De janeiro a novembro deste ano foram registados 5,7 milhões de episódios. Mais de 40% são doentes não urgentes. O mês passado foi crítico, mas a procura abrandou em dezembro.
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É um mau indicador de saúde e de organização do sistema, mas está a crescer. De janeiro a novembro deste ano, os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) já atenderam quase mais um milhão de episódios de urgência do que no mesmo período de 2021. A antecipação da época dos vírus respiratórios fez disparar a procura das urgências gerais e pediátricas e, em novembro, atingiram-se recordes. Este mês, a afluência acalmou, o que poderá estar relacionado com o alargamento dos horários dos centros de saúde.
Nos primeiros 11 meses do ano, as urgências hospitalares acumularam um total de 5 713 133 de atendimentos, mais 991 167 do que no período homólogo, segundo os dados disponíveis no Portal do SNS. Um aumento de 21% que aproxima os valores totais dos registados em 2019, antes da pandemia. Naquele ano, até novembro, houve mais 140 mil idas às urgências do que este ano.
Olhando à atividade mensal, este ano, os maiores picos de procura fogem aos tradicionais meses de dezembro e de janeiro. Foram atingidos em maio e em novembro, ambos a somar mais de 578 mil episódios nas urgências. Novembro esteve ligeiramente acima (578 763), um valor que não se via, pelo menos, desde 2019, os dados mais antigos disponíveis na monitorização dos serviços de urgência do Portal do SNS.
O mês de dezembro já mostra um abrandamento da procura. Até ao passado dia 26, registaram-se quase 433 mil idas às urgências, menos 70 mil do que nos mesmos dias de novembro.
Culpa antecessores
A contribuir para aqueles números estão as chamadas "falsas urgências" ou episódios que poderiam ter resposta noutro ponto da rede, nomeadamente nos centros de saúde. Em novembro, 42% dos atendimentos foram triados com pulseiras verdes, azuis e brancas.
Anteontem à noite, em entrevista à SIC, o ministro da Saúde reconheceu que o país tem "uma situação crónica de excesso de afluxo às urgências", apontando o dedo aos antecessores. "A culpa não é das pessoas. A culpa é, porventura, de quem, como nós, organiza o sistema de saúde e ainda não criou um sistema fácil para as pessoas terem alternativa", disse Manuel Pizarro.
Para o governante, a abertura de centros de saúde com horários mais prolongados e com maior facilidade de marcação de consulta é "essencial" para reduzir a procura dos hospitais. Assim como é essencial mais literacia para que os portugueses recorram mais à linha SNS 24 e aos centros de saúde.
Desde o final de novembro que cerca de 200 centros de saúde estão com horários de atendimento alargado à semana ou complementar (fim de semana e feriados), mas o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar já veio considerar que o esforço está a ter pouco impacto na redução das urgências.
Atirando o balanço para o final do plano sazonal, Manuel Pizarro assinalou que, sem contar com o fim de semana do Natal que "é mais atípico", os centros de saúde deram cerca de 17 mil consultas aos fins de semana. "Admito que destes alguns milhares teriam ido às urgências desnecessariamente", calculou.