O presidente do Conselho de Administração do Hospital de Guimarães defende a mudança para um sistema focado na saúde e com profissionais remunerados por objetivos.
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Numa apresentação para os vereadores da Câmara Municipal de Guimarães, Henrique Capelas, presidente do Conselho de Administração do Hospital Senhora da Oliveira (HSOG) e membro do grupo encarregado de fazer o plano de negócios para a ULS do Alto Ave, defendeu que aqueles que se colocam contra este modelo “são os inimigos do SNS”. O administrador hospitalar falou, esta quinta-feira, na qualidade de convidado pelo presidente do Município, “para explicar a integração de cuidados de saúde aos vereadores”.
Sem nunca se referir ao caso particular do Alto Ave e falando da integração dos cuidados de saúde como um todo, Henrique Capelas afirmou que “trata-se de uma das reformas mais profundas do sistema de saúde em Portugal”. O gestor defende que, “na verdade, só houve uma reforma no país, em 2003-2004, quando se deu autonomia aos hospitais, para, logo de seguida, se retirar e voltar a centralizar tudo”. Para Henrique Capelas o que tem sido feito, ao longo dos anos, não são reformas: “O que temos tido são remendos. Nada de estrutural, vamos reagindo conjunturalmente”, afirma.
Mil estádios do Vitória
O presidente do Conselho de Administração do HSOG alega que “o atual modelo está gasto e gasta muito dinheiro”. Henrique Capelas diz que “a despesa anual em saúde inscrita no Orçamento Geral do Estado é de 14,5 mil milhões de euros”. Falando em Guimarães, fez uma metáfora com um edifício emblemático da cidade: “é como se construíssemos mil estádios do Vitória por ano.” Lembrou ainda que a este valor se soma a despesa privada em saúde: 6,7 mil milhões, pelas empresas e 8 mil milhões, pelos cidadãos. Henrique Capelas compara os 30% das despesas em saúde que os portugueses pagam do seu próprio bolso, com a média europeia, que é 15,4% e conclui que “é muito para o serviço que temos”.
Para este gestor, a solução passa pela integração de cuidados de saúde: a criação das Unidades Locais de Saúde (ULS). Porque, assegura, são um modelo centrado na saúde, “ao contrário do que temos que se foca na doença”. Henrique Capelas critica o atual sistema “baseado na produção de atos médicos”, em que os hospitais são financiados por aquilo que produzem. “Gabamo-nos de fazer mais não sei quantas cirurgias, quando o que devia ser um orgulho era fazer menos operações, sinal de que a população estava com saúde”, ironizou.
Poder dos lobbies
Henrique Capelas lembra que Portugal só gasta 1,8% do orçamento da Saúde em medicina preventiva e que há países europeus em que essa despesa chega aos 10 a 15%. “Mas, a medicina preventiva, que é barata, tem fortíssimos inimigos. A nível europeu, o mercado do medicamento vale 600 mil milhões de euros”, aponta.
O gestor elogia a coragem da direção executiva do SNS e do ministro da Saúde “contra as corporações” e afirma que as greves a que se tem estado a assistir “servem para tomar posição para o momento seguinte”. É que, de acordo com Henrique Capelas, “o grande problema desta reforma vai ser a uniformização das carreiras”. Isto porque, segundo a sua opinião, toda a reforma de integração dos cuidados de saúde depende de dois fatores: o processo clínico único e a remuneração dos profissionais por objetivos.
Relativamente à uniformização das carreiras, antevê um ano de 2024 com muitas convulsões, resultado das negociações que vai ser necessário fazer com os grupos profissionais. No caso do processo clínico único - um sistema em que a ficha do doente fica igualmente acessível aos profissionais dos hospitais e dos centros de saúde -, Henrique Capelas defende que a falta deste elemento pode ter contribuído para algum do insucesso de algumas ULS já existentes.