Queixa de familiares contra armador por negligenciar ajuda a tripulantes com covid
Participação entrou esta quarta-feira na capitania e seguirá para o Ministério Público. Um dos doentes em estado grave.
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Familiares de um dos tripulantes infetados com covid-19 no "Princesa Santa Joana" - o navio pesqueiro de Aveiro que estava ao largo do Canadá e teve de atracar no porto de St. John"s para evacuar um dos doentes em estado muito grave - apresentou, esta quarta-feira, na Polícia Marítima, uma denúncia pelo que consideram ter sido "negligência na prestação de cuidados a tempo". A queixa visa a empresa proprietária da embarcação, a António Conde & Cª Lda., e, por conseguinte, o armador, José Taveira da Mota, e também o capitão.
O comandante da Polícia Marítima, Silva Rocha, confirmou ao JN a entrada da "queixa formal" e afirma que tem recebido, ao longo dos últimos dias, "relatos" e "queixas" informais de famílias de tripulantes. A queixa será remetida ao Ministério Público.
O JN apurou que o tripulante em estado mais grave foi evacuado no domingo. Está internado num hospital em St. John"s, em coma induzido. Outros quatro tripulantes foram a terra para ser observados, mas voltaram.
Na base da queixa estarão diversos comportamentos desde que a embarcação saiu do porto de Aveiro, a 24 de junho, que terão contribuído para a gravidade da situação que se viveu a bordo.
Segundo relataram ao JN familiares dos tripulantes, sob anonimato, "cinco dias depois do navio sair já havia tripulantes com sintomas ligeiros" e cujo estado de saúde se foi agravando. Mas só a 9 de julho outra embarcação do mesmo armador, o Santa Mafalda, se aproximou com testes que confirmaram o surto de covid. "Foi definido pela empresa, pelo armador, que era uma gripe comum", informação que terá sido transmitida ao "capitão do navio", contam, revoltados, estranhando que não se tenha procurado logo confirmar a doença e dar a assistência adequada. A família, que diz estar a viver uma "angústia enorme", quer que sejam apuradas responsabilidades.
Outro navio do mesmo armador, o Santa Cristina, também tem tripulantes que manifestam sintomas de covid, embora ainda não exista um a confirmação oficial. Fonte do CODU (Centro de orientação de Doentes Urgentes) Mar disse ao JN que apenas tinha recebido, esta quarta-feira, um pedido de informação do comandante sobre o modo de realização dos testes.
Governo acompanha
Fonte do Ministério do Mar confirmou ao JN que o caso do Princesa Santa Joana está a ser acompanhando ali, mas também nos Ministérios da Defesa, Saúde e Negócios estrangeiros. Destes dois últimos não foi possível obter esclarecimentos em tempo útil. Também o Comando Naval está a acompanhar o caso, através do centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo, que também nada acrescentou ao comunicado que emitira aquando da deteção do surto no Princesa Santa Joana. Contactado, o armador José Taveira da Mota recusou falar.
Pesca
Redfish é espécie valiosa
Neste momento está em curso na zona NAFO (Organização de Pescas do Atlântico Noroeste) uma campanha de pesca do redfish, em que estava empenhado o Princesa Santa Joana (90 metros) e ainda continua o Santa Cristina (80 metros). Trata-se de uma espécie valiosa que pode ser pescada nesta altura do ano, com regras diferentes das habituais, em que cada embarcação tem uma quota fixada. Agora, há um total de capturas possíveis e cada barco pode levar o que conseguir, mediante a apresentação de relatórios diários de capturas que podem ultrapassar as mil toneladas.
Pormenores
Sintomas
Pelo menos 12 tripulantes apresentaram sintomas que levantaram suspeitas de se tratar de covid-19, nomeadamente tosse, dores no corpo, febre e diarreia. Terão começado cinco dias depois de saírem, a 24 de junho.
Evacuado de lancha
O tripulante em estado grave foi evacuado domingo, numa lancha, apesar do mau tempo. Está internado, em coma induzido, num hospital no Canadá. Outros quatro foram a terra receber assistência e regressaram à embarcação.