Rede solidária de medicamentos já poupou 24 milhões ao SNS em urgências e internamentos
O Programa Abem, que permite que as pessoas mais carenciadas consigam comprar medicação, já poupou 24 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) em episódios de urgência e em internamentos. Desde 2016, a rede solidária conseguiu apoiar mais de 30 mil pessoas.
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Com o intuito de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos portugueses, a Associação Dignitude criou o Programa Abem, uma rede para que todas as pessoas, independentemente da situação socioeconómica, tenham acesso a medicamentos. Estima-se que um em cada dez portugueses não consegue comprar a medicação prescrita pelo médico devido ao custo, o que corresponde a cerca de um milhão de pessoas.
"Fizemos um investimento de 7,5 milhões de euros, o que permitiu ao SNS poupar cerca de 24 milhões de euros em episódios de urgência e internamentos", explica, ao JN, Maria João Toscano. Para a diretora executiva da Associação Dignitude, os números evidenciam que, se houvesse uma outra gestão do dinheiro disponível para a saúde, os resultados seriam diferentes.
A avaliação de impacto social do Programa Abem revela que o acesso a medicamentos permite não só reduzir internamentos e episódios de urgência, mas também a necessidade de aceder a subsídios por doença e incapacidade no Sistema de Segurança Social.
Mais de 2 milhões de medicamentos
Desde 2016 até 2022, a rede solidária já conseguiu apoiar 31 mil pessoas, o que corresponde a mais de 17 mil famílias. "A maioria dos beneficiários não são pessoas desempregadas nem idosos, isto reflete muito daquilo que é a nossa sociedade", sublinha a diretora executiva.
Com a comparticipação de mais de dois milhões de medicamentos, o programa permitiu melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas, possibilitando que façam os tratamentos prescritos pelos médicos.
Além disto, promoveu o sentimento de inclusão. Com a utilização do cartão Abem, os utentes deixaram de ter que negociar formas de pagamento com as farmácias ou de pedir dinheiro emprestado para dispensar os fármacos de que necessitam. Cerca de 53% dos beneficiários afirmam que um dos aspetos mais importantes do cartão Abem é o tratamento digno.
Abrange 67,3% da população
O programa está disponível em todo o país, com presença em todos os distritos do Continente e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Abrange 67,3% da população e envolve 225 entidades e 1156 farmácias.
Os beneficiários são identificados através dos parceiros locais que integram a rede colaborativa, da qual fazem parte autarquias, instituições particulares de solidariedade social, a Cáritas, misericórdias, farmácias Abem. Depois de uma análise às condições económicas do proponente, e caso se verifique que estão numa situação frágil, é-lhes atribuído o apoio.
"Através de um cartão e de uma prescrição médica, podem ir levantar os medicamentos nas farmácias parceiras sem qualquer custo", explica a diretora executiva. O apoio não abrange medicamentos que não sejam comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde.
A iniciativa, apoiada pela Portugal Inovação Social através de Fundos da União Europeia, tem contado com os contributos dos parceiros e das doações da sociedade. A associação pretende fazer crescer o programa e ajudar cada vez mais pessoas. "Não vamos resolver o problema, mas temos que alertar a sociedade e o Governo para estas situações. Somos um país constituído maioritariamente por pessoas pobres", estima Maria João Toscano.