona o médico por telemedicina", explica. As visitas dos enfermeiros cresceram 14% para as 53 mil.
Em média, os profissionais levam 22 minutos nas deslocações e ficam 35 minutos em casa do doente. "Nenhum hospital garante isto", frisa o responsável, notando que o tempo é aproveitado também para educar doentes e cuidadores para a saúde.
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Norte interna mais
Todas as regiões aumentaram o número de doentes internados em casa. Do total (8069), a maior parte foi em hospitais do Norte (2916) e de Lisboa e Vale do Tejo (2322). A região Centro registou 1704 doentes em hospitalização domiciliária, o Alentejo 752 e o Algarve 375.
Recusas baixam 27%
As recusas para hospitalização domiciliária caíram 27%, de janeiro a novembro, face ao período homólogo de 2021. Totalizaram 7349, sendo que a maior fatia (3319) ocorreu por razão clínica. Por motivo social houve 1167 recusas (mais 6%) e por motivo geográfico foram 1011 (menos 35%). As recusas do doente/cuidador aumentaram 37% (830) e por falta de vagas 1,4% (643).
79 mil dias internados
O tempo médio de internamento dos doentes em casa foi de 9,9 dias. De janeiro a novembro, os 8069 doentes passaram um total de 79 181 dias em hospitalização domiciliária.
35 minutos de visita
As visitas de hospitalização domiciliária aumentaram 21,2% para um total de 102 903. O tempo médio de permanência dos profissionais de saúde em casa do doente foi de 35 minutos.
173 óbitos
Em 11 meses, morreram 173 doentes que se encontravam internados em casa. A taxa de mortalidade da hospitalização domiciliária é de 2,1%, menos de metade do que a registada em internamento hospitalar.
Podemos vir a tratar 600 mil no domicílio
Delfim Rodrigues
Coord. Plano Nacional de Hospitalização Domiciliária
Como é que se atraem hospitais, com graves carências de recursos humanos, para este projeto?
Com resultados. Face ao internamento no hospital, a hospitalização domiciliária (HD) tem menor taxa de mortalidade, menor taxa de infeção, menor probabilidade de reinternamento. E é 45% a 48% mais eficiente. Quanto aos recursos humanos, se o doente está em casa, não está no hospital, logo posso mobilizá-los. Quanto mais doentes trato em casa mais recursos posso canalizar do hospital para casa.
Entre os poucos que ainda não aderiram, três são ex-parcerias público-privadas. Porquê?
De facto, ainda nenhuma aderiu. Quando eram PPP não podiam, em termos contratuais, ser candidatas. E a passagem para o setor empresarial do Estado ocorreu num período difícil, de pandemia. Mas todas exprimem essa vontade e estou convencido que, em 2023, vão criar essas condições em termos de contratualização.
A Direção Executiva do SNS pode ajudar a HD?
Pode e muito. E pelo que nos dizem, é um programa absolutamente prioritário, pelo valor que representa para doentes e hospitais. Pelo perfil epidemiológico dos nossos doentes, em seis a sete anos, podemos estar a tratar 600 a 650 mil pessoas por ano em casa e isso representa 800 milhões de euros/ano para investir no SNS.